Páginas

04 agosto 2021

Um apelo curioso...

Ontem, numas 
"Cartas ao Director", 
que costumo ler no 
"Público", 
achei muita graça a um texto
da autoria de  um lisboeta que dá pelo nome de
Alexandre Delgado .
.
Com o título "Elogio dos bancos de jardim.",
deixo aqui este curioso apontamento"
.
Não há peças de mobiliário urbano mais importante para humanizar as cidades do que os tradicionais bancos de jardim. Essa benfazeja invenção do municipalismo do século XIX permitiu às pessoas passar a usufruir do espaço público: passar a sentar-se, repousar, ler, conversar, gozar o fresco ou apanhar o sol no meio da cidade. Com bancos confortáveis, as ruas, as praças e os jardins tornaram-se uma extensão do espaço privado: deixam de ser apenas locais de passagem e convertem-se em espaços fundamentais de convívio e de lazer. Infelizmente, esses bancos de madeira com encosto, tão simpáticos e ergonómicos, começaram a ser olhado  com desdém pelas correntes modernas e pós-modernas da arquitectura e do design a partir da década de 60. Nem Ribeiro Telles resistiu à tendência e foi um dos primeiros a bani-los e a trocá-los por rectângulos de cimento sem encosto, penosamente desconfortáveis, no maravilhoso jardim que desenhou para a sede da Fundação Gulbenkian.
.
Um banco de jardim
.
Ao fim de 70 anos, dir-se-ia que já chega. Um regresso gradual aos velhos bancos de jardim na cidade de Lisboa permite respirar de alívio e acreditar que a proscrição começou finalmente a ser ultrapassada. Mas acabo de me deparar com o exemplo oposto na Guarda. Embora se note uma melhoria sensível na urbe - com mais vida, mais juventude, mais reabilitação -, é possível constatar que continuam a prevalecer as manias obsoletas de designers em matéria de bancos públicos. Só encontrei paralelepípedos de granito ou cimento, todos sem encosto; nem os poucos que existem de madeira (como na renovada rua do Comércio) têm encosto e por isso ninguém se senta neles. Aqui fica um apelo exangue, em vésperas de autárquicas: devolvam a todos os portugueses o direito de se sentar gratuita e confortavelmente no espaço público.
Devolvam-lhes os bancos de jardim!
.
Alexandre Delgado
Lisboa  

1 comentário:

Olímpio Matos disse...

Completamente de acordo . Veja-se a Cidade de Castelo Branco em que no Passeio Verde tb os senhores arquitectos não deixaram um único banco antigo , não fizeram um único banco com costas e se limitaram a novos paralelipípedos de granito , em "apoio" a qualquer fabricante , mas não de certeza a considerar o bem estar dos nossos velhos (e novos ...) que, em noites de canícula , procuravam os velhos e cómodos bancos para um resto de dia menos quente e uma conversa amena com vizinhos e conhecidos . Modas que sempre me deram cabo do juízo porque nunca as entendi . Talvez a explique o tal totalitarismozinho que dizem existir em todos e qualquer um de nós . E que muitas vezes rebenta e vem ao de cima, como parece ser o caso .