Hoje, no seu Espaço, das quintas-feiras, no Público.
O PS não vai perder as eleições este sábado porque o PS não vai a eleições. A última vez que o PS foi a eleições foi em Fevereiro de 2005. Algum tempo depois dessas eleições o PS saiu de cena, ficando em seu lugar e em seu nome algo que progressivamente fomos designando como máquina. A máquina explicava tudo. A máquina justificava tudo. A máquina ultrapassava tudo. Aquilo que até podia deixar embaraçado um Governo, como foram os casos da demissão do ministro das Finanças, Campos e Cunha, escassos cinco meses após o executivo ter tomado posse; a demissão da equipa do Plano Tecnológico antes sequer de este último ter sido apresentado ou o afastamento do então director da PJ, Santos Cabral, não causavam agora mossa alguma. A máquina de tudo dava conta.
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Creio que ninguém sabe bem onde começa e muito menos onde acaba a máquina. Mas durante anos vivemos no culto da máquina. Vieram o Freeport, a Nova Setúbal, a Cova da Beira. Depois foi a vez do curso ao domingo e com exames por fax, as casas da Guarda, a compra da TVI, o Tagus Park... e de cada um destes casos nada de concreto se apurou a não ser que a máquina soube lidar com eles.
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Em 2009 já foi a máquina e não o PS a ganhar as eleições. Essas legislativas representam aliás o apogeu da máquina não só pela habilidade com que trucidou os que identificava como adversários mas sobretudo pela sua capacidade de levar as pessoas a integrarem-se na sua lógica: perante os factos, não há responsabilidade moral, apenas criminal. Logo, se não se é constituído arguido, não se fez nada de errado.
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Aquilo a que estamos a assistir nesta campanha é precisamente à luta entre a máquina e a realidade. A máquina partiu para esta campanha com um guião que podia ser perfeito caso não excluísse a realidade: obrigar Passos Coelho a justificar-se todos os dias, de preferência duas vezes. De 24 em 24 horas alguém da máquina dizia-se chocado e indignado com Passos Coelho
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Em 2009 já foi a máquina e não o PS a ganhar as eleições. Essas legislativas representam aliás o apogeu da máquina não só pela habilidade com que trucidou os que identificava como adversários mas sobretudo pela sua capacidade de levar as pessoas a integrarem-se na sua lógica: perante os factos, não há responsabilidade moral, apenas criminal. Logo, se não se é constituído arguido, não se fez nada de errado.
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Aquilo a que estamos a assistir nesta campanha é precisamente à luta entre a máquina e a realidade. A máquina partiu para esta campanha com um guião que podia ser perfeito caso não excluísse a realidade: obrigar Passos Coelho a justificar-se todos os dias, de preferência duas vezes. De 24 em 24 horas alguém da máquina dizia-se chocado e indignado com Passos Coelho
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Ao longo de toda esta campanha Sócrates disse muito claramente o que pensa de Passos Coelho, mas não disse como pensa governar o país.
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De repente, havia dois textos do acordo com a troika (haveria ainda de aparecer uma terceira) e quase ao mesmo tempo o palco itinerante que acompanha o líder do PS deixou de ser uma maravilha e revelou-se um cenário que esconde as praças vazias.
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A campanha socialista acabou por ficar reduzida à máquina e prisioneira dela, com Sócrates literalmente encapsulado pela máquina, pelas bandeiras da máquina, pela vozearia da máquina... e o povo à distância.
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A campanha socialista acabou por ficar reduzida à máquina e prisioneira dela, com Sócrates literalmente encapsulado pela máquina, pelas bandeiras da máquina, pela vozearia da máquina... e o povo à distância.
Quanto ao PS, o grande ausente ideológico e político desta campanha, espera-se que depois de sábado perceba que a sua rendição à máquina o fez desperdiçar aquele que podia ter sido o momento certo para reformar o país: a maioria absoluta que Portugal lhe deu em 2005.
Há erros que se pagam muito caro e este desgraçadamente é para ser pago por todos nós.
Helena Matos, ensaísta
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