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04 junho 2018

Fora melhor dormir...

… num soneto que 
António Nobre
escreveu em Belos Ares, 1889.
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António Nobre
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Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios:
Deslizam vagarosos, como os Rios,
Sucedem-se uns aos outros, igualmente.
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Nunca desperto de manhã, contente.
Pálido sempre com os lábios frios,
Ora, desafiando os meus rosários pios…
Fora melhor dormir eternamente!
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Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, lábio vermelho!
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Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim enquanto moço,
O que serei, então, depois de velho.
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António Nobre
in. "Só"
Ed.Livraria Tavares Martins
Porto - 1968

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