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07 dezembro 2007

Os meus heróis são outros...

É da autoria de Luís Campos e Cunha ex-Ministro do actual Governo, o texto publicado hoje no “Espaçopúblico”, do qual retirei algumas passagens com interesse.

Luís Campos e Cunha

A história é escrita pelos vencedores. Este é um princípio que os historiadores me ensinaram, mas que não sei se é sempre verdade.
(…)
…algo de estranho se passou e continua a obscurecer o 25 de Novembro.Logo em 1976, houve ordens para que o acontecimento não fosse celebrado publicamente. Porquê?
Se o PCP foi aparentemente derrotado porque continuou no Governo e a dominar o aparelho do Estado? Quem foram os actores do 25 de Novembro? Do meu ponto de vista tenho, o problema é muito complexo, tenho explicações mas não certezas. De qualquer modo, os historiadores estão tipicamente a alinhar por uma versão politicamente correcta, mas factualmente falsa.
(…)
O PCP esteve certamente envolvido até muito tarde naquilo que veio a ser a tentativa do golpe de 25 de Novembro. No entanto, parece claro que atempadamente se retirou, deixando a extrema esquerda no terreno, sozinha e, naturalmente derrotada…
(…)
O que parece também claro é que não só o PCP esteve e se retirou a tempo. Mas também que, passados anos, podemos ver que os comunistas ganharam, pelo menos em parte. Ganharam porque erradicaram a extrema esquerda do poder, ganharam porque conseguiram manter a Constituição tal qual, ganharam porque permaneceram no Governo e, muito importante, mantiveram o controlo do aparelho de Estado e que, à altura, incluía quase todo o tecido empresarial.
Tudo parece indicar que a retirada das tropas do PCP terá sido negociada por alguns elementos do chamado “grupo dos 9”, uns dias antes, a troco daquelas facilidades e concessões.
(…) Houve ainda os vencedores do dia 28 e esses apropriaram-se da vitória. O famoso comando da Amadora não passou disso: um comando famoso do dia 28 e que pouco ou nada comandou. Jaime Neves e Pires Veloso o dizem…
(…)
Temos uma vitória militar contra inimigos (da democracia) e o PCP a negociar atempadamente a sua retirada. O PCP perdeu no dia 23 (ou 24), mas não no dia 25 de Novembro. E a 28 alguém deixou que partilhasse também a vitória.
O PCP continuar a ser um partido legal era inevitável e, acima de tudo, desejável. Mas que o deixassem manter as (extraordinárias) influências no aparelho de Estado foi um erro que se pagou caro…
(…)
Quem está a escrever a história de 24 a 28 de Novembro é quem, na prática, acabou por sair vencedor (no dia 28). Esta crónica não faz parte dessa história, nem do politicamente correcto sobre o que se passou nesse período. Os meus heróis são outros.

In, “Público
07.Dez.07

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