Na
Segunda página, uma outra expressão maravilhosa da Princesa, agora num preto e
branco, que a mostra sentada no chão, de mãos postas, envergando uns jeans, um
simples camiseiro branco e com os óculos no alto da cabeça, emoldurando um
rosto de expressão radiosa...
Por
cima, um título a toda a largura, num destaque:
“Tenho a casa cheia de lágrimas” Era assim que começava um poema homenageando Vinícius de Moraes, no dia da sua morte. Hoje, apetece dizer que temos um mundo cheio de lágrimas. A morte de Diana não deixou ninguém indiferente, no mais recôndito canto do planeta. E tudo porque a princesa, para além da sua indiscutível beleza, simpatia e simplicidade, foi também uma pessoa que soube utilizar os meios à sua disposição para se empenhar em diversas campanhas humanitárias.
Diana tornou-se grande, muito maior que o
seu ex-marido, o príncipe Carlos, e passou a ser uma cidadã do mundo. Por isso,
políticos de todos os quadrantes adoravam ser fotografados ao lado de Lady Di.
A princesa era hoje tão conhecida como o Papa, Bill Clinton ou Nelson Mandela e
não será possível aos historiadores ignorarem no futuro a existência da antiga
educadora de infância que veio a casar com o sucessor da coroa britânica. Só
isso explica aliás não só as manifestações de pesar vindas de todo o mundo,
como o facto de no reino Unido terem sido canceladas todas as manifestações
desportivas e as televisões terem também suspenso toda a sua programação, algo
só possível quando a pessoa em causa se tornou um dos símbolos a nação.
Como atingiu Diana este estatuto? Como
passou da menina envergonhada que casou com o príncipe Carlos para a mulher
segura, que abraçou causas difíceis e
tomou posições públicas embaraçosas para o Governo e a Coroa britânicas? Como
se tornou na mulher mais mediática do planeta? As explicações residem
certamente no caminho que foi trilhando, nas acções que foi desenvolvendo, na
dignidade da personagem que encarnou, mas também no “flirt” constante que havia
entre ela e os operadores de câmara e os fotógrafos.
O reverso deste namoro era a perseguição impiedosa de que era alvo por parte dos “paparazzi”, desejosos de obter um instantâneo da princesa ou, se possível, dos seus amores. Foram eles a causa involuntária da morte de Diana, juntamente com os responsáveis das revistas e jornais de “affaires” amorosos que lhes compram as fotos. Mas não os únicos. O público, no seu “voyeurismo”, no seu desejo de ver como vivem, amam e se divertem os poderosos, também é culpado desta morte. É ele que, em última instância, alimenta este jornalismo de sargeta, enquanto a imprensa séria luta com dificuldades diárias para sobreviver. Também em Portugal, quatro revistas do coração vendem um milhão de exemplares, contra menos de 400.000 de quatro diários e dois semanários. É nisto que todos devemos meditar.”
A jornalista
“Gostava
de ser a rainha do coração das pessoas. Alguém tem de se aproximar delas,
amá-las e mostrar-lho”, disse Diana em 1995. E contava com um trunfo que soube
usar, até mesmo manipular. Se era a mulher mais fotografada do mundo, por que
razão não haveria de aproveitar o encantamento a seu favor?
Na página 5, quatro fotografias bonitas da
princesa e um texto sob o Título: “A mulher mais fotografada” que dizia: “Foi a
mulher mais fotografada do mundo. Em dias normais -- disse numa entrevista --
costumava ser seguida por quatro carros e esbarrava com seis fotógrafos
saltando à sua volta, ao entrar no automóvel
Quantas vezes nos recordaremos dela e de
quantas formas diferentes, como os doentes, os moribundos, as crianças, os
necessitados... quando mesmo só com um olhar, ou um gesto, que dizia muito mais
que com palavras, ela nos revelaria a todos a profundidade da sua compaixão e a
sua humanidade?
Sinto-me hoje como todos os cidadãos deste
país: completamente devastado!
O
que abateu Raymond, o “alcoólico, de 48 anos à porta da Abadia de Westminster,
foi a primeira frase. Não que a desconhecesse. Sabia-a até de cor: “Goodbye
England’s rose”. Mas só no momento em que Elton John a cantou ontem, perante a
maior e mais silenciosa plateia, percebeu o vazio da sua vida. Até então
sentira apenas dor. “Durante estes dias, estive de luto. Agora só penso na
ausência de Diana”.
Tudo o que Raymond disse soou a patético.
Afinal, não conhecia Diana de lado algum. Nem ele nem as centenas de milhares
de pessoas que fizeram questão em assistir, em Londres, ao seu funeral”.
...os casais abraçaram-se e os rostos
esconderam-se em lágrimas. E, em silêncio, ouviram a canção, com a letra
adaptada de “Candle in the wind” que Elton John escreveu para Marilyn Monroe e
interpretou, ao piano, na abadia.
“Your candle’s burn out long before your
legend ever will” (A chama da tua vela apagar-se-á muito antes da tua lenda...)
...em Whitehall também não se via nada. E
mais uma vez os rádios saltaram dos sacos e das mochilas, para se ouvir o
surpreendente discurso que Charles Spencer fez, em directo para 2,5 mil milhões
de pessoas. O irmão de Diana, que subiu ao púlpito de Westminster para a
homenagear, deu uma bofetada na realeza.
Disse ele que Diana não precisou de um
título (aludindo à fórmula Sua Alteza real que perdeu com o divórcio), para ter
“um toque de magia”. Ou seja, que os títulos não servem para nada à
família real, se não forem acompanhados por atitudes humanas e simpáticas.
Diana, afirmou, era assim e assim devem ser os seus filhos.
O irmão de Diana fez um discurso político,
que foi aplaudido por todos os que assistiram ao funeral, dentro e fora do
templo. Por duas vezes. Primeiro porque nas ruas estava o povo que, durante algum tempo vai ter na memória que a
semana que passou não foi só a da morte de Diana. Foram também dias de
crítica a uma monarquia vergada à
solenidade, que o povo aconselhou a aprender a ser espontânea.
Depois, porque a maior parte dos convidados
a assistir às cerimónias na Abadia de Westminster eram amigos de Diana. Pessoas
modernas como ela, entre outros, os criadores de moda Valentino e Karl
Lagerfeld, os músicos Sting e George Michael, o tenor Luciano Pavarotti, que só
não cantou por excesso de emoção, os actores Tom Cruise e Nicole Kidman e o
patrão da Virgin. Por alguma razão já se chamou à ocasião “o funeral ‘pop’ de
Diana”.
E até parecia. Findas as cerimónias religiosas, centenas de milhares de pessoas invadiram os parques públicos de Londres. Alguns, simplesmente, não conseguiam abandonar o sítio onde, pela última vez, viram a sua princesa...
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