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29 agosto 2008

Rendimento Social de Decepção...

Graça Franco
No “Público”
29.08.2008

Leia e…medite!
E não esqueça que o Estado colabora com isto!...
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"Recuso-me a admitir que um aumento de 437% no número de beneficiários nos últimos quatro anos possa ser normal."

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(…)
Razão tinha Saldanha Sanches no magnífico artigo que escreveu. Lembrei-me dele quando segunda-feira vi na RTP a reportagem da entrega de chaves de casas sociais em Loures. Uma mulher diz que é o dia mais feliz da sua vida. Vai receber a casa dos seus sonhos, onde pretende cuidar ainda melhor dos dois filhos. Fico contente por ela. Não acho que os direitos se agradeçam. E o direito à habitação condigna é um dos mais básicos. Mas
é isto que eu espero da aplicação dos meus impostos.
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Logo a seguir, outra mulher entra na nova casa e dispara um chorrilho de defeitos: é o tecto, o rodapé mal rematado, a existência de um único roupeiro, forçando-a a "guardar a roupa na rua" e a impossibilidade de encaixar" três pessoas em dois quartos". Ouço-a entre o pasmo e a indignação. Impossível evitar pensar que três dos meus filhos partilham entre si um único quarto... Impossível evitar pensar que aquela casa lhe foi entregue com os meus impostos (os nossos impostos!). E neste "nós" há um sem-número de pessoas que vive a pagar ao senhorio ou ao banco, sem direito a qualquer casa, talvez em condições bem piores - e ainda contribui para aquela casa de renda social. Gente que vai pensar, com toda a legitimidade, ser injusto andar a sustentar os sonhos de grandeza de quem espera que esses sonhos lhe caiam no colo. Como se só existissem direitos sem contrapartida em deveres. Como se a capacidade de ajuda do Estado, neste país, não tivesse limites
(…)

Com Saldanha Sanches partilho a ideia que "se não queremos favelas... temos de ter ou bairros sociais ou algum tipo de habitação subsidiada" mas não podemos ter "habitantes de bairros sociais que se dedicam à economia paralela, sem declaração de IRS e sem qualquer tipo de deveres". Não se pode tolerar que gente a viver do RSI alojada em bairros sociais e com as rendas da casa em atraso se queixe amargamente, como assistimos recentemente, de terem sido assaltados, perdendo haveres de que constavam plasmas e PlayStations!
(...)
Recuso-me a admitir que um aumento de 437% no número de beneficiários nos últimos quatro anos possa ser normal.
Recuso-me a considerar normal criar guetos onde a subsidiodependência é a única cultura.
Ou se busca a reinserção efectiva, ou o que se está a fazer é exactamente o oposto: a pretexto do combate à pobreza está-se simplesmente a investir na marginalidade.
Não é esse Estado Social que eu defendo.
E não quero deixar de defender o Estado Social.

Jornalista

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