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27 março 2021

Aí, valente mulher!!!

Recebi esta manhã uma mensagem que li com entusiasmo e muito sentimento pela coragem demonstrada pela autora, nestes tempos que correm, tempos estes que têem "defendido" uma "casta" de indivíduos que têm vivido e que continuam a viver à custa dos nossos impostos...
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Parabéns, Dr.ª Paula Helena Ferreira da Silva!... Pela sua coragem.
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Paula Helena Ferreira da Silva 
(em Outubro/1980) (*)
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Aí, valente mulher!!!

Mamadou ...

"A propósito dos insultos de Mamadou Ba ao povo português e à sua História, escreve Paula Helena Ferreira da Silva (Assistente Graduada de Ortopedia, Chefe de Equipa do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar do Baixo Vouga):

"Tal como o Sr. Mamadou, nasci em África. Não me corre sangue africano nas veias, mas a alma moçambicana habita em mim.

Fui expulsa do meu país sem hipótese de escolha, sem justificação, tão somente pela cor da pele, arrancada à força da minha família, da minha casa, dos meus conterrâneos.

Fui expulsa por pessoas como o senhor e os seus comparsas do SOS Racismo.

Roubaram-me o resto da infância e da adolescência, forçada a viver em hábitos e costumes diferentes onde só a língua me unia.

Durante décadas, senti-me deslocada, fui barbaramente vítima de bullying, mandada para a minha terra vezes sem conta apenas e só por ser retornada…

A ignorância não tem limites e retornada não sou, refugiada talvez, pois a nada retornei.

Nasci em África com muito orgulho e mantenho orgulho na História que me proporcionou que assim fosse.

Nasci na maravilhosa cidade de Lourenço Marques, a pérola do Índico, no fantástico continente africano, rico nas gentes e nos recursos, destruído por décadas de governos ditatoriais que o senhor tanto defende.

O senhor não sabe, mas em 1974, Moçambique era o produtor número um do mundo de algodão e cana de açúcar. Hoje, é um dos países mais pobres do mundo!

Os retornados foram a maior lufada de ar fresco a entrar em Portugal.

Ao contrário de si, os retornados e refugiados das ex-colónias, apesar de apenas trazerem a roupa do corpo e a alma carregada de tristeza e mágoa, trouxeram também a resiliência e transformaram a mágoa em trabalho e não em ódio e raros são os que não singraram.

Nada trouxemos na bagagem a não ser memórias. Tudo foi confiscado, queimado, dizimado. Mas ao contrário de si, a quem tudo foi dado de mão beijada, não nos vitimizámos, não nos encolerizámos, apenas trabalhámos! Trabalhámos e honrámos a Terra e as gentes que nos acolheram!

Não hostilizámos, não ridicularizámos, não confrontámos os Portugueses da metrópole! Apenas trabalhámos, com a resiliência que nos caracteriza, porque ao contrário de si, as nossas feridas não estão putrefactas e não destilam ódio, antes pelo contrário, emanam tolerância e compaixão.

Ao contrário do senhor, não recebemos subsídios, não recebemos apoios, o único apoio foram e continuam a ser as doces memórias.

Memórias de países maravilhosos ao qual um dia ansiávamos voltar, de gente humilde de sorriso largo e alegria sem fim, memórias do cheiro da terra molhada, do cheiro das gentes, das cores, de vidas simples.

Mantenho gravado o dia da partida e do choro de despedida de quem me criou e amparou e a isso, senhor Mamadou, chama-se Amor. Nós, Africanos brancos, sentimos amor pelos nossos conterrâneos, mas sei que para si não é amor, é racismo.

Sim, senhor Mamadou, ainda hoje sinto amor pelos meus conterrâneos, choro por eles e pelos vis ataques que sofrem em Cabo Delgado, que curiosamente, nunca o ouvi defender.

Em si só vejo ódio, intriga e difamação. O racismo não se combate com racismo!

O ódio não se combate com ódio!

Humildade e gratidão é coisa que não lhe assiste. E trabalho Sr. Mamadou? Não será por interesse que move esse ódio? É que esse ódio dá-lhe tachos e tachinhos e trabalho? As suas mãos não parecem ter calos e o seu sobretudo de caxemira não me parece second hand.

Senhor Mamadou, o senhor pode ter instrução, mas não tem educação.

Sou de uma geração em que fui educada a respeitar o meu país, Portugal, a minha bandeira, o meu hino, as minhas gentes, os meus heróis.

Tenho orgulho em Afonso Henriques, Vasco da Gama, Luiz Vaz de Camões, Padre António Vieira, Pedro Álvares Cabral e tantos outros que escreveram a nossa História.

A História não se apaga, não se reescreve, é um legado dos nossos antepassados, goste-se ou não, é a nossa História.

Quem é o senhor para a destratar? Ou será que pertence ao grupo daqueles, que por não gostarem dos pais e avós também os apagam?

Respeito, senhor Mamadou! Respeito! Em casa alheia não se diz mal do pão que é oferecido, porque, um dia, o pão pode acabar."

Fonte: O Observador"

NB *
No primeiro ano em que surgiu o 12ªAno, em Portugal (1980/81), fui convidado, como Professor do Liceu Nacional de Setúbal, a lecionar a disciplina de Biologia, na "Escola Secundária nº2", nuns "barracões" então erguidos ali próximo dos "4 Caminhos".
Numa das turmas que lecionei , a turma E, do 12ºAno, desse ano lectivo de 1980/81, tive como aluna uma jovem cujo nome "coincide" com o que assina  este bem dado "puxão de orelhas" a um sujeito que apenas se tem servido dos impostos que todos continuamos  a pagar-lhe, sob o "beneplácito" dos nossos governantes...
Nos anos que se seguiram, e através de Pai, ia tendo notícias dela sobre os seus estudos na Faculdade de Medicina e, uns anos mais tarde, na sua passagem pelo Hospital da Covilhã onde permaneceu alguns anos. Depois... depois perdi-lhe o rasto. Até hoje!... Dia em que verifiquei que a Paula continua a ser a Paula que eu conheci!...

2 comentários:

Unknown disse...

Está em Coimbra! Muito me ajudou com as complicações prematuras do Lourencinho... Uma pessoa espetacular que guardo com grande carinho!! Muito amiga da mãe!

Unknown disse...

Muito obrigada Dr. Matos
Bem haja
Boa Páscoa