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26 julho 2022

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar

25 julho 2022

Uma passagem por Oleiros...

Oleiros,
em 11/07/2000

Primas Romões

        Saio para estrada às 10h 30m e vou direito à Ponte Vasco da Gama. Tinha resolvido ir direito a Oleiros e tentei experimentar o IP6. Pouco depois rodava na A1. Ultrapassei  as saídas para a Azambuja e Santarém para atingir, mais adiante, a saída de Torres Novas. Percorri o IP6 quase até Abrantes. É uma estrada magnífica com uma estrutura igual a Autoestrada. Saí, no Sardoal, com rumo a Vila de Rei, Sertã e Oleiros. Até depois de Vila de Rei a Estrada é do estilo de um IP mas antes e depois da Sertã a estada continua uma "trampa" com as mesmas curvas que por ali havia há muitos anos... Andei perdido na Sertã porque aquela “Câmara” continua a prejudicar as saídas para Oleiros... Não havia uma indicação decente...

        Já em Oleiros, subi pelo Ramalhal e estacionei na rampa junto do Prontinho onde almocei. Eram quase duas horas... Na mesa do centro um grupo de “cidadãos” engravatados, no meio dos quais o Presidente da Câmara.  Subi as escadinhas lá para cima, no meio de um grupo onde ouvi uma voz brasileira. Uma jovem morena com o filho pequeno ao colo desviou-se um pouco quando alguém lhe disse que eu queria passar... É claro que eu estava sem pressa nenhuma! Podia muito bem subir também nas calmas, no meio do grupo... Mas quiseram ser gentis a ponto de a rapariga, muito gentil, me pedir desculpa por estar a obstruir a minha subida... um pouco mais rápida. Só então ouvi a sonoridade e o sotaque daquela voz tão doce... E logo me lembrei da Malú do Planalto! O que é que lhe teria acontecido?!

        Comi Maranhos. Um doce e um café... com um cheirinho de Medronho.

        Eram quase três horas quando saí. Subi a rampa onde deixei o Clio e entrei no Outeiro para inflectir para a rua Padre António Andrade. Ao passar pela casa antiga reparo que no rés do chão já funciona a loja nova do José Dias. Entrei e falei um pouco com ele. Depois entrei no café para tomar outra bica. Estavam as filhas do Zé Boaventura e logo a seguir a mulher do Zé estava ali, fora do balcão, a falar comigo e admirada por me ver ali. Mandou uma das filhas chamar o marido que, segundo me disse depois, já entregou a gerência do Café às filhas. Enquanto o Zé não chegou conversei com a mulher que me deu informações sobre as pessoas que eu queria contactar.

        Fiquei a saber que o primo Francisco Romão estava por lá. Que tinha falecido há duas ou três semanas em Viseu, a Clotilde, mãe da Ana Máxima, em condições muito precárias... Não lhe bastou a morte da Ana Máxima e a “vida” do Arnaldinho... Ainda por cima os filhos deste se meteram na droga e deram cabo do resto que a avó teria...

        Disse-me ainda que a Guiomar tinha tido uma trombose, mas isso eu já sabia... O que não sabia é que a Arminda também tinha tido um Acidente Vascular Cerebral e a Aura teria tido uma coisa semelhante e estaria agora em Tomar, numa Casa de Saúde... 

        Quando falava comigo, a mulher do Zé informou-me que o Tó tinha acabado de chegar. Na verdade, um rapazão de trinta e poucos anos acabara de entrar com a mulher e foi chamado ao pé de nós... Era um dos filhos da Gracinda e do prof. Matos. Não o conhecia já... Apenas conheço, e mal, uma das irmãs, a Ana que estudou em Castelo Branco e esteve em casa do Olímpio nessa altura. Falámos um pouco e acabou por me apresentar também o filho do Zé Fernandes, da mesma idade e com um físico que nada deve ao corpo do Pai quando tinha a idade dele...

        O Tó contou-me coisas sobre a família... mas ele já está habituado àquele “espectáculo” porque entra nele todos os dias...

        Depois chegou o Zé Boaventura e falámos outro tanto. Só então voltei à Devesa para ir buscar ao carro o Livro de Curso de Direito que o Dr. Francisco Romão ofereceu ao meu Pai, em 1935, quando se formou. Levei também uma colecção dos Jornais “50 Anos” que fiz no ano passado, onde está o artigo sobre o Dr. José Maria Mendes. Ofereci-a também ao Dr. Francisco... mas estou em crer que ele não volta a olhar para aquilo...

        Trouxe o Clio para junto da casa das primas. Quando estava a sair do carro chegava também o Tó e a mulher... Não sei porquê lembrei-me da D. Maria Luísa... Mas há uma diferença abissal entre a mulher do Tó e a mulher do primo Francisco!!  Aquela vive no ano 2000... é toda prá-frentex... porque todas as raparigas agora são prá-frentex... Bonitas... alegres... simpáticas... muito dadas... estando-se nas tintas para as conveniências e para a moral dos outros!!  Difícil... difícil... era mesmo ser-se tudo isto e viver-se em 1945!!!... E a Dona Maria Luísa era tudo isto e fazia tudo tão naturalmente que até nós, os miúdos de então, não achávamos nada mal as coisas que ela dizia ou fazia e, eventualmente, poderiam por de rastos as normas éticas daquela família austera e muito conservadora!

        A Dona Maria Luísa, a mãe da Belisa que eu nunca mais vi, faleceu no Porto há pouco mais de um ano. Mas tenho na memória a imagem daquela bela mulher quando ela teria trinta e poucos anos! E ainda bem que tal sucedeu...

        O mesmo não posso dizer das cunhadas dela, mulheres novas e bonitas... mulheres cheias de interesse... meninas prendadas... em 1945... Aquilo que eu vi hoje quando entrei naquele casarão que encerra uma boa parte da minha memória não pode ser traduzido...

        Estive na salinha de estar, onde eu “era obrigado” a rezar o terço todas as noites, em grupo, com uma delas a “comandar” de rosário na mão, com a Guiomar, a Hermínia, e a Arminda. O Primo Francisco também lá estava.

        Uma tristeza! A Guiomar, a mais nova e a mais bonita... a que foi Presidente da Câmara pelo CDS, a que teve o desgosto de ver o apaixonado de então, o Dr.Ilharco,  casar-se com a sobrinha (Ana Máxima)... está uma velhinha! Mais velhinha que as irmãs mais velhas... Achei-a agora muito parecida com a Mãe, a Prima Teresa...

        A Hermínia está velhinha... mas continua igual à Hermínia de então! Franzina... a mesma voz... os mesmos olhos. Os cabelos agora brancos e uma saudade dos tempos idos estampada em todas as suas palavras... Já nem choraram os olhos quando pousaram nas fotografias que lhes levei... Devem ter-lhes secado as lágrimas com tanto sofrimento passado nos últimos anos.

               Numa estante, embutida na parede, junto de uma fotografia, que faz parte da minha memória há muitos anos, e em que ressalta a figura do primo Artur Romão, o patriarca daquela casa, que se deixou retratar sentado numa cadeira de encosto; uma outra fotografia ali permanece, a do Cónego Augusto Romão...

Dizem-me que a Arminda teve um qualquer AVC. Não parece nada! Para lá da idade que tem, quase noventa anos, foi a única que conversou comigo com mais “fio de conversa” e me contou um pouco daquela casa... tão alegre em tempos e agora tão soturna e tão triste... Recordámos, com ela a dar o mote, algumas patifarias que as primas nos faziam quando, no verão, passávamos por lá as férias... E foi ela a recordar, pela primeira vez que eu me lembre, da causa que levou ao arrefecimento das relações que todos tínhamos uns com os outros. Falou expressamente, sem papas na língua, mas com uma mágoa forte  e uma ternura entrelaçadas, na imposição feita pelo tio cónego de não achar bem que dois rapazes frequentassem tão assiduamente aquela casa onde só havia raparigas... O “estupor” do velho padre!! Que viu maldade num convívio são de mulheres feitas, de mulheres sérias, de mulheres educadas e dois rapazolas o mais velho dos quais teria 16 anos!!

        A memória longínqua dos tempos pode regressar agora para nos interrogarmos, como então o teríamos feito, sem sombra de maldade, sobre a circunstância de um tio cónego, velho e mal formado... “exigir” que duas das suas sobrinhas fossem ficar em casa dele, no Outeiro, quase todas as noites?

        Só à saída estive com a Celestina... Mais valia que a não tivesse visto! Lembrei-me da minha Mãe. Eram quase da mesma idade. A minha Mãe mais velha um ano... ou talvez dois... Mas que diferença! A minha Mãe viveu até ao fim!!...A Celestina já não vive há muitos anos...

        Despedi-me. Disseram coisas bonitas nas despedidas...

        Fiz força para conter as lágrimas... antes de sair daquela casa! Aquelas primas, com certeza, não mereciam este fim de vida...

        Depois, e sempre a pé, fui fazer uma romagem de saudade!

        O primeiro a ser visitado, por indicação do Zé Boaventura, foi o Leonardo Pereira Rei, filho do Artur Rei. Papelaria na Devesa que já “passou” à mulher e à filha. Ao lado ele tem um escritório de Seguros, entre eles a AXA.

        Falámos de gente amiga e foi bom que o tivéssemos feito. Depois fui ver do Celestino. Não estava mas estava a Lisete que me disse que a Ilda e o Quim estavam por lá. Estavam em casa da Fernandita que também tinha vindo a Oleiros. Como eu ia à procura do Tonito Guimarães, um dos filhos do Sr.Júlio, que tem uma casa de pneus lá para a estrada que vem de Castelo Branco, e a casa da Fernandita é também para aqueles lados, resolvi fazer as duas visitas. Só que o Tonito não estava cá em Oleiros.

        Ao lado das instalações dos pneus há uma rua que sobe e que tem duas moradias no lado esquerdo de quem sobe. Em frente da primeira estava estacionado um carro à sombra. Era o carro do Quim... Toquei à campainha mas ninguém atendeu! Só então olhei para cima e vi o Quim no jardim da vivenda a seguir. O carro dele só estava aproveitando a sombra.

        O João Ramos estava de partida para Castelo Branco. A Mãe dele está no Hospital. Teve um AVC... mas está a melhorar.

        Fiquei por lá durante um pouco da tarde e foi então que a Ilda, de conluio com a Fernandita, me convenceram a ficar lá em casa esta noite, em vez de ir para Castelo Branco e ter de regressar de novo amanhã de manhã.

        Eu ainda não tinha terminado as visitas da minha Romagem... Faltava o Augustito do Cabeço a quem tinha trazido umas garrafas de Moscatel. Vim para a Vila no carro do Quim que, antes, quis fazer umas voltinhas até ao outro lado da ribeira. Estivemos na Senhora das Candeias para depois irmos ao Ribeiro da Serra, cuja casa antiga está uma ruína e regressámos à Vila pelo Ramalhal, tendo-me deixado na Praça, perto da casa das Primas Romões, onde eu ainda tinha o carro. Só então fui a casa do Augusto de Matos. É claro que ele e a Isabel fizeram força para que eu lá jantasse. Mas eu já tinha o jantar em casa do Celestino. O neto da “produção independente” faz hoje dois anos e há festa lá em casa! Não podia dizer que não... Nem eu queria dizer!! Só que não podemos jantar em três sítios ao mesmo tempo e temos de escolher... Desta maneira, o Augusto quis que eu provasse o vinho dele e comesse um presunto que foi buscar e cortou ali mesmo à minha frente...

        Uma delícia! Tanto o vinho como o presunto!... E tanto mais saboroso ficava quanto mais ele ia avançando na explicação do processo de o preparar! Além do sal... o processo mete também aquele vinho bom que estávamos  provando.  É claro que esta prova demorou mais do que o previsto. Quando cheguei a casa do Celestino já estava quase toda a gente... E a sala, lá no primeiro andar ficou cheia bem depressa. A mesa... essa estava carregada de comida, de doces, de bolos, de petiscos. Os vinhos também não eram maus... Abanquei com o Celestino e um amigo dele tão amigo de falar como amigo de beber... Está reformado da Estiva. Conhece meio Portugal e regressou às origens, reformado, há sete anos. Não me pareceu que aguentasse muito porquanto aquela febre de falar devia ser espevitada pelos...copos! No fim, o Celestino não deixou que ele fosse sozinho para casa...

        Acabada a festa, com o puto pequeno a apagar a vela do bolo de anos, regressámos à vivenda do João Ramos que entretanto tinha voltado de Castelo Branco com melhores notícias sobre a Mãe. A noite estava magnífica com uma lua quase cheia e uma ou outra nuvem muito dispersa passando sobre ela. Ali num pequeno terraço junto à porta lateral da casa nem se fazia sentir o fraco vento que fazia. E a conversa foi até às duas horas da manhã... Depois a Ilda e o Quim foram ficar a casa da Mãe da Fernandita e eu dormi como um anjo num verdadeiro quarto de hotel... O silêncio era absoluto!

        Esta noite, as festas da Vila decorreram na área da Piscina! Era a noite da Espuma... Imagino... Nem ao longe se ouvia a música! O vento fraco que se sentia devia soprar a nosso favor...

23 julho 2022

Humor antigo...

 ...com o traço de 
Vilhena
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O sr.doutor acha que fiquei parecida?...

22 julho 2022

A pintura de Graça Lagrifa...

Foi Graça Lagrifa quem escreveu:
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"Já tinha saudades de pintar. Teve que ser e o tema de hoje é de uma jovem etíope, através da lente de @ericlafforgue."
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Uma jovem etíope... 

20 julho 2022

Maria de Lourdes Modesto...

... faleceu ontem.
Grande defensora da cozinha portuguesa e referência absoluta da arte de comer, em Portugal.
Morreu ontem com 92 anos.

Maria de Lourdes Modesto
(1930-2022)
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Antes de se tornar uma figura tutelar da cozinha portuguesa e mentora dos mais conceituados chefes, Maria de Lourdes Modesto foi uma icónica personalidade da televisão. Ainda no tempo do preto e branco, a sua postura pedagógica mas descomplexada, os vestidos estampados e a maquilhagem a condizer foram uma lufada de ar fresco que entrou pelas casas dos portugueses.
in."jornal i"
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Deixou-nos um livro editado em Janeiro de 1982: 
"Cozinha Tradicional Portuguesa"
com fotografias da autoria dos dois melhores fotógrafos que então colaboraram com ela:
o Augusto Cabrita e o Homem Cardoso.
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É neste belo livro que se encontra escrita, 
para a Eternidade, 
a receita do célebre
"Cabrito Estonado à Moda de Oleiros
com que a D. Aura Romão venceu o concurso que veio fazer à RTP.
Com esse Concurso, a nossa prima Aura deu o seu contributo para que se falasse durante muito tempo, na nossa Vila de Oleiros e continuasse a falar de Cabrito Estonado com mais orgulho até aos dias de hoje.
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Deixo aqui os meus sentimentos para a família de Lourdes Modesto,
... e a certeza de que a estas horas, onde quer que estejam, a Aura Romão e a Lurdes Modesto já se encontraram de novo, como boas amigas que ficaram.

19 julho 2022

Santarém...

em 30.09.1978
Praça de Touros
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O cavaleiro João Moura enfrentou 7 (sete) touros nessa tarde.
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João Moura e os "aplausos".
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Alguns aficionados do "Clube Setubalense", se deslocaram a Santarém nessa tarde.
Aqui reconhecemos o médico Dr. Soudo, o  veterinário Dr. João Lynce Uva, o sr. Sustelo, o  veterinário Dr. David Gomes e o Sr. José Belo.
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Foi um êxito a corrida... 
Foi uma bela tarde para todos os aficionados.

16 julho 2022

Setubalense - 1974 - Dezembro

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11.12.1974
CMS
Francisco Rodrigues Lobo e Vitor Zacarias foram eleitos Vice- Presidentes da Comissão Administrativa.
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16.12.1974
Tomou posse a Comissão de Toponímia
Por ter sido reconhecida a falta de assistência na função que lhe foi confiada, a Comissão Administrativa, por proposta da D. Odete Santos, dissolveu a Comissão de Toponímia que tinha sido eleita no passado mês de Outubro.
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20.12.1974
Comissão Administrativa da Caixa de Previdência
O Governador Civil Cap.de Fragata Fuzeta da Ponte empossou os membros da Comissão Administrativa:
Presidente – Dr. José Canhoto Antunes
Vogais – Manuel Tomás, Joaquina Ulisses, Rosa Marques, José de Jesus Horta e Valentim Madeira.
Estiveram presentes os dirigentes antecessores, Dr. José Severino da Cunha, Dr. José Cardoso Brites e António Gomes Gauthier, bem como os directores de serviços Dr. Mário Moura e Edwiges Faria.
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23.12.1974
Óbito
Morre em Setúbal, João José Marcelino Nunes, com 52 anos de vida.
Era proprietário, há meia dúzia de anos, do Colégio Frei António das Chagas. 
(?! Deviam ter escrito "Colégio Frei Agostinho da Cruz" mas o conhecimento que estas "sumidades" tinham da nossa cidade... dava resultados deste tipo.)

15 julho 2022

Escrito na pedra...

In "Público"
15.07.2022
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"As leis morais são as regras de um jogo no qual todos fazem batota, e isto desde que o mundo é mundo."
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Jean Cocteau
1889-1963
Comediante

14 julho 2022

Não resisti...

 ... em transcrever este "texto" que corre na net.
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"Já lhe aconteceu, ao olhar para pessoas da sua idade, pensar: não posso estar assim tão velho(a)?!!!!

Veja o que conta uma amiga:

- Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava exposto na parede.

Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei-me de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome.
Era da minha turma do Liceu, uns 30 anos atrás, e eu perguntei-me: poderia ser o mesmo rapaz por quem eu me tinha apaixonado naquela época?
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Quando entrei na sala de atendimento, imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito. Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado... era demasiadamente velho para ter sido a minha paixão secreta.
Depois de ele ter examinado o meu dente, perguntei-lhe se ele tinha estudado no Colégio Sacré Coeur.
- Sim, respondeu-me.
- Quando se formou?, perguntei.
- 1965. Por que pergunta?, respondeu.
- É que... bem... o senhor era da minha turma!, exclamei eu.
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E então, este velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho da mãe, lazarento perguntou-me:
- A Sra. era professora de quê?"
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Si non é vero, é bene trovato ...

13 julho 2022

As Vénus feias...

Um texto escrito por
Giovanni Papini
em Moçambique,
num dia 28 de Maio
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Giovanni Papini
(1881 - 1956)
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"Conheci aqui um comerciante e armador português, muitíssimo rico, que vive em Moçambique alguns meses do ano para tratar dos seus negócios. Chama-se Francisco de Azevedo e é uma pessoas atenciosa, de modos francos, óptimo gosto e bela cultura. Há dias, convidou-me para jantar na sua residência, um pouco fora da cidade, onde não tem outra companhia que a dos criados e criadas negros.
Depois de tomarmos o café e de acendermos os charutos, o meu anfitrião, com o ar de quem faz uma confidência preciosa, disse-me:
- Eu passo aqui, mau grado as aparências, uma vida melancólica. A mulher que adorava, morreu; as minhas filhas estão casadas na América. Já não tenho ninguém, não posso querer a ninguém. As mulheres e os homens que vivem nesta ilha, de qualquer raça ou cor, são horríveis, de uma fealdade obtusa que nem sequer têm os traços monstruosos e encantados dos primitivos autênticos. Aqui são todos mestiços, com os vícios da civilização e as misérias do barbarismo. Suporto-os, mas sofro para diminuir o horror desta humanidade disforme tive de buscar ema evasão. Quero mostrar-lhe no que consiste.
Fez-me atravessar duas ou três salas vazias e abriu com uma chave de prata uma porta maciça, embutida de madeiras raras. Acendeu as luzes escondidas no tecto e encontrei-me numa ampla sala redonda, de paredes de um sombrio encarnado pompeiano e cheia de imóveis figuras brancas.
- Veja - disse-me Francisco de Azevedo - é esta porventura a mais rica colecção de Vénus do Mundo. Quis reunir aqui, em cópias fiéis, todas as Vénus que se admiram, espalhadas aqui e além, nos museus e palácios do Velho mundo. Aproveitei as minha estadias nas maiores cidades da Europa para mandar reproduzir por bons artífices estas imagens famosas da beleza ideal. Que lhe parece?
Reconheci, de facto, as mais célebres Afrodites que eu já vira nas minhas viagens: a Vénus de Milo, a Vénus de Médicis, a Vénus de Cirene, a Vénus Capitolina, a Vénus de Celini e a de Canova. e muitíssimas mais que não fui capaz de reconhecer. Algumas não tinham cabeça, a outras faltavam os braços mas todas mostravam a opulência dos seios, o escudo suave do ventre, a bem torneada perfeição das pernas.
Era um espectáculo desconcertante e, até certo ponto,  embaraçoso, aquela assembleia de mulheres alvas e nuas, todas reunidas, algumas delas em atitudes lascivas, outras, ajoelhadas e púdicas; na maioria, erguidas e soberbas, em ar de desafio ou de oferta. Sob a clara luz eléctrica, esta multidão imóvel e cândida, e cabeleiras bem ondeadas, de seios bem modelados, de ancas bem redondas, de braços torneados, não inspirava nenhuma ideia amorosa ou libidinosa, mas sim um estranho confrangimento, que, confusamente, se parecia com o pudor.
Não sabia o que dizer. Não disse nada.
- Compreendo o seu silêncio - disse Francisco de Azevedo. - Entendeu logo o que eu, por um instinto defensivo, senti muito tarde.. Quando contemplamos, na sala de um museu, uma destas célebres Vénus, isolada no seu esplendor, temos a ilusão de estar diante de um milagre de beleza antiga. Quando vi pela primeira vez, em Roma, no museu das Termas, a Vénus de Cirene, na salinha acanhada que ela habita, sozinha, tive o êxtase casto que é dado pela perfeição da beleza. Mas quando, depois, pude reunir aqui, como num templo secreto, todas estas Vénus, já não tornei a encontrar o puro enlevo que prometera a mim mesmo. Esperava que estes monumentos eternos do eterno feminino me consolassem da vista dos seres aviltados e desarmónicos que sou obrigado a encontrar todos os dias. Mas as Vénus, reunidas, já não me deram aquela exaltação intelectual e não carnal que cada uma delas, contemplada por poucos minutos, me concedera. A multidão reunida dos corpos perfeitos gera a saciedade e, quase diria, até a náusea.
"Acabei por fazer, nestes anos,  uma descoberta dolorosa. As Vénus, mesmo as mais celebradas, são feias. A mulher é julgada bela por nós, por ser uma promessa de prazer e de volúpia. Mas se um de nós, tornado velho e sábio, soubesse olhar para estas Vénus com o mesmo gélido alheamento com que um zoólogo examina um vulgar exemplar da fauna terrestre, verificaria que também as Vénus são animais, em nada admiráveis e maravilhosos: a pequena probóscide, que é o nariz, o corte ferino que é a boca, as duas inchações alimentares que são os seios, os glúteos indecentes, que fazem pensar na defecação... Mas não quero insistir. Talvez ficasse mal em lhe mostrar estas fêmeas de mamíferos, de mármore, que os artistas tentaram transfigurar numa abstrata harmonia para nos compensarem dessas, muito mais repugnantes, que todos os dias temos de ver em carne e osso. Desculpe, Mr. Gog , e voltemos lá para dentro para beber mais um cálice de vinho do Porto .
Apesar da coleção de Vénus  - concluiu Francisco de Azevedo -, a minha vida continua triste e desconsolada. Estou reduzido a refugiar-me nos negócios, como outros se refugiam no jogo ou na guerra.
Desde aquela noite não tornei a ver o comerciante português, mas não tenho desejo algum de tornar a vê-lo."
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in. "As Vénus feias", 
um capítulo do "Livro negro",
numa edição de 1951
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NB:             
Giovanni Papini foi um escritor italiano., inicialmente um cético que se tornou num católico fervoroso. A sua obra, "O Diabo" foi tema de grandes discussões e controvérsias. A crítica europeia é de opinião que a sua melhor obra é "Gog", uma coletânea de contos filosóficos, escritos num estilo satírico.
Tenho os melhores livros deste autor italiano:
"Gog", "O livro negro" , "A história de Cristo" e "O Diabo".
(que deviam existir em muito mais bibliotecas...)

10 julho 2022

Recordações...

Em 7 de Julho de 2002
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                         GI

08 julho 2022

Humor antigo...

 ...com o traço de
Don Flowers
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- Francamente, Alberto... Nem compreendo...
Dormes sozinho e, mesmo assim, acordas cansado!

07 julho 2022

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Num Sonho que sonho às vezes
Nada de novo acontece.
Nos Sonhos porque são sonhos...
Não temos o que apetece.

06 julho 2022

Hoje, dia 6 de Julho de 2022...

é homenageado em Oeiras, pelos seus 
75 anos de sacerdócio o padre
Fernando da Silva Martins.
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Pároco emérito esteve 43 anos na comunidade em Oeiras tendo desenvolvido marcas "sociais e de apresentação do Evangelho na vida pública".
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Este "lembrete" foi publicado, ontem, dia 05 Julho 2022: 
A paróquia de Oeiras vai homenagear o pároco emérito, o Padre Fernando Martins, pelos seus 75 anos de ordenação sacerdotal  e apresentar o livro "Padre Fernando Martins. Um rosto que marcou Oeiras", com 75 testemunhos.
O padre Fernando Martins foi, em Oeiras, um homem muito próximo e atento ao próximo, muito empenhado na vida social, muito atento à história e à cultura.
...
O livro "Padre Fernando Martins. Um rosto que marcou Oeiras" conta com o prefácio de cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que irá presidir à celebração da Eucaristia, hoje às 19h, na igreja matriz de Oeiras.
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Padre Fernando da Silva Martins.
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(O texto que aqui deixo foi escrito em 07 de Maio de 2008)
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"Há uns anos que não via o Rev.º Padre Fernando Martins.
Voltei a encontrá-lo esta manhã nas últimas homenagens feitas a um Amigo comum...
Abraços e muitas recordações. Algumas delas quase com 50 anos... referentes aos nossos "primeiros passos" como professores no Liceu Nacional de Setúbal a partir de 1959!... Sempre tivemos um grande afecto mútuo a que não deve ser alheio o facto de nos sabermos "vizinhos" próximos, na mesma região, ele nascido nas Sarzedas... e eu em Castelo Branco, vinte quilómetros um pouco mais à frente!...
Pode ficar aqui, neste momento, muito bem sinalizada a recordação de uma viagem em que ambos nos deslocámos de Castelo Branco para Setúbal, à boleia no carro do Amigo de quem hoje nos despedimos... Decorria o ano de 1962. Ou talvez de 1963...
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Fui "descobrir" algumas fotografias que nos mostram o Professor de Religião e Moral em algumas ocasiões que deveriam ser recordadas. O que estamos a fazer deste modo...
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Numa reunião de antigos alunos do Liceu Nacional de Setúbal
realizado em 17 de Maio de 2014
...
Colocado na Paróquia de Oeiras, há mais de 40 anos, o "nosso" Professor de Moral, não deixou nunca de voltar à "nossa" cidade. Muitas vezes visitava os muitos Amigos que por cá deixou e sempre manteve; outras vezes "alinhava" connosco em alguns almoços dos Antigos Alunos do Liceu de Setúbal que se efectuavam ora aqui, ora ali... tendo chegado mesmo a organizar em Oeiras, um destes almoços o qual jamais esqueceremos...
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Espero com alguma ansiedade a chegada do livro agora editado.

04 julho 2022

Citações...

 .
"Envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto escala, as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a visão mais ampla e mais serena."
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Ingmar Bergman

03 julho 2022

Já vem de longe...

 ... a Sabedoria.

Marco Túlio
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"O orçamento deve ser  equilibrado,
o Tesouro Público deve ser reposto,´
a dívida pública deve ser reduzida,
a arrogância dos funcionários públicos
deve ser moderada e controlada,
e a ajuda a outros países deve ser eliminada,
para que Roma não vá à falência.
As pessoas devem novamente
aprender a trabalhar, em vez de viver 
às custas do Estado ".
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Marco Túlio Cícero
106 a.C. - 43 a.C.

02 julho 2022

Parabéns!... 2 de Julho

A Madalena faz anos hoje.
Um bom dia de aniversário é o que desejo para a minha neta… 
na companhia do seu "pequeno exército"...
Beijinhos para todos.
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Maria Madalena Matos de Oliveira Constantino

01 julho 2022

Setubalense - 1974 - Novembro

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04.11.1974
Rotário acometido de doença súbita.
Quando, num restaurante desta cidade participava na reunião do Rotário Club de Setúbal, foi acometido de doença súbita, o Dr. Luís Garcia Anselmo, de 62 anos, que se encontrava aposentado como juiz de 1ªVara, do Tribunal de Trabalho de Setúbal.
Faleceu ao dar entrada no Hospital de S.Bernardo.
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08.11.1974
Sessão de esclarecimento político, do Movimento Social Popular.
“É preciso que acordemos um dia e que o país seja nosso”, disse o Frei Bento Domingos.
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11.11.1974
Liceu do Barreiro não é coito de fascistas.
… Saneados ou transferidos?!
“ O Maurício é um professor que foi saneado do Liceu de Setúbal no fim do ano lectivo passado e que pretende vir agora dar aulas no Liceu do Barreiro. Este sujeito sempre se distinguiu pela maneira zelosa como aplicava a disciplina fascista, utilizando a “ajuda” de suspensões e outras medidas repressivas tanto sobre os alunos como professores.
Ele impunha a sua vontade como lei, de tal maneira que chegou a adiantar o relógio da Escola, passando esta a ter uma hora diferente da do resto da cidade.
Barreiro não é guarida.
…O Liceu do Barreiro não pode ser guarida para a canalha fascista!
A luta contra a reacção passa pelo saneamento efectivo de todos os fascistas!
Terão de ser os estudantes e os professores do Liceu a lutar pelo saneamento do Maurício, mas teremos todos de ser vigilantes, não permitindo que sejam reaccionários a educar a juventude!
Na verdade, alertamos para que se tome cuidado com certos “saneamentos”!
O referido comunicado termina com a seguinte palavra de ordem: “Uma só solução, esmagar a reacção”!
Trata-se de “um comunicado” emitido por um “Comité de vigilância anti-fascista, de Setúbal” e por um “Grupo de Combate à Reacção, do Barreiro” (cujas origens desconhecemos)
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Apenas uma nota à parte (que não vem no Setubalense deste dia, mas é de minha autoria):
"Só um bandalho, comuna e totalmente ignorante podia ter escritoeste bocado de prosa”… E Cobarde também, por omitir o seu nome no final do texto publicado no Setubalense deste dia.
O Dr. Maurício já pertencia ao Quadro do Liceu Nacional do Barreiro quando se deu o 25 de abril. Ele apenas fez o que centenas de professores fizeram por todo o país quando viram terminadas as suas Comissões de Serviço no pós-revolução de abril: apresentar-se na Escola onde era Professor efectivo e ali deu aulas durante um ano, até concorrer, como professor-efectivo a uma das vagas existentes no Liceu Nacional de Setúbal.
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25.11.1974
Olhem o que eu fui encontrar neste dia do Setubalense.
Algumas transcrições retiradas da “Gazeta Setubalense”, publicada em 1869.
Outros tempos!...
“Fita Verde
(Feira de S.Thiago)
“Mulher, anjo ou demónio? Para que te conheci eu? Tu matas-me.
A cor symbólica da tua fita predilecta é um embuste; que esperança posso eu alimentar a respeito de tal borboleta? Tu namoras o P., enganas o M., sacrificas o B., e trazes atrelados ao carro da tua vaidade mais três adoradores!
C.
(da Gazeta Setubalense, de 1 de Agosto de 1869
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C. – Feira de S.Thiago
Desejo falar-lhe. Tenho pena de se me não haver proporcionado ainda ocasião favorável, aliás convencê-lo-ia de que não sou borboleta, mas uma mulher infeliz. O M., o B. e o P, de que me fala, nada têm comigo, são apenas caluniadores. De sua só – até à morte.
Fita Verde.
(da Gazete Setubalense, de 8 de agosto de 1869)
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C. – Feira de S.Thiago
Debalde tenho lançado mão de lápis para te dizer que venhas a minha casa. Os sofrimentos moraes têm-me despertado os phizicos, por conhecer que sou demasiadamente tola em supor que me amasses!
Esta tarde vou ao Bonfim e hei-de sentar-me à esquerda do bazar; suplico-te que não faltes e procura lugar junto de mim porque tenho a fazer-te algumas confidências.
Fita Verde
(da Gazete Setubalense, de 15 de agosto de 1869)”
Que pena não sabermos o resto…
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27.11.1974
“As forças armadas estão atentas à reacção porque não estão dispostas a permitir que volte o sistema de opressão popular”, afirma o capitão Moura”, em reportagem de G. Figueira.
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27.11.1974
Desporto
Fernando Valério deixa a arbitragem abandonando o cargo de presidente da Comissão Regional dos Árbitros de Futebol, de Setúbal.
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29.11.1974
Foi vendido o automóvel da presidência.
O Dr. Brandão Ferreira felicitou a Comissão Administrativa, por ter prescindido do automóvel, dado que o produto da sua venda pode ser aplicado na aquisição de veículos que mais sirvam os interesses da Câmara.
O Mercedes foi vendido por 203.700 escudos (Nota: ao desbarato!... Tinha apenas alguns meses.