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22 novembro 2018

A chicuelina...

...é uma encenação enganosa.
...num artigo escrito por
Eduardo de Oliveira e Silva,
na sua coluna do jornal i, ao qual deu o nome de
"A chicuelina de António Costa, "el toreador"
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A história do IVA das touradas e da suposta divergência no PS 
sobre o caso cheira a manobra concertada para desviar as 
atenções do verdadeiro conteúdo do Orçamento
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Eduardo de Oliveira e Silva
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1. Antes do mais, convém esclarecer que a chicuelina é um lance de capote com que os toureiros chamam o touro e depois o fintam (que desculpem os aficionados pela simplificação). Com esse lance, o diestro engana ou ilude o touro de forma a não ser colhido. Na prática, é uma encenação enganosa. Exatamente como o foi a encenação que Costa, César e o PS armaram a propósito do IVA das touradas. Quando perceberam que a polémica estava para durar, depois de a ministra ter dito que a não descida do IVA das corridas de touros tinha a ver com uma questão de civilização (ou seja, considerando incivilizados os aficionados), os socialistas exacerbaram artificialmente o agravamento das divisões que a questão efetivamente suscita em todos os setores de opinião e de política. E, assim, Carlos César anunciou que o grupo parlamentar do PS ia apresentar uma alteração à proposta do governo, amansando desde logo pessoas como Manuel Alegre, desenvolvendo a ideia de que no espaço dos socialistas reina a maior liberdade. Já António Cota (sic…) vinha a público dizer que, se fosse deputado, votava contra a descida do IVA das touradas. Com esse lance de capote, Costa e César conseguiram que a discussão do Orçamento tivesse globalmente menos espaço quanto às suas centenas de outras disposições (como pensões, impostos, taxas e taxinhas) do que a questão taurina. Os portugueses ficaram a saber tudo sobre touradas e nada sobre o Orçamento, que é uma carta fechada que Centeno irá gerir como muito bem entender nas barbas do país, como nem o professor de Santa Comba Dão fazia com as suas cativações da época. O mais estranho é que a manobra resultou plenamente na comunicação social e no núcleo de comentadores políticos do país, que se limitaram a quatro temas durante a semana: a detenção circense de Bruno de Carvalho, a questão dos touros, o Brexit e uma organização meio estranha e violenta que supostamente se dedica a retirar animais maltratados aos donos e instituições de guarda e que alegadamente teria ligações ao PAN. Nada como empolar umas questões para ocultar outras. Nisso, os socialistas são mestres desde que Sócrates passou por lá e deu formação à maioria dos que lá mandam agora.
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in "Jornal i"
de 20.11.2018

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