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31 outubro 2020

São quadras, meu bem... são quadras!...

Acho uma moral ruim 
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

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Esta do António Aleixo
vem mesmo a propósito...

30 outubro 2020

Escrito na pedra...


In “Público”
30.10.2020
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Noventa e nove por cento das pessoas do mundo são tolas e o resto de nós está em grande perigo de contágio."
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Thornton Wilder
1897 - 1975
escritor

29 outubro 2020

Jorge Alberto Paulino Pereira

Li com agrado, e a propósito de tema "deficientemente recordado" que surgiu há dias nas "redes sociais", um texto da autoria do Jorge Alberto Paulino Pereira que não posso deixar de referir. Trata-se de um apontamento que se aproxima mais da "verdade" havida no início do ano de 1961 - A criação de um Grupo Coral em Setúbal.

Jorge Alberto Paulino Pereira
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"Coral Luísa Todi: uma memória viva da minha infância
Quando ouço falar de "Coral Luísa Todi" a minha alma aquece, despertando-me recordações duma infância feliz, na Setúbal que quase me viu nascer.
Nos longínquos anos sessenta a nossa família vivia na Avenida 22 de Dezembro nº 94, um casarão construído em 1900 ainda de pé naquele quarteirão de habitações que fizeram uma época. Foi nessa precisa casa que nasceu o Coral Luísa Todi e onde foram redigidos os seus estatutos originais.
No então Liceu Nacional de Setúbal lecionava a minha mãe Auzenda e um professor de Canto, Américo Vieira, que se tornaria no primeiro maestro do Coral Luísa Todi. Dessa proximidade profissional nasceu a ideia do Coral, que se foi concretizando através de várias reuniões em que foram redigidos os seus estatutos.
Esse projecto teve também a colaboração de quem viria a tornar-se num dos fundadores, e também coralista: Manuel Entrudo Nascimento Lino. Com efeito, a primeira Direcção do Coral Luísa Todi englobaria, para além da minha mãe, o Maestro Américo Vieira, o Sr. Entrudo Lino e ainda o Sr. Fernando Rodrigues como tesoureiro.
Pouco tempo depois, o Coral Luísa Todi faria as suas primeiras apresentações públicas, dignificando a vida cultural da nossa cidade de Setúbal. Numa delas, nos Paços do Concelho, o meu irmão Luís, então com apenas 7 anos de idade, actuou com o Coral sob a batuta do Maestro Américo Vieira, num pequeno solo como "Menino Jesus da Lapa", perante uma sala repleta e sob o olhar ternurento da nossa mãe Auzenda, também coralista.
Decorreram anos, passando eu a ter memórias vividas do Coral, sempre uma instituição tão presente em nossa casa e no coração dos meus pais. Contavam-se histórias, planeavam-se concertos, comentava-se a música e as vozes que compunham aquele agrupamento maravilhoso. Recordo o entusiasmo do meu pai, que entretanto compunha a Direção do Coral com os Senhores Castanheira e Fernando Teixeira, com um novo Maestro: Jorge Manzoni. Como era entusiasmante cada serão de ensaios na Câmara Municipal de Setúbal, em que me deixavam assistir em silêncio à preparação de mais uma peça que encantaria novas audiências. Recordo também episódios de desespero, como a actuação perante o Presidente da República em Lisboa no Coliseu dos Recreios, em que a desastrosa acústica não permitiu uma audição condigna, com as coralistas em lágrimas que me contagiavam com a sua tristeza.
Tornei-me adulto, ouvia espaçadamente falar do Coral. Apercebi-me de que o entusiasmo dos meus pais já não era o mesmo, mesmo apesar de, em família, comentarmos fotografias antigas de actuações gloriosas. Um dia acompanhei a minha mãe a uma sessão comemorativa do aniversário do Coral Luísa Todi, em que publicamente se contou uma história muito diferente sobre as suas origens. De tal forma que a minha mãe saiu ao intervalo. A sua saída não passou despercebida a muita gente que a foi cumprimentar.
Desta forma, a propósito de mais um aniversário da instituição que recordo com tanta felicidade, personifico em mim a tristeza que os meus pais sentiriam, num momento em que foram esquecidos.
Esta é a minha verdade, a versão em que acredito, porque me foi transmitida por quem me deu o ser e me formou como ser humano. Haverá outras? Certamente. Mas, para mim, não são a mesma coisa.
Parabéns, ao Coral e à Setúbal que trago no coração!
Jorge Paulino Pereira"
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NB:
Olá Jorge...  Gostei de ler este teu "desabafo" porque sei que corresponde á verdade tudo quanto ali dizes... Eu lecionava no Liceu em 1961. Fui colega da tua Mãe D. Auzenda e do professor de Canto Coral Américo Vieira que dedicaram muito do seu tempo à formação do Grupo Coral em causa; conheci o Sr. Lino, conheci e fui amigo do Fernando Rodrigues. Mais tarde, passei a ouvir "outras histórias" que foram lançadas na opinião pública através de uma fonte ligada ao jornal "que morava" num primeiro andar da Praça de Bocage... mesmo em frente do antigo Café Central.
Os tempos mudam mas... há memórias que prevalecem.
Um abraço, Jorge.

28 outubro 2020

A opinião de Guilherme Valente...

Há muito tempo que não lia nada deste Ensaísta
mas ontem dei com ele e com a sua "Opinião "
no "Jornal i ", sobre o tema que domina actualmente
todas as nossas preocupações.
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Chamou-me a atenção o título que escolheu... 
"A ministra que nos trata da saúde "

Guilherme Valente
.
Vou deixar aqui todo o artigo que Guilherme Valente escreveu:.
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" Na SIC, Ricardo Araújo Pereira notou que a ministra não consegue fixar o número de telefone da Saúde 24 (escolhido para ser imediatamente decorado). Já tinha reparado nesse tipo de disfunções da senhora. Nos encontros com a comunicação social não lê, soletra. Soletra o mais banal que devia dizer de memória ou ocorrer-lhe na altura – disfunção que, se não fosse indicativa de outras mais graves, nem teria importância.

A 23/10, noticiou o Expresso, “voltou a avisar que os números vão continuar a subir e que as medidas terão, inevitavelmente, de ser reavaliadas”. Parece que os responsáveis somos nós! Mas é a própria.

Portugal precisa de uma ministra a sério, confiante, que aja, tivesse antevisto, soubesse o que andava a fazer, que animasse, desse espírito de resistência aos Portugueses, traga esperança!

É por isso que uma diretora-geral da Saúde com afirmações irresponsáveis não lhe faz sombra – que a máscara dá um falso sentimento de segurança, que só protege o outro! E agora que o seu uso terá de ser, finalmente, obrigatório, as senhoras não se demitem? Apontem-me um único inconveniente de usar máscara. Se logo que as houve tivessem sido impostas, não teria havido necessidade de confinamento e o país não fecharia.

Com que autoridade gente assim pode liderar e comandar este combate de morte?

A saúde é apenas um exemplo. O Governo é um aglomerado de “poucochinhos” (maneira elegante como o meu amigo João Lobo Antunes se referia aos medíocres). Com a exceção de AC e três ou quatro ministros. E um já saiu. Outro, o melhor, deve ansiar por sair.

É certo que vem sendo cada vez mais difícil o recrutamento, dado o deserto geral de qualidade que se verifica em todos os domínios da vida do país nas gerações com menos de 50 anos. Desde logo na política, efeito e causa. Compare-se com a minha e as anteriores gerações. Na literatura ou no jornalismo, por exemplo.

Mas, mesmo assim, ainda era possível escolher dez ministros a sério, que mais é impedir a eficácia do Governo e desbaratar o dinheiro de todos nós. Porque preferiu AC um Governo quase de faz-de-conta? Secretárias em vez de ministros? Claro que não estava à espera do que veio mas, mesmo assim, sinceramente não compreendo.

Proponho um exercício. Comparem-se os currículos dos atuais ministros com os dos Governos de Mário Soares, Marcello Caetano e Salazar. (Note-se que a inteligência, a cultura, a competência e a seriedade não são exclusivo da esquerda ou da direita).

A titulo de exemplo, transcrevo o currículo de Pedro Nuno Santos. Ministro das Infraestruturas e da Habitação. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no xxi Governo. Licenciado em Economia pelo ISEG-UTL, onde foi presidente da mesa da reunião geral de alunos. Integrou o grupo empresarial da família, Tecmacal. Secretário-geral da JS. Presidente da Federação de Aveiro do PS. Deputado na x e xi legislaturas. Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS e coordenador dos deputados do PS na Comissão de Economia e na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Caso BES (2015- 2019). Isto é, zero. Nem assumiu sequer a responsabilidade de gerir o orçamento de uma junta de freguesia, o que o honraria. E não anda a mentir sobre a segurança nos transportes?

E acrescento: responsável agora pela solução do complexo dossiê TAP, implicando o destino de milhões de euros dos portugueses – responsabilidade que assumiu com a frase profunda e elegante, a encher o país de confiança: Isto agora vai ser outra coisa!. Ver-se-á.

E por ser um posto tão relevante num Governo, transcrevo ainda o currículo de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, que substitui o PM nos seus impedimentos, nomeadamente presidindo às reuniões do CM (no Governo de Mário Soares, o MP foi... Henrique de Barros). Licenciada em Sociologia pelo ISCTE. Concluiu a parte curricular do doutoramento em Políticas Públicas na mesma instituição. Entre 2005 e 2009, assessora da ministra da Educação. Adjunta do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro entre 2009 e 2011. Investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL). Isto é, menos que zero.

Mas manda a justiça dizer que MVS tem dois méritos relativamente a PNS: é polida e não integrou a JS (no que as juventudes partidárias se tornaram).

Seja qual for a orientação política dos Governos, o abaixamento de qualidade tem sido crescente menos nos anteriores, extremo neste. Do atual Governo, fossem fascistas ou democratas, só dois ou três ministros poderiam ter integrado Governos de Salazar, Marcello Caetano ou Mário Soares.

Concluindo: não podemos surpreender-nos com o que está a ser o rumo da República, da democracia e do país. E do Partido Socialista. Não se pode fazer omeletas sem ovos. "
.
in "Jornal i"
27-10-2020
Guilherme Valente.

26 outubro 2020

No aniversário do Coral Luísa Todi...

Completam-se hoje (25.10.2020) 59 anos sobre a data da fundação do Coral Luísa Todi, data que este ano não é assinalada com a habitual Sessão Comemorativa, dada a situação que estamos vivendo.
."Em 23 de outubro de 1961, dois setubalenses, a Sr.ª D. Maria Adelaide Rosado Pinto, Diretora da Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi e o Sr. Aurélio Lino da Conceição Fernandes, elemento do antigo Orfeão Cetóbriga, encontraram-se mais uma vez na Av. 22 de dezembro, percurso que habitualmente faziam ao fim de cada dia e voltaram a falar da necessidade de se criar de novo um agrupamento polifónico em Setúbal. Entendendo que estava na hora e que não havia que esperar mais, decidiram iniciar contactos, nomeadamente na contratação de um Maestro. No dia 25 de outubro de 1961, depois de contactado o futuro Maestro, Maria Adelaide Rosado Pinto, Aurélio Fernandes e o Prof. Américo Vieira, que fora convidado para dirigir o futuro Coral, reúnem-se na Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi. Nesta data e nesta reunião é fundado o Coral Luísa Todi. Na impossibilidade de comemorar a data de outra forma, deixamos aqui as fotos dos seus fundadores." 

E surgem as fotos de Adelaide Rosado Pinto e de Aurélio da Conceição Fernandes.
.
NB - Penso haver omissões relativas à formação do Orfeão Luísa Todi... em 1961.
       Em 1961, eu era professor no Liceu há poucos anos e lembro-me da acção exercida pela professora D. Auzenda Paulino Pereira e pelo professor de Música (Canto Coral) Américo Vieira na constituição do Orfeão Luísa Todi.
A omissão do nome da Dr.ª Auzenda nesta "memória" que acabei de ler... não é merecida por ninguém que tenha seguido de perto o "nascimento" do Coral desta Cidade.
.
As fotos que se seguem não foram obtidas
naquela época; são mais recentes, tiradas
em 21.12.2007
num Concerto na Igreja de S.Sebastião 
com a preocupação de pôr em destaque a actuação de
alguns alunos que frequentaram o nosso Liceu. 

Um sector do Coral Luisa Todi, onde se destaca o
Giovanni Licciardello. À sua esquerda, no canto superior esquerdo 
o Dr. João Santos Rodrigues
.
Aqui podemos reconhecer alguns elementos
que estiveram ligados ao Liceu de Setúbal.

Um destaque para o Manuel Afonso, para a Celeste Gomes
e para a Manuela Palma Rodrigues

O Manuel Afonso Carvalho Espada

A Manuela Palma Rodrigues

...e o Presidente do Coral,
Luís Filipe Fernandes.

24 outubro 2020

Humor antigo...

...com o traço
inconfundível
de Kiraz
.
- É mentira ele lavar a loiça desde o primeiro dia do nosso casamento. 
Nesse dia nós fomos comer num restaurante...

23 outubro 2020

O triunfo dos porcos...

...é o título do artigo que
Afonso de Melo
escreveu ontem,
dia 22 de Outubro,
na sua coluna
das Quintas-Feiras,
no "Jornal i"
.
Afonso de Melo
.

As fardas repugnam-me. Quando fui obrigado a usar uma, sentia um certo asco de mim mesmo. Não sei se foi o Charles Aznavour que disse: “Enquanto houver um homem fardado, seja o teu filho ou o meu, nunca o mundo prometerá nada de bom”.

Ver seis polícias entrarem na Rua do Norte em formação-matilha deixa-me preocupado. Fico a pensar cá para comigo: onde irão eles, se agora só podem sentar-se cinco à mesa de cada vez? Jantar não é com certeza... Buscam a multa, como cães de caça, versão grotesca desta Lisboa de Pinochet reencarnado na figura de Medina e seus sequazes. Para qualquer lado onde olhemos vemos fardas.

O país está em clima de guerra contra a sua própria gente. O dr. Costa, que do íntimo da sua educação democrática tinha a obrigação de não deixar que Lisboa ficasse parecida com Santiago do Chile, apresta-se a propor medidas que insultam não apenas a nossa inteligência como se preparam para nos roubar a liberdade.


Temos vivido distraídos, todos nós. Deixámos que os porcos saíssem do celeiro e ocupassem a quinta, reescrevessem as leis e instalassem a ditadura do medo e da força
Por uma simples infração rodoviária, um agente ainda borbulhoso de acne mal tratada encosta um cidadão ao seu automóvel, obriga-o a virar as costas e algema-o como se fosse algum Dillinger. Não, não é uma caricatura: foi um facto e veremos que consequências se retiram deste facto.

O pelotão fandango de polícia armada até aos dentes que entrou na rua do Norte não tem de obedecer à regra dos cinco distanciados sociais. Usa e abusa do poder que a farda lhe dá e invade propriedade alheia, exibindo uma prepotente visão própria dos factos. Ai de quem diga não! Ah! Meu querido Manel, já não há ninguém que resista, já não há ninguém que diz não. Orwell escreveu: "Todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais do que outros".
E é assim, animal a animal, que este país se vai transformando ecumenicamente n' O Triunfo dos Porcos.
.
in. "Jornal i"
22 Out 2020

22 outubro 2020

Mais um Amigo nos deixou...

Recebi esta manhã a notícia da morte do
Jorge Costa
Amigo e conterrâneo
.
Jorge Costa
(numa foto obtida em 23 de Abril de 1973
em Castelo Branco, a sua terra natal)
.
Descansa em Paz, Jorge!...
Sabes que perdi um Amigo.
.
À Fernanda Elias
e a toda a Família
deixo o meu 
sentido pesar.

Aonde a noite é mais forte...

… num poema de
Alexandre O´Neill
a que o autor deu o nome de
Há Palavras que Nos Beijam
.
Alexandre O´Neill


Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
.
Alexandre O'Neill 
in 'No Reino da Dinamarca'

21 outubro 2020

Parabéns!... 21 de Outubro.

A Luísa Abreu faz anos hoje!...
Aqui deixo os meus parabéns 
com os desejos de um belo
dia de aniversário.
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Drª Maria Luisa Duarte Gomes Abreu

19 outubro 2020

Está na Bíblia e é de Salomão...

...num poema da autoria de
Augusto Gil
que lhe chamou
"A lanterna de Aristóteles".
.
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A lanterna de Aristóteles
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Busquei e rebusquei entre o comum
(comum é a soberba da vaidade)
E entre cada mil homens achei um!

Passei à outra metade
Da néscia e vil humanidade
Estudei toda a mulher:
As viúvas, as casadas, as donzelas.;
Pois de tantíssimas delas
- Não achei uma sequer...


"Que enorme sandeu!"
À certa dirão.

... Mas quem escreveu isto não fui eu!...
- Está na Bíblia e é de Salomão.
.

"Eis aqui o que achei, disse o Eclesiastes,
depois de ter conferido uma coisa e outra,
para achar uma razão, que a minha alma busca
e não pode achar, "Entre mil homens achei um, 
e de todas as mulheres nem uma achei!"
(Bíblia, Eclesiastes, cap. VIII, v. 28 e 29)

18 outubro 2020

Humor antigo...

...com o traço 
inconfundível
de Kiraz
.
- Deixa o caso comigo! Eu vou ensinar-lhe que não se 
falta ao respeito a uma rapariga como tu!...

17 outubro 2020

A pintura de Graça Lagrifa...

Foi Graça Lagrifa quem escreveu.
"@izlaphotography fotografou a preto e branco este jovem da Mauritânia. Relembrando a incrível cor azul que tanto usam naquela região, tomei a liberdade de fazer essa alteração na pintura".
.
Um jovem da Mauritânia

16 outubro 2020

Há muito tempo...

...que não estávamos com
Faíza Hayat.
.
Faíza Hayat.
.

"O homem que queria ser ninguém…"
foi o título escolhido por Faíza 
para este conto que publicou 
em Março de 2008
no jornal "Público"
.

Um dia, num pequeno hotel do Cairo, conheci um homem curioso: Lazlo fora muito rico, tinha ainda bastante dinheiro, mas orgulhava-se de não possuir qualquer bem material valioso, com excepção de um “laptop”. Contou-me que herdara uma fábrica de artigos de porcelana e que a gerira durante 15 anos com bastante sucesso. Após um divórcio tumultuoso – a mulher acusava-o de não ter tempo para se dedicar à família nem aos amigos -, decidiu vender a fábrica, casas e propriedades, carros, barcos, enfim tudo aquilo que, nas palavras dele, “pudesse constituir lastro”. Hoje viaja pelo mundo inteiro, de hotel em hotel, sem outra bagagem a não ser uma pequena pasta de couro com documentos e um “laptop”. Chega a uma determinada cidade, instala-se num hotel, compra alguma roupa e produtos de higiene, dois ou três livros, e ao partir oferece a roupa, os livros, o pouco que tenha adquirido e não caiba dentro da pasta de couro. Lembrei-me de Lazlo ao ver “O Lado Selvagem”, filme realizado por Sean Penn. O filme é baseado na história verídica de Christopher McCandless, um jovem americano que decidiu partir para o Alasca com o objectivo de abandonar a civilização – e ali veio a morrer de fome (em pleno verão e a poucos quilómetros de um estrada movimentada). Porém, ao contrário de Christopher, Lazlo não demonstra afeição por Thoreau nem, aliás, por nenhuma filosofia política em particular. Não é nem um socialista utópico, nem um anarquista melancólico em semi coma alcoólico. 
Apenas um tipo comum, que decidiu não ter nada, com a mesma força e a mesa determinação
com que outros decidem ter.
Perguntei-lhe se não sente, por vezes, a falta de uma casa.
- Não! – confessou, com certo espanto.
- É como se você tirasse um peixe de um pequeno aquário para o colocar no mar. Acha que ele sente a falta de um aquário?
Assegurou-me que não há nada me
lhor do que viver num hotel. Lembrou-me o caso de Vladimir Nabokov, que viveu desde 1959 até falecer em 1977, no Hotel Montreux Palace, na Suiça. Menos luxuosamente, mas mais preguiçosamente, o escritor egípcio Albert Cossery habita desde 1951 no mesmo quarto do hotel La Louisiane, situado em pleno coração de Daint-Germain-des-Prés, em 
Paris. Retorqui que viver num mesmo quarto de hotel por tanto tempo era o mesmo que fazer desse quarto um verdadeiro lar. Lazlo concordou:
- Exactamente. Além disso, um quarto de hotel é sempre o mesmo quarto, apenas muda a paisagem. O meu lar são todos os hotéis.
Lazlo é uma espécie de vagabundo elegante. Um velho senhor muito bem vestido, muito amável, sempre com um livro na mão. Costumava vê-lo a ler no bar do hotel, ou, mais raramente, a escreve
r no seu “laptop”. Visitei com ele o Museu do Cairo. Impressionou-me a quantidade de artefactos, animais domésticos, escravos e escravas que o faraó levava consigo na última viagem. 

- Esta gente não sabia morrer, comentou.
- Quando eu me for, quero ir ligeiro. Não precisamos de gravata para atravessar o rio. Que maravilha, não acha?! A morte é despojada.
Quanto a mim confesso que simpatizo mais com Lazlo do que com Cristopher McCandless, que queimou o pouco dinheiro que tinha antes de iniciar a sua viagem rumo o norte, e à morte. O melhor é não ter nada, usufruindo de tudo; renunciar à posse, mas jamais ao conforto. Renegar o capitalismo sem todavia comprometer o capital.

14 outubro 2020

São quadras, meu bem... são quadras!...

Desfolhaste o malmequer
A perguntar s'eu te queria. 
Fizeste mal, oh mulher,
O malmequer não sabia

13 outubro 2020

Parabéns!... 13 de Outubro.

A bisneta Luisinha
faz hoje 4 anos.
Muitos beijinhos cá de longe...
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Luísa Constantino Veloso
A minha linda bisneta Luisinha...
aqui com um ar de "traquinas".

11 outubro 2020

À distância de 7(sete) meses...

... uma excelente previsão!....
Fui rebuscar um post editado
no dia 17 de Março, (há 7 meses...)
no “Jornal i
com um texto de 
Vitor Raínho:
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Vitor Raínho 
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Quando ontem estávamos a almoçar num dos últimos restaurantes abertos aqui na zona do Beato, Lisboa, um cliente começou a exaltar-se porque queria almoçar junto a outros amigos, apesar das restrições impostas, que obrigavam o espaço a ter menos de um terço de clientes. Como o homem mostrava sinais de ter bebido uns aperitivos antes de ali chegar, foi difícil convencê-lo a aceitar as novas regras. Foi apenas um sinal do que ai vem. As pessoas estão a perder a paciência e o juízo e não se adivinha nada de bom.
Mas o que podemos esperar de um país que tem um Presidente da República que foge para casa mal sopra uma brisa de uma potencial infeção de Covid-19? E o que dizer da figura mais querida do país, nas palavras do Presidente, que só diz disparates atrás de disparates na televisão para milhares de espectadores? Cristina Ferreira, de seu nome, fala de coisas sérias com uma leviandade assustadora. Nas televisões vemos também ilustres causídicos, em causa própria, a elogiarem o canal para onde trabalham com uma ligeireza consentânea com o dinheiro que ganham.
.
Falando de coisas sérias, o país vai levar muito tempo a recompor-se do período que vamos viver. Muita coisa vai mudar, a nossa vida vai alterar-se radicalmente e ninguém sabe como iremos sair deste período. As falências serão mais do que muitas, boa parte da população irá ficar no desemprego. Ou a União Europeia adopta uma política concertada ou teremos graves conflitos sociais daqui a quatro meses, altura em que se prevê que o coronavírus esteja controlado. Além das questões económicas, haverá sérias transformações sociais, pois, como tudo indica, o estado de emergência será declarado e as pessoas serão obrigadas a conviver 24 horas atrás de 24 horas na mesma casa. A maioria da população nunca passou por uma guerra e irá enfrentar um desafio assustador. O melhor é mesmo não perder a cabeça e tentar arranjar escapes para esta tragédia. Nada como aprender a viver uma nova experiência.
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in. "Público"
17.03.2020
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NB - Só não acertou "na altura em que se prevê que o coronavírus esteja controlado"...

10 outubro 2020

Recordações...

Em Setúbal,
20 de Julho de 2002

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                   GI


O Cabaret da Coxa...

O artigo que ontem de manhã surgiu no
"Jornal i" fez-me rir... 
É da autoria do jornalista
Rodrigo Alves Taxa.
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Rodrigo Alves Taxa

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Com o título "Do saneamento no Tribunal de Contas e do Cabaret da Coxa", o jornalista autor do texto termina assim a sua coluna:
(...)
 " O que prefiro antes destacar, além da conduta verdadeiramente deplorável, diria mesmo que repugnante de um Primeiro-ministro cuja sobranceria não tem limites (e que se sente no seu olhar quando se está na sua presença), é que conseguiu ainda assim, uma vez mais, amarrar Marcelo Rebelo de Sousa a um jogo do qual está completamente refém. Não é que eu esteja a desculpar Marcelo do miserável papel que hoje desempenha porque até certo ponto ele também fez por isso, mas realmente é quase caricato ver (segundo conteúdos do Expresso) que Costa ao ser confrontado por jornalistas se tenha logo apressado a aclarar que, e cito "Como o Sr. Presidente da República teve ocasião de explicitar, é entendimento do Governo e Presidente que não deve haver lugar à renovação do mandato, para garantia da independência da função". Que me perdoem o termo, mas estamos perante uma palhaçada tal que já ninguém tem vergonha, incluindo o primeiro-ministro que insiste em fazer da presidência da república uma espécie de "cabaret da coxa". E não me venham com a lengalenga de que Marcelo apesar de tudo apelou aos cuidados contra a corrupção, os compadrios e mais não sei o quê. De facto, apelou. Mas de que servem esses apelos perante a sua conivência com a decisão de um primeiro-ministro em não reconduzir no cargo um presidente de um tribunal de contas que tem feito tantos alertas contra procedimentos que podem, eles próprios, contribuir para o aumento dessa mesma corrupção, compadrios e clientelas?
Meus amigos, palavra de honra que não quero ser mal educado com ninguém. Não é essa a minha forma de estar na vida, mesmo que por vezes como todos os mortais também falhe. Mas perdoem-me, e repito, perdoem-me outra vez, ao assistir ao que se passa no meu país, aquilo que por vezes dou comigo a pensar é que estamos entregues a uma cambada de bananas. E já agora, porque também é de inteira justiça, faz alguns dias vi Ricardo Costa - Director Geral de Informação do grupo de comunicação social Impresa e irmão do primeiro-ministro - dedicar uma coluna de opinião aos comportamentos de André Ventura.
Que tal escrever agora outra sobre os comportamentos do maninho querido?"
.
in. "Jornal i "
9 de Outubro de 2020

09 outubro 2020

Não há, não...

...num Poema
a que António Gedeão...
deu o nome de 
Pastoral
António Gedeão

.
Pastoral

Não há, não.
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.

Limbo todas têm,
que é próprio da folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes,
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem:
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam, 
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.
.
in. "Teatro do Mundo"
1958