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12 outubro 2018

Não era nada. Era a vida...

num poema de 
Pedro Homem de Mello
 a que o autor deu o título de
Início.
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Pedro Homem de Mello

.
Início

As horas pararam todas.
As horas pararam todas.
Só buliram os instantes!
As horas pararam todas.
Sombra de enterro ou de bodas
Nuas, públicas, distantes…
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Realidade? Promessa?
Realidade? Promessa?
Mistério? Seja o que for!
Realidade? Promessa?
Depressa, meu bem! Depressa!
Não vejo o teu rosto, amor!
.
O corpo disse que sim.
O corpo disse que sim.
A alma disse que não.
Ai! dos outros! Ai! de mim!
Era o princípio do fim
Da luz que as estrelas dão…
Contacto breve. Era pouco.
Contacto breve. Era pouco
Só buliram os instantes!
Contacto apenas… Tão pouco!
Breve… Tão breve! Tão pouco!
Mas era mais do que dantes.
.
Não era nada. Era a vida.
Não era nada. Era a vida.
Como evitá-lo e senti-lo?
Não era nada. Era a vida.
Flor pisada. Honra perdida.
Não era nada. Era aquilo!
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Era a vergonha suprema.
Era a vergonha suprema.
O desprezo universal.
Era a vergonha suprema…

Poetas! Era um poema
Que o mundo paga tão mal!
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Pedro Homem de Mello
in. "Bodas vermelhas" - 1947

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