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11 junho 2020

Num artigo recente..

que António Barreto
escreveu na sua página dos Domingos 
no Público
"respiguei" alguns pequenos excertos
que aqui transcrevo
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António Barreto
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"O primeiro-ministro tem o direito de convidar quem julgue que lhe é útil para o ajudar a pensar. Tem o direito de se aconselhar com quem quiser. 
(...)
Se, ao seu governo, falta ponderação para prever e inteligência para reflectir, é avisado que recorra ao exterior, à sociedade civil, à academia e às empresas.
(...)
Os seus governos parecem-se com reuniões de técnicos. Não que seja mau ser técnico. O problema é que não é isso que se pede a um político com responsabilidades perante o eleitorado e as instituições. Ora, os ministros nunca foram tão ajudantes como agora. E os secretários de estado tão adjuntos de ajudantes.
(...)
É provável que o primeiro-ministro se dê mal com o êxito de alguns dos seus ministros mais capazes. Acontece... Daí não vem mal ao mundo. A não ser que se ponha em causa o sistema de governo. Que é o que está a contecer.
(...)
Para a democracia, o sistema de governo é tão importante quanto as políticas, Há mesmo quem diga que são os procedimentos que preservam a democracia. Há razão nisso. Basta pensar no que seria uma boa política, mas sem liberdade nem democracia. É aliás essa uma das grandes ambições dos candidatos a ditador. Ou, então, pensemos numa irrepreensível democracia, respeitadora dos direitos e do direito, mas com más políticos e muita corrupção.
(...)

António Costa pode também ter o seu estilo. Mas tem de respeitar os seus ministros e as suas competências. Ao requisitar os serviços de uma pessoa exterior ao Governo, mesmo se excepcional e talentoso, como parece ser o caso. o primeiro-ministro está a dizer aos seus ministros:
"Ocupem-se de bagatelas, do trivial e do curto prazo, porque do essencial vou ocupar-me eu e os meus conselheiros."
Com a excepção de um punhado de ministros, o Governo está reduzido a directores de serviços. Ou gestores do produto. Mais de metade do Governo nunca se exprimiu publicamente sobre o que quer que seja, o mundo, a paz, a Europa, a sociedade ou o Estado. Pelo menos dois terços dos ministros nunca se lhe ouviu uma só palavra sobre a política, a economia ou a cultura! Já sobre os seus pelouros, os seus planos, as suas características e as suas portarias, parecem papagaios com mestrado, falam, falam, parecem o Diário da República.
Descobrimos um primeiro-ministro estranho, com receio da importância dos seu ministros.
(...)
etc... mas ficamos por aqui.
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Este texto surgiu no suplemento dominical
do Público, de 07.06.2020

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