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23 maio 2023

O Governo parece...

 ... o "Sozinho em Casa"
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Mais Galamba menos Galamba, deve ficar tudo na mesma e António Costa prosseguirá a caminhada para o desastre coletivo.
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Eduardo Oliveira  Silva
(Jornalista)
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1. O Governo parece o “Sozinho em Casa”. Faz asneiras sucessivas. Não vale a pena perder muito tempo com as joão-galambices do próprio e de outros. O problema está mesmo na falta de sentido de Estado, amplamente demonstrada, sábado, na arrasadora intervenção de Cavaco Silva. Uma pedrada no charco! O ex-Presidente não se limitou a denunciar o desastre da governação de António Costa e a incentivar Montenegro, fazendo-lhe um guião de estratégia que recentra o PSD na social-democracia legada por Sá Carneiro, afastando-o pré-eleitoralmente dos liberais e do Chega. Cavaco deixou ainda um recado ao seu sucessor em Belém, lembrando-o que em democracia há sempre soluções. Uma seria, como sugeriu, a tomada de consciência por parte de António Costa que o levasse a demitir-se. Cavaco fez uma análise duríssima, mas realista, da situação. Como dizem depreciativamente os trasmontanos, estamos entregues a “uns quaisquer”. A degradação é, lamentavelmente, ilustrada pelas picardias entre os dois principais responsáveis do país, o Presidente e o primeiro-ministro. Chegam ao ponto de um comer gelados, ir ao multibanco ou dar um jeito na calçada em momentos críticos, usando um discurso de indiretas e imagens. o outro não encontrou melhor do que ir a um concerto rock no momento em que um seu ministro o envolvia num caso de intervenção ilegal dos serviços secretos. Neste rol surgiram até anúncios de comunicações aos jornalistas, em Belém, que foram depois inexplicavelmente desconvocadas. É, entretanto, óbvio que António Costa já não tem noção dos erros que comete e deixa cometer. Não vale a pena procurar um racional em tudo o que vivemos porque não há. O Governo está em autogestão. Costa vive em negação permanente e não vai mexer nele tão cedo. O “galambagate” e os seus desenvolvimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) não ilustram apenas um país à deriva e uma classe dirigente deplorável. Traduzem um contexto em que nem sequer se consegue discutir a substância da TAP, a maior e mais importante empresa portuguesa. Pode ser cara, mas é também a que mais retorno nos dá. A falta de documentação sobre o passado recente da companhia e a prestação de quase todos os depoentes na CPI é deprimente. Há dias, por exemplo, o ex-presidente da Parpública apresentou-se no parlamento com um ar de sabichão. Mas logo vacilou quando não conseguiu explicar porque é que a operação de privatização não constava das contas do gigantesco grupo estatal que integra a companhia. São aspetos reveladores. Afinal quem gere o país? Quem mexe os cordelinhos? Quem decide preços? Quem vende e quem decide o comprador? Já se percebeu que os governantes não estão em geral capacitados para o fazer e que os seus acólitos também não têm competências para isso, além de todos terem uma relação difícil com a verdade. O mistério do Portugal de hoje é descobrir quem na verdade governa. Quem são os novos donos disto tudo? Quem são os mandantes e as marionetas? O nível de laxismo e de incompetência é desolador. Há de dar jeito a interesses a circunstância do ministro das Infraestruturas (onde estão os supernegócios) não dominar o plano estratégico da TAP, que não leu todo ou de todo. Esse ponto é mais grave do que ter um gabinete onde há lambadas a granel, polícias e espiões à mistura e supostos roubos de computadores e documentos. Toda a história está mal contada. Talvez as peritagens aos famosos computador e telemóvel do estranhíssimo assessor oriundo do Bloco sejam esclarecedoras, se não durarem anos a serem feitas. Para já, com mais Galamba ou menos Galamba, não é expectável que o rumo da governação do país possa ser corrigido. António Costa não é manifestamente do género de se demitir como Cavaco Silva lhe recomendou. Antes pelo contrário.
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23.05.2023

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