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13 dezembro 2020

Um poema de Miguel Torga....

...a que o autor deu o nome de
Dies Irae
.

Miguel Torga
.
Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre 
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
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in. "Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa"
de Eugénio de Andrade.

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