Páginas

30 junho 2013

Os velhos...

...é o título do artigo de Opinião que Vasco Pulido Valente nos deixou no seu espaço do "Público", publicado esta manhã.
.
Vasco Pulido Valente

Os velhos
.
Um dos grupos sociais que tem pago e sofrido mais com a crise é sem dúvida o dos reformados; e o governo usa e abusa dele como não usa e abusa da população activa. Isto já vem desde 2005-2006 e continua imperturbavelmente na balbúrdia de hoje. Esmagar os fracos nunca foi um plano de batalha muito difícil de perceber, nem infelizmente muito impopular.
Desde o inominável eng. Sócrates (que, esperemos, não voltará) ao iluminado sr. Gaspar, nem um único ministro resistiu à atracção de espremer a massa inerte dos reformados. Que suportavam e suportam tudo, perante a indiferença dos partidos políticos, da imprensa, da televisão e da opinião pública, que tanto se aflige com as ameaças do desemprego juvenil. Os jovens merecem uma vida, mas parece que os velhos não merecem nada.
O Dr.João Salgueiro sugeriu outro dia que os reformados fizessem um sindicato deles. Não percebeu, com é óbvio, a manifesta impossibilidade do exercício.. A primeira praga dos velhos é o isolamento. Sem amigos, nem camaradas, porque uns morreram, ou estão doentes no hospital ou em casa, ou vivem numa miséria tão profunda que ficaram sem força para resistir. De resto, os poucos privilegiados, a quem sobra um vestígio de energia e de indignação, perderam o lugar por excelência para se encontrarem ou organizarem: o lugar do trabalho. Aos vários governos, que nos trouxeram à presente desgraça, não escapou esta impotência essencial. E a troika, que teme distúrbios, concorda alegremente com a receita. Se um belo ano morrermos todos simultaneamente, haverá uma grande festa nas Finanças.
Entretanto, se a pensão não chegar ou diminuir para além do tolerável, os velhos, tirando uma pequeníssima minoria, não conseguem, como os jovens, encontrar trabalho. Mesmo fortes, mesmo lúcidos, mesmo competentes e, às vezes, competentíssimos, ninguém os quer. Pior do que isso: no bom tempo, os velhos mereciam o respeito da generalidade da populaça. Agora, não. A deferência e a delicadeza com que eram tratados desapareceram e, no lugar delas, apareceu uma arrogância e um desprezo, uma espécie de ironia perversa que os põe firmemente à margem como se eles não tivessem também o direito de viver. E, segundo Passos Coelho, um perene jovem, e os seus sócios na “Europa”, de facto não têm. Esse minúsculo bando que nos pastoreia prepara em público e com boa consciência da loucura um plano para o extermínio democrático dos velhos. E nós, claro, marcharemos sem um pio para o nosso destino.
.
É bom que começemos a pensar nestas palavras de VPV... Parecem de brincadeira, mas reflectem o pensamento dos "crápulas" que nos governam!!!... Onde é mole, eles calcam...

Sem comentários: