a que Vasco Pulido Valente
deu o título de
Revoluções
(em 16.01.2016, no Público)
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As reformas do ministro Tiago liquidarão mais.
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Vasco Pulido Valente
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Chamado por Costa, Tiago Brandão Rodrigues não hesitou em virar do avesso o sistema de ensino que por aqui encontrou.
Não se percebe como Cambridge, uma cidade universitária, tranquila e campestre nos mandou um primitivo português como Tiago Brandão Rodrigues. Verdade que o homem trabalhava lá e se passeava pelas mesmas ruas e pela mesma relva por onde tinham andado Newton, Wittgenstein e Russel. Só que nada disso lhe deu um grão de modéstia e de prudência. Chamado por Costa, não hesitou em virar do avesso o sistema de ensino que por aqui encontrou e que levara vinte e tal anos de esforço e de polémica a chegar a um relativo equilíbrio. O valente trazia um plano no saco e não hesitou em escaqueirar tudo, para abrir um “novo ciclo” de justiça para a Pátria e os professores. Pode haver quem ache esta maneira de fazer a felicidade do próximo um pouco extravagante. Se há, é gente pérfida, com razões malévolas.
A coisa vem de um livro, publicado por volta de 1970, por Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (talvez por Bourdieu sem Passeron), com um título prometedor, “Les Héritiers”. A tese geral desta obra era simples: a “classe dominante” tinha reproduzido a sua tirania transferindo o capital para a descendência; mas no mundo moderno passara a transferir o “saber” e não o “capital”. Ou seja, o seu método de “reprodução” mudara e o dever do verdadeiro socialista estava agora em destruir essa nova maquinação da burguesia. Ora como esta venenosa manobra da “classe dominante” assentava, por um lado, nos privilégios que se “herdavam” da família e, por outro, no carácter selectivo da escola, que o exame e a nota simbolizavam, o objectivo essencial era obviamente transformar a escola num lugar de prazer e acabar com o exame e a nota.
Que as criancinhas ficassem num estado de completa ou quase completa ignorância interessava pouco. A operação pelo menos destruía os filhos da “classe dominante”, que sem “capital” e sem “saber” seriam absorvidos por um igualitarismo militante; e também alegrava os professores que deixavam de responder pelo seu trabalho perante o Estado da burguesia (Bourdieu detestava os professores que ensinavam e em 1968 tentou correr com Aron da Sorbonne). Como se calculará, esta perfeita idiotia foi recebida em Portugal por meia dúzia de profetas, que durante o PREC arrasaram a “escola” a pretexto de a “sanear” primeiro e de a “salvar” a seguir. A balbúrdia que estabeleceram liquidou a vida a muita gente.
Chamado por Costa, Tiago Brandão Rodrigues não hesitou em virar do avesso o sistema de ensino que por aqui encontrou.
Não se percebe como Cambridge, uma cidade universitária, tranquila e campestre nos mandou um primitivo português como Tiago Brandão Rodrigues. Verdade que o homem trabalhava lá e se passeava pelas mesmas ruas e pela mesma relva por onde tinham andado Newton, Wittgenstein e Russel. Só que nada disso lhe deu um grão de modéstia e de prudência. Chamado por Costa, não hesitou em virar do avesso o sistema de ensino que por aqui encontrou e que levara vinte e tal anos de esforço e de polémica a chegar a um relativo equilíbrio. O valente trazia um plano no saco e não hesitou em escaqueirar tudo, para abrir um “novo ciclo” de justiça para a Pátria e os professores. Pode haver quem ache esta maneira de fazer a felicidade do próximo um pouco extravagante. Se há, é gente pérfida, com razões malévolas.
A coisa vem de um livro, publicado por volta de 1970, por Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (talvez por Bourdieu sem Passeron), com um título prometedor, “Les Héritiers”. A tese geral desta obra era simples: a “classe dominante” tinha reproduzido a sua tirania transferindo o capital para a descendência; mas no mundo moderno passara a transferir o “saber” e não o “capital”. Ou seja, o seu método de “reprodução” mudara e o dever do verdadeiro socialista estava agora em destruir essa nova maquinação da burguesia. Ora como esta venenosa manobra da “classe dominante” assentava, por um lado, nos privilégios que se “herdavam” da família e, por outro, no carácter selectivo da escola, que o exame e a nota simbolizavam, o objectivo essencial era obviamente transformar a escola num lugar de prazer e acabar com o exame e a nota.
Que as criancinhas ficassem num estado de completa ou quase completa ignorância interessava pouco. A operação pelo menos destruía os filhos da “classe dominante”, que sem “capital” e sem “saber” seriam absorvidos por um igualitarismo militante; e também alegrava os professores que deixavam de responder pelo seu trabalho perante o Estado da burguesia (Bourdieu detestava os professores que ensinavam e em 1968 tentou correr com Aron da Sorbonne). Como se calculará, esta perfeita idiotia foi recebida em Portugal por meia dúzia de profetas, que durante o PREC arrasaram a “escola” a pretexto de a “sanear” primeiro e de a “salvar” a seguir. A balbúrdia que estabeleceram liquidou a vida a muita gente.
As reformas do ministro Tiago liquidarão mais.
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