O "sim" à eutanásia perdeu - mas vai ganhar.
... é o título de um artigo de
João Miguel Tavares
na sua coluna do "Público" denominada
"O respeitinho não é bonito"
... é o título de um artigo de
"O respeitinho não é bonito"
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João Miguel Tavares
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Se os referendos não foram inventados para consultar
os cidadãos sobre questões tão complexas e íntimas
quanto esta, sinceramente não sei para que é que servem.
Sim, é só mesmo uma questão de tempo, mas em democracia é importante que as coisas sejam feitas da forma certa, no momento certo. Mais cedo que tarde, a prática da eutanásia vai ser legalizada em Portugal, pela simples razão de que quem a deseja luta por ela com muito mais energia e afinco do que quem não a deseja. Já aconteceu assim com a legalização do aborto. Contudo, a aprovação da eutanásia no Parlamento em 2018 estaria sempre ferida de falta de legitimidade democrática, e chumbá-la foi a decisão certa: o tema não constava dos programas eleitorais dos maiores partidos; não foi convocado um referendo; o debate não foi tão alargado e profundo quanto o tema merecia; há dúvidas fundamentadas de constitucionalidade que têm de ser esclarecidas; e Marcelo Rebelo de Sousa iria certamente vetar a lei se ela fosse aprovada pela margem mínima. Para quê, então, fazer as coisas mal e atabalhoadamente, se se podem fazer bem e de forma ponderada?
E fazer bem feito significa fazer assim:
Em primeiro lugar, os partidos devem manifestar a sua posição em relação ao tema nos seus programas eleitorais, para que aquelas pessoas que são como Cavaco Silva – ou seja, que recusam votar em partidos que apoiem a legalização da eutanásia; ou que, por outro lado, recusem votar em quem não a apoia – possam dirigir-se às urnas devidamente esclarecidas.
Em segundo lugar, deve ser promovido um referendo sobre esta matéria. Se os referendos não foram
inventados para consultar os cidadãos sobre questões tão complexas e íntimas quanto esta, sinceramente não sei para que é que servem. Como explicou Luís Aguiar-Conraria no Observador, não faz sentido que um socialista que se oponha à eutanásia seja obrigado a votar no CDS ou no PCP só porque não concorda com um ponto do seu programa. Tal como um comunista ou um democrata-cristão deve poder votar no PCP ou no CDS, mesmo discordando das opções dos seus partidos nesta matéria. A solução para este impasse (e para as angústias do professor Cavaco Silva) passa obviamente pelo referendo.
A nossa primeira obrigação nestas matérias é manter a clareza da linguagem e a resistência às demagogias – e tão demagogos são aqueles que para criticar a legalização da eutanásia inventam espantalhos que pura e simplesmente não existem na lei (tipo: a aniquilação de todos os doentes incómodos); como são aqueles que enchem a boca com os grandes méritos da descriminalização, quando aquilo que na prática estão a fazer é criar uma estrutura estatal e um mecanismo burocrático de execução de doentes a pedido, dentro dos hospitais públicos. Não se pode invocar o liberalismo para dizer “deixem passar a eutanásia, porque só a pratica quem quer”, e depois, no final, requisitar os impostos de toda a gente para pagar a conta.
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By João Miguel Tavares
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By João Miguel Tavares
in. "Público"
31.Mai.2018
31.Mai.2018
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