Maria Isabel Monteiro.
.
Isabel Monteiro
.
Acordam-me os teus passos
tão precisos
sempre no meu encalço
a vida inteira
e mesmo já depois
esmorecidos
ouvi-los,
eram sempre para mim
a vez primeira.
Acordam-me os teus lábios
junto aos meus
num alvoroço de ondas
águas salgadas
e que sem matarmos a sede
de tantas sedes
eram nesse alvoroço
as madrugadas.
Acordam-me os teus olhos
brilho de estrelas
desenhavam o meu corpo
talhado ao teu
e eram marés vazias e marés
cheias
que o teu olhar olhando
cobria o meu.
Acordam-me as tuas mãos
feitas de espuma
como se fosse um rio
que em ti corria
supremas as partilhas
nossos segredos
erguiam-se as velas
assas e quilhas
soprando ao vento
e logo o mastro alto
nos envolvia
Acordam-me teus sentidos
feitos em mim
que já em nós dois
tão confundidos
afinal tudo em mim estava
em ti
e só depois soube
somando tanto
da mágoa que me ficou
quando partiste
que entre a morte e a vida
há só ausência
já que de resto em mim
tudo persiste.
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