Afonso de Melo
escreveu ontem,
dia 22 de Outubro,
na sua coluna
das Quintas-Feiras,
no "Jornal i"
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Ver seis polícias entrarem na Rua do Norte em formação-matilha deixa-me preocupado. Fico a pensar cá para comigo: onde irão eles, se agora só podem sentar-se cinco à mesa de cada vez? Jantar não é com certeza... Buscam a multa, como cães de caça, versão grotesca desta Lisboa de Pinochet reencarnado na figura de Medina e seus sequazes. Para qualquer lado onde olhemos vemos fardas.
O país está em clima de guerra contra a sua própria gente. O dr. Costa, que do íntimo da sua educação democrática tinha a obrigação de não deixar que Lisboa ficasse parecida com Santiago do Chile, apresta-se a propor medidas que insultam não apenas a nossa inteligência como se preparam para nos roubar a liberdade.
Temos vivido distraídos, todos nós. Deixámos que os porcos saíssem do celeiro e ocupassem a quinta, reescrevessem as leis e instalassem a ditadura do medo e da força. Por uma simples infração rodoviária, um agente ainda borbulhoso de acne mal tratada encosta um cidadão ao seu automóvel, obriga-o a virar as costas e algema-o como se fosse algum Dillinger. Não, não é uma caricatura: foi um facto e veremos que consequências se retiram deste facto.
O pelotão fandango de polícia armada até aos dentes que entrou na rua do Norte não tem de obedecer à regra dos cinco distanciados sociais. Usa e abusa do poder que a farda lhe dá e invade propriedade alheia, exibindo uma prepotente visão própria dos factos. Ai de quem diga não! Ah! Meu querido Manel, já não há ninguém que resista, já não há ninguém que diz não. Orwell escreveu: "Todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais do que outros".
E é assim, animal a animal, que este país se vai transformando ecumenicamente n' O Triunfo dos Porcos.
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in. "Jornal i"
22 Out 2020
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