Na sua Crónica de hoje, no "Público", Santana Castilho "vasculhou", com oportunidade, um pouco da memória da Inglaterra na época que antecedeu a 2ªGuerra Mundial.
Num artigo a que deu o título "Quem faliu não foi ele, fui eu - O poder do silêncio", podemos ler, em certa altura:
"O chefe da equipa do FMI foi claro quando referiu, publicamente, que a situação a que chegámos, isto é, não termos reservas para satisfazer compromissos se não vierem em nosso socorro já em Maio, obrigaria a que o pedido de resgate tivesse sido apresentado há muito tempo.
Santana Castilho
Mais adiante, Santana Castilho dá-nos conta de um facto histórico, passado na Inglaterra. Chamberlain, membro do Partido Conservador, foi o primeiro-ministro do Reino Unido, de 1937 a 1940.
Quando Chamberlain compreendeu que não era o primeiro-ministro adequado a liderar o Reino Unido em guerra, escolheu, ele próprio, como era tradição no partido conservador inglês, o seu sucessor. Designou lorde Halifax. Mas Chamberlain queria um Governo forte e sabia, por isso, que era indispensável que Churchill fizesse parte do elenco. Convocou-o e disse-lhe:
- "Halifax é o melhor, mas temos necessidade de si. Aceita ser o número dois?"
Churchill, por patriotismo e por dever, por essa autêntica grandeza que é a abnegação face a um interesse superior, disse que sim.
Horas depois, um homem que tinha talento, lorde Beaverbrook, magnata da imprensa inglesa, pediu a Churchill para o receber com urgência e disse-lhe:
- "Não é possível! Aceitou que seja Halifax o primeiro-ministro?"
Churchill respondeu que se tratava de um negócio de Estado e que não o iria discutir com ele. Beaverbrook insistiu. Churchill respondeu que não tinha outra saída. E Beaverbrook voltou à carga:
- "É um crime contra a Nação! Só você poderá mobilizar a Grã-Bretanha."
No fundo, Churchill concordava com Beaverbrook. Mas objectou que tinha dado a sua palavra e que não voltaria atrás.
Então, Beaverbrook disse:
- "Peço-lhe, ao menos, uma coisa. Quando for convocado por Chamberlain, com Halifax, e Chamberlain lhe perguntar se confirma a sua aceitação, fique em silêncio durante três minutos. Três minutos completos. Cento e oitenta segundos, antes de dizer sim. Em nome da Inglaterra, peço-lhe!"
Churchill achou isto impertinente e não viu como isto poderia mudar a situação. Mas, como tinha amizade e estima por Beaverbrook, prometeu-lhe que o faria. No dia seguinte, Churchill e Halifax encontraram-se no gabinete de Chamberlain, na Downing Street.
Chamberlain pediu a Churchill:
- "Pode confirmar, se faz favor, a lorde Halifax, que aceita fazer parte do seu Governo?"
E Churchill ficou calado. Passou um minuto, e Churchill continuava em silêncio. Minuto e meio depois, Churchill permanecia em silêncio. Ainda não tinham transcorrido os três minutos, lorde Halifax não aguentou, exclamou e saiu:
- "Creio que é Winston Churchill que deve ser o primeiro-ministro!"
O mínimo que se poderá dizer é que estes três minutos tiveram um papel da máxima importância na história da Segunda Guerra Mundial.
"Eis o poder do silêncio!"
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