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30 junho 2018

Deu cabo de Donald Trump!

... no título da coluna de
João Miguel Tavares,
no "Público" de hoje, 30 de Junho.
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Querer transformar este inconsequente encontro de Marcelo 
no filme Mrs.Padeira de Aljubarrota Goes to Washington é,
 pura e simplesmente, patético.
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João Miguel Tavares
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Breve resumo das coisas que vi serem escritas e ouvi serem ditas sobre a passagem de Marcelo Rebelo de Sousa pela Casa Branca. Marcelo esteve espectacular. Marcelo estava preparadíssimo para os poderosos apertos de mão de Donald Trump e deu-lhe um safanão tão grande que lhe amolgou o braço com que costumava grab them by the pussy. Marcelo efectuou aquilo que pode desde já ser considerado (aguarda homologação pelo Guinness World Records) o mais incrível aperto de mão da história dos apertos de mão. Marcelo mostrou a Trump de que é feito o verdadeiro português. Marcelo esteve espectacular. Marcelo deu uma lição de História a Donald Trump, que nem sequer sabia que os founding fathers tinham brindado à independência com vinho da Madeira, o ignorante. Marcelo meteu Trump no bolso quando ele fez aquela piada sobre Cristiano Ronaldo poder um dia vir a ser Presidente da República Portuguesa: “Há uma coisa que tenho de lhe dizer”, disse Marcelo, o espectacular, “Portugal não é bem como os Estados Unidos”. Uau, que espectáculo. E aquela pose na cadeira? Marcelo de mãos nas ancas, braços abertos e olhar négligé (Marcelo fez um olhar em francês só para relembrar Trump que ele não é Macron) – parecia que estava a dar a volta de honra à arena do Campo Pequeno após ter conquistado duas orelhas e um rabo. Já disse que Marcelo esteve espectacular?

E foi isto. Às vezes somos um país tão pequenino e tão ridículo que até dói. Foram ler o que é que a imprensa americana escreveu sobre esse tão grande e heróico encontro? Isto: as respostas de Donald Trump sobre quem deverá ser o próximo juiz do Supremo Tribunal de Justiça após Anthony Kennedy anunciar a sua saída. Nessas notícias made in USA, Marcelo existe apenas como peça decorativa: “Sitting next to the president of Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, in the Oval Office, Trump told reporters that his next nominee will likely come from...” E assim por diante. Não tem mal nenhum, e é perfeitamente natural que as coisas sejam descritas desta forma: Portugal é um país politicamente irrelevante no xadrez mundial, mas com uma comunidade de certa dimensão nos Estados Unidos (1,5 milhões de luso-descendentes, o único número que Trump memorizou para o encontro) e uma base militar com alguma importância nos Açores, o que lhe granjeia um pequenino naco de uma longa tarde de Donald Trump.

Querer transformar este inconsequente encontro de Marcelo no filme Mrs.Padeira de Aljubarrota Goes to Washington é, pura e simplesmente, patético. Sim, Marcelo tentou aproveitar os 15 minutos de fama na Casa Branca falando muito e depressa. E Trump, a sonhar com o Supremo, tentou ser bem-educado, abanou a cabeça em aprovação enquanto Marcelo desfiava a sua trívia luso-americana, disse várias vezes “that’s right” só para fingir que estava atento, ensaiou uma piada sobre Cristiano Ronaldo, e quando falou de assuntos sérios (acordos de comércio) declarou que os Estados Unidos estão a negociar com os “representantes” de Portugal, ou seja, a União Europeia – que é aquele sítio onde a padeira 2.0 vai comprar pá, trigo e levedura. Portugal não tem de se rebaixar diante dos grandes países do mundo, e muito menos perante o imprestável Trump. Mas a sobranceria de tantos comentários portugueses a que assisti nos últimos dias não tem pés nem cabeça. Para aquele ser um grande embate mediático entre David e Golias era necessário que o Golias tivesse reparado no David. Deixem-me dar-vos uma má notícia: não reparou.

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Hoje, o JMT foi cáustico demais...

29 junho 2018

Hoje há pintura...

Sandro Botticelli
1445-1510
pintor italiano
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A Primavera 

28 junho 2018

São quadras, meu bem!... São quadras...

Com vergonha de ser vista,    
de quarto em quarto girando...
não há ninguém que resista
ao ver a Lua chorando...

27 junho 2018

Humor antigo...

Com o traço de…
…autor desconhecido

Isto é para que o senhor páre de me chamar
“minha ondinha quente”, ouviu?!…
 

26 junho 2018

Eles foram professores do Liceu...

José Maria Mendes
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Tomou posse como Médico Escolar Definitivo que lhe foi dada pelo Reitor Cipriano Dordio, em 26 de Março de 1951.
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Dr. José Maria Mendes

25 junho 2018

Escrito no vento...

Estamos a caminho do êxito quando compreendemos que o fracasso não passa de um desvio.”
W.G.Milner Jr.

23 junho 2018

Parabéns!...23 de Junho

O meu irmão Olímpio faz anos hoje.
Aqui lhe deixo um abraço cheio de amizade
e o desejo de um belo dia de aniversário

em boa companhia...
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Eng. Olímpio Mendes de Matos

22 junho 2018

Escrito na pedra...

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In “Público
13.06.2018
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Quando a propósito de uma ideia se diz que se está em princípio de acordo, isso significa que não se tem a menor intenção de a pôr em prática.
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Otto von Bismark
1815 – 1898
estadista

21 junho 2018

Humor antigo...

com o traço de
Don Flowers
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- Das duas uma: ou pagas a renda do apartamento ou eu caso com o senhorio...

20 junho 2018

Por onde anda...

… o nosso dinheiro!
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No local de maior destaque da primeira página do "Público"
podemos ler hoje este título:
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"BCP decide não emprestar mais dinheiro 
a clubes de futebol."
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Regulamento interno determina que (o) 
banco não pode voltar a emprestar a clubes de futebol.
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Só a dívida do Sporting ao BCP atingia os 150 milhões de euros 
no final de 2017.
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No interior, com um título destacado, a notícia continua:
BCP formaliza travão nos empréstimos ao futebol.
Parceiro histórico do Sporting já tinha instruções para não aumentar exposição aos clubes. Agora, através da actualização do regulamento interno, acaba de vez com os financiamentos a este universo.
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Depois de vários anos a financiar de forma expressiva vários clubes de futebol, o Millennium BCP já não o poderá fazer. Miguel Maya, o novo presidente-executivo, acaba de inscrever no regulamento interno que o banco não pode voltar a conceder empréstimos a clubes de futebol, não só pelo risco que incorporam, mas por não serem o seu core business (actividade estratégica).
(…)
A decisão de Miguel Maya de inscrever agora no regulamento do BCP a proibição de dar financiamento aos clubes surge numa altura em que a relação do Sporting com a banca portuguesa se tornou explosiva.
Em Setembro de 2017, as responsabilidades do Sporting perante terceiros atingiam 330 milhões de euros.. Deste bolo 220 milhões de euros eram dívidas da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) leonina ao BCP e ao Novo Banco. A maior parte da exposição da SAD à banca, cerca de 130 milhões de euros, está relacionada com os VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis), enquanto os restantes 95 milhões de euros são empréstimos puros. Já as dívidas à banca do clube de Alvalade totalizam 80 milhões de euros.
(excerto do texto de Cristina Ferreira, no Público de hoje, dia 20.06.2018)
(…) 
Que banca é a nossa que deixa chegar as dívidas até este ponto?!!...
Alguém há-de pagar a conta… Normalmente o Zé que não bufa

19 junho 2018

Escrito na pedra...

Escrito na pedra…
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In “Público
01.03.2018
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Não existirá justiça enquanto um homem com uma faca ou uma arma puder destruir aqueles que são mais fracos do que ele.
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Isaac Singer
1902 – 1991
Nobel da literatura

18 junho 2018

Mesmo que fujas...

Um poema que
António Salvado
publicou no seu último livro
"A desejada margem".
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António Salvado 
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Mesmo que fujas…
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Mesmo que fujas… sairás de mim?
Se incauta te esconderes,
será que a tua ausência peregrina
aqui virá erguer-se?
Porque de igual relógio
somos ponteiros algo diferentes
num mostrador girando… em permanentes
e contínuos acordes?
Nesta paisagem de sombrias árvores,
de sinuosos rios,
existirá p’ra sempre o teu lugar:
não queiras ir além dos desafios
que te farão gelar,
que poderão ferir-te.

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António Salvado
In. “A desejada margem
Ed. Fevereiro/2018
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NB - Meu caro António, 
       Quis contactar contigo no dia 9 de Junho…
       O número do teu telefone que tenho agendado já passou 
       à história!... 
       Envia-me o actual quando puderes, por favor.
       jjmatos

17 junho 2018

Fiquei emocionado...

...quando esta tarde li a Homenagem póstuma que o 
Jorge Paulino Pereira 
dedicou ao
Ronald,
seu Amigo de infância, recentemente falecido:

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Ronald e Jorge Paulino Pereira
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AINDA (E SEMPRE) O RONALD

Companheiro,
É triste ver-te partir tão cedo.
Vou sentir muito a falta do “Máámen” que gritávamos como crianças sempre que atendíamos as chamadas telefónicas um do outro!
Para além da família, deixas uma multidão de amigos que te viam como uma referência. Não tanto pela irreverência dos tempos de juventude, nem só pela alegria de viver ou pela força que tinhas em contornar com sucesso as contrariedades da vida. O que fazia realmente a diferença era a maneira como só tu sabias relacionar-te com os outros, estabelecendo elos entre toda a gente que te conheceu e te admirava. Eras como um catalisador das relações humanas, eras o ponto de encontro entre novos, velhos ricos ou pobres, humildes ou eruditos. Bem me lembro, tanto da forma eloquente como discursaste na Gulbenkian frente ao Primeiro Ministro, como da mesma forma conseguias falar ao coração dum quase sem abrigo prestes a ser transplantado: eles precisaram de ti, e do teu exemplo.
Nunca vou esquecer como nos divertias a contar o comentário do funcionário da emigração no Aeroporto de Miami, quando te carimbava o teu passaporte americano dizendo “Welcome home, son”, ou nos relatavas as diversas peripécias da tua longa estadia laboral na Arábia Saudita. Ou, mais de tudo isso, a maneira preocupada e eficaz com que cuidaste do teu irmão, e o teu empenho pelas tuas filhas de quem tu genuinamente te orgulhavas.
Enfim, a tua melhor qualidade foi talvez fazer de cada um de nós um melhor ser humano, depois de conviver contigo.
Infelizmente, não vou estar presente na tua despedida (eu nunca gostei de despedidas), mas qualquer crente como eu tem a certeza de que, onde quer que estejas, alguém que vela por nós todos te segredará ao ouvido, em todas as línguas do Universo e com um sorriso:

“Bem-vindo a casa, meu filho”.
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em 17/06/2018
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NB - Comovi-me e dei comigo a limpar umas lágrimas 
que surgiram… e a lembrar-me de ambos quando 
ainda eram uns miúdo. Mas o tempo passa, mais 
depressa para uns do que para outros.
JCB. 

O humor de Neymar...

...num excerto de um artigo do jornalista
Tiago Pimentel
publicado hoje, 17 de Junho, no jornal
"Púbico"
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Neymar
o mais caro do mundo
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De resto, o futebolista mais caro de sempre (trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain, poe 222 milhões de euros), mostrou-se inabalável em entrevista a um canal de televisão:
"Modéstia à parte, sinto-me o melhor jogador do mundo. Messi e Cristiano Ronaldo são de outro planeta, então eu sou o melhor."
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… e depois do jogo de ontem disputado pela Argentina, até o nome de Messi poderia "desaparecer" desta "graçola" do Neymar...

Ser livre...

"Ser livre não é um estado, é uma condição permanente, eu tenho de pensar na minha liberdade todos os dias."
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António Barreto
in. "jornal i"
15.06.2018

16 junho 2018

Humor antigo...

...com o traço
de René Caillé
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- Ó senhora professora: os meus camaradas e eu  preferíamos que nos falasse àcerca da Marilyn Monroe, da Sofia Loren e doutras que tais. em vez da D.Maria I  do D.Afonso Henriques…

15 junho 2018

São quadras, meu bem!... São quadras.

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Muitas das coisas que dizes
Afinal não são verdade.
Mas, se nos fazem felizes,
Não podem ser por maldade...

14 junho 2018

Morreria contente...

...num poema que
Fernando Pessoa
escreveu com o heterónimo
Alberto Caeiro
e a que tem como título
Quando vier a Primavera,

       
                                Alberto Caeiro                           

Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

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Alberto Caeiro,
in "Poemas Inconjuntos"


13 junho 2018

Hoje há pintura...

Jean-Honoré Fragonard
1732- 1806
pintor francês

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Psiché mostra às irmãs as prendas de Cupido (1753)
in. "National Gallery"

12 junho 2018

Escrito na pedra...

in. “Público”
04.06.2018
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“A cura para qualquer coisa é a água salgada - suor, lágrimas ou o mar salgado.”
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Karen Blixen

1885 - 1962
escritora dinamarquesa

11 junho 2018

Talvez deseje..

"Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama."
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Agostinho da Silva,
in "Sete Cartas a um Jovem Filósofo"
via Custódia Madruga,
em 01.06.2018

10 junho 2018

Escrito na pedra...

in "Público"
06.06.2018
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" O professor merece reverência, a começar pelo que representa, pelo simples facto de ser professor. A partir do momento em que se mina esse sentimento, tudo pode acontecer."
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João Lobo Antunes
1944-2016
neurocirurgião

09 junho 2018

O tempo e a progressão...

E acabar de vez com as progressões automáticas?.
... é o título de um artigo de 
João Miguel Tavares
na sua coluna do "Público" denominada
"O respeitinho não é bonito",

em 7 de Junho
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João Miguel Tavares
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Agradecia muito que uma alma caridosa me desse uma boa justificação para a existência na função pública, no ano de 2018, desse extraordinário conceito que é a progressão automática na carreira em função dos anos de serviço. Qual é exactamente a razão para tal mecanismo? É um prémio que a empresa dá ao trabalhador por ele se manter vivo? “Muitos parabéns, senhor Aníbal, aqui tem mais 50 euros mensais por se ter destacado a não falecer de forma exemplar ao serviço desta empresa!” Isto não tem lógica.
Anda por aí uma gritaria doida sobre se o Estado tem ou não capacidade para contar dez anos de carreira dos professores — mas a reivindicação só é um problema porque esses dez anos de senioridade docente custam muitas centenas de milhões de euros aos cofres do Estado em promoções automáticas. Ora, mais uma vez, não vejo debater aquilo que realmente importa: interessa-me pouco saber se os anos de serviço devem ou não ser contados; importa-me muito saber se faz algum sentido que o tempo a exercer uma profissão se traduza em aumentos automáticos de vencimento, quer o trabalhador se tenha comportado de forma exemplar, quer tenha sido uma lástima.
A minha resposta a este estado de coisas é um rotundo “não”. Não, não é justo. As progressões automáticas deveriam ser exterminadas de vezhouvesse coragem para isso, que obviamente não há. Esta é mais uma das inúmeras injustiças que distorcem o mercado laboral neste país e que ignoram a importância do mérito. Note-se: eu compreendo que uma empresa (ou um ministério) premeie os anos de serviço dos seus melhores trabalhadores, já que tem interesse em continuar a contar com eles. A experiência acumulada é evidentemente um valor. Mas não é um valor só por si. Ou seja, não é um valor independentemente de quem o pratica. Um bom professor com muitos anos de experiência é uma mais-valia para qualquer escola. Um mau professor com muitos anos de experiência é apenas alguém que prejudicou a escola durante imenso tempo — qual é a razão para ele ser premiado por isso?
Pior: a impossibilidade de despedir os funcionários públicos, em conjunto com a impossibilidade de não promover certos funcionários públicos, é uma estátua ditirâmbica à absoluta mediocridade. Um óptimo professor com 30 anos tem alta probabilidade de ganhar muito menos do que um péssimo professor com 50 anos. As chamadas “carreiras especiais da função pública” — professores, enfermeiros, polícias, militares, funcionários judiciais, ou seja, grupos de pressão que convém engraxar — beneficiam de privilégios únicos e profundamente injustos. Nessas “carreiras especiais” as progressões dependem sobretudo do tempo de serviço (ainda que nalguns casos possam existir modelos de avaliação), enquanto a progressão nas “carreiras gerais” (tal como em todo o sector privado, já agora) tem como base sobretudo a avaliação de desempenho.

Há gente que gosta de pedir “exemplos concretos” sempre que se fala em reformas estruturais, em particular na função pública. Pois aqui está um. A progressão automática por tempo de serviço, sobretudo no quadro de um Estado cada vez mais envelhecido, é um privilégio injustificável no Portugal actual. Qualquer pessoa consideraria ridículo que o número do cartão de cidadão de um indivíduo servisse para aferir a sua qualidade profissional. Mas as progressões automáticas são precisamente isso — quanto mais baixo o CC, maior o ordenado. É iníquo. É discriminatório. E é aberrante.
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in. "Público"
07.06.18

08 junho 2018

Play it again, Sam...

Há vinte anos tinha uma coluna semanal
no "Público" sempre muito interessante.
Esta foi publicada em 21 Nov 1999
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Ricardo França Jardim
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A minha música preferida? Assim de repente baralhei-me. Para cúmulo estava numa operação de charme, a preparar um programa para a RTP Madeira, vadiagem por afectos e memórias do antigamente. E há que dar uma boa imagem pessoal, porque como dizia Erving Goffman, “o Eu (ou “self”, à inglesa) á a projecção da imagem que pensamos que os outros quem dar”, melhor dizendo, da imagem que queremos representar perante os outros. E ficaria mal admitir que só me ocorria uma modinha dos anos cinquenta, chamada “Ó rosa arredonda a saia, ó Rosa arredonda bem…”.
Deveríamos estar em Junho, porque tenho a ideia de a ouvir pela primeira vez numa “Festa da Cereja” que se realizava num cu de judas chamado Jardim da Serra. Nesse tempo, não sei se por influência da ditadura, se por oligofrenia dos compositores, as letras eram sempre muito assertivas, “Ó Rosa arredonda a saia”, “Ó careca tira a bóina”, “Ó Zé aperta o laço”, “Olha o polícia sinaleiro”, “Olha a malinha de mão” e “Olha o cochicho da menina” Levei 45 anos, tantos quantos trago de alfabetização para vencer a inércia e apurar a semântica desse significante. Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 5ªEdição, página 331. “Cochicho – acto de cochichar; pássaro da família das Aláudidas (parece uma dinastia árabe), vulgar em Portugal, também conhecida por calandra ou calhandra; chapéu velho; brinquedo que imita o canto do cochicho; casa ou compartimento pequeno”. Fico-me pela ave e pela última hipótese. E questionando sobre a localização do compartimento capaz de albergar um passarinho no todo anatómico da menina, concluo que tal cantiga foi o expoente máximo da brejeirice erótico-satírica da época do doutor Salazar.

Estas canções estão ligadas à memória das telefonias sem fios aparelhos de grandes antenas a darem duas voltas ao quintal. Para mim aquilo era misterioso. De onde viriam os sons? Cheguei a admitir a hipótese de minúsculos anões, espécie de gnomos, metidos dentro de caixotes. Mas espreitava, espreitava, e só via válvulas que no rufado do aquecimento pareciam ovos a frigir. Para adensar o mistério, no Caminho dos Barreiros, a uma curva, entre bananais, havia uma pequena vivenda soterrada por uma floresta de postes. Era o posto do Cambado, nome oficial, Estação Rádio da Madeira. Às tardes, por volta das seis, abria o programa de MÚUSICA SOLICITÁÁAADA a cinco patacas cada disco, ATENÇÃO, Atenção Beco das Portadas, atenção menino Zezinho… É verdade que faz anos hoje? Pois os seus padrinhos muito amigos mandam-no apertar o laço… ATENÇÃO, Atenção, sítio do Jamboto, Santo António, atenção dona Gorete Freitas… ouvimos dizer que está de partida. Uma pessoa que muito lhe quer, pede licença para lhe oferecer uma malinha de mão. E a publicidade. “Vai para a Venezuela, Curaçau, ou Miami? Não ande para a frente nem para trás, dirija-se directamente à agência Ferraz. Bom tempo e bom vento só no paquete Surriento.” “Surriento. Almoço, jantar e ceia, mesa farta e garrafa cheia.”. Não há dúvida. Somos um país de poetas.
Bom, despistei-me. Estava a preparar um programa de televisão e tinha de escolher uma música e parecia mal  a “Rosa arredonda a saia”, havia que dar um ar intelectual “demodé”. Puxei pelos neurónios e saiu o “Summertime”. Gershwin fica sempre bem. Outra música??? Olha, o “Over the Rainbow”. Ouço-o ciclicamente, interpretado pelo Stan Getz em tenoesax. “Ah, é o tema do Feiticeiro de Oz”, sorriu amargamente a entrevistadora, que tem uma criancinha de onze anos e já viu essa fita mais de duzentas vezes. Confesso, gosto muito da Judy Garland, mas nunca aguentei 5 minutos. Nessa altura entrou o pianista e disse que o “Over the rainbow” é sempre a mesma toada, dlim dim dim  e volta ao princípio, porque o compositor ficou amnésico e repetia os acordes até que um aspectador chateado lhe atirou com uma garrafa à cabeça e veio o 115, nii nóó, nii nóó nii, aí o homem recuperou a memória e engatou no ritmo, dlim dim dim, nii nó+o, ni e por aí adiante. Perceberam? É uma anedota só para músicos que por muito que ouça uma melodia, sou incapaz de a cantarolar, tenho orelhas como toda a gente, mas falta-me o ouvido musical. A pontos de, no primeiro ano de Canto coral no lIceu, quando os meus colegas iam no Nobre Povo, do Hino Nacional, eu já disparava os canhões da estrofe final. E o professor, um tal cónego Agostinho Gomes, tentou afinar-me o ouvido agarrando o lóbulo da orelha entre o polegar e o indicador e torcia e retorcia e rodava como quem sintoniza um rádio e nem assim conseguiu. E desistiu e dispensou-me das aulas. De modos que descurei a educação musical e aqui estou a substituir o “Over the rainbow” por outra música cujo nome nunca me ocorre (mas perguntei à minha filha e ela garante chamar-se “As time goes by” e até escreveu num papelinho), porque adoro aquela cena do “Casablanca” quando a Ingrid Bergman se dirige ao pianista e pede “Play it again, Sam”, perante a fúria comovida do Bogart, porque no fundo sou um romântico envergonhado…”  

07 junho 2018

Hoje há pintura...

Paul Cézanne
1839 - 1906
pintor francês

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Mardi Gras ou Pierrot et Arlequin 
in. Museu Pouchkine, em Moscovo.

06 junho 2018

Fotos do Liceu de Castelo Branco...

Grupo de alunas
em 1949...
… entre as quais, as manas Bidarras:
A Maria Luisa, a Maria Regina e a Cilinha

05 junho 2018

Eles foram professores do Liceu...

Joel Justino Baptista Serrão
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Foi professor efectivo do 4ºGrupo (Filosofia e História) que chegou ao Liceu de Setúbal no ano lectivo de 1950/51, depois de ter tomado posse por procuração passada em nome do professor auxiliar Carlos Frederico Montenegro de Sousa Miguel, em 25 de Julho de 1950. Joel Serrão exerceu, durante os seus quatro anos passados no Liceu, o cargo de Director de Ciclo.

Joel Serrão nasceu no Funchal em 1919 e faleceu em Sesimbra a 5 de Março de 2008.(*) 
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosófica pela Faculdade de Letras de Lisboa.

Depois do ano lectivo de 1953/54, concorre ao Liceu de Passos Manuel onde se encontrava ainda em 1962.

Mais tarde surge como professor do Instituto Superior de Economia e da Faculdade de Letras, em Lisboa. Foi membro do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian.
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Joel Serrão
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(*) Na altura própria publiquei, neste blogue, um post sobre este acontecimento:
Joel Serrão morreu anteontem, dia 5 de Março, em Sesimbra, aos 88 anos de idade.
Historiador, autor de trabalhos fundamentais sobre o século XIX português, ainda hoje considerado uma referência, e estudioso da obra de escritores como Quental, Cesário Verde ou Fernando Pessoa, Joel Justino Baptista Serrão foi também. professor efectivo do 4ºGrupo (História), no Liceu Nacional de Setúbal, nos anos de 1950 a 1953.
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De Joel Serrão diz o ensaísta e grande pensador Eduardo Lourenço:
"Foi um dos grandes, uma figura verdadeiramente marcante da cultura portuguesa do século XX".
"Era um trabalhador incansável, coisa sempre pouco vulgar em Portugal".
Serrão esforça-se por repensar a História de Portugal, e em particular a do século XIX, (…) mas também as suas pioneiras reflexões em torno da obra de Pessoa e os estudos que dedicou a poetas como Antero de Quental, Cesário Verde ou Eugénio de Andrade.
Lourenço vê-o como "o último grande discípulo de António Sérgio", ainda que "não fosse sergista no sentido de uma fidelidade absoluta, porque era uma pessoa de grande independência e sentido crítico". Aludindo à doença de que Joel Serrão sofria, Lourenço diz que "o país não se deu conta de que ele desaparecera e estava entre parêntesis há já muitos anos". E embora admita que "tenha sido por pudor que não se fez nada", o ensaísta confessa achar mais provável que a explicação esteja na "inconsciência cultural portuguesa, que só acorda quando as pessoas morrem".
Cfr. Luis Miguel Queirós, in "Público" (hoje).

Hoje, a bandeira nacional deveria estar içada a meia haste na Escola onde deu aulas no início da década de cinquenta...mas não está!...

04 junho 2018

Fora melhor dormir...

… num soneto que 
António Nobre
escreveu em Belos Ares, 1889.
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António Nobre
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Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios:
Deslizam vagarosos, como os Rios,
Sucedem-se uns aos outros, igualmente.
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Nunca desperto de manhã, contente.
Pálido sempre com os lábios frios,
Ora, desafiando os meus rosários pios…
Fora melhor dormir eternamente!
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Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, lábio vermelho!
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Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim enquanto moço,
O que serei, então, depois de velho.
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António Nobre
in. "Só"
Ed.Livraria Tavares Martins
Porto - 1968