no "Público".
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A Crónica de Laurinda A. , hoje intitulada "Para sempre", é uma delícia de ternura! E faz lembrar "coisas" que também se passaram na nossa juventude... De certo modo parece ter sido escrita a pensar também em nós…
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Laurinda Alves
(fotografada por Mariana Sabido)
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A história que conta desenvolve-se em redor de uma Amiga já com netos que "tem um ar de quem conserva ainda os amigos de infancia e se diverte tanto agora como nesse tempo"."...No dia em que voltei a encontrá-la parecia uma criança feliz. Daquelas que guardam um segredo só delas mas que estão mortas por poder contar a alguém especial. Perguntei-lhe porque é que estava ainda mais bonita do que o costume e ela sorriu sem dar resposta. (...) Puxou-me pelo braço. Fomos para um canto mais discreto e, então, confessou-me:
"Estou apaixonada!"
"Verdade?"
"Sim. Há três anos!"
"Contou-me que era uma paixão correspondida e um homem lindo. Maravilhoso, acho que foi a palavra que usou."
"(...)A história é um poema. Sessenta e seis anos ela, sessenta e sete ele e nenhum dos dois com vestígios de tempo passado. Apenas presente. Como se os dias e os anos tivessem fluído, simplesmente, uns atrás dos outros sem cavar vincos. Antes desenhando traços, acentuando expressões e aprofundando sentimentos."
"(...)Conta que se apaixonou por ele há uns anos, quando nem sonhava que a paixão era possível. Amigos, iam-se vendo e fazendo conversa avulsa. De vez em quando jantavam ou encontravam-se em casa de outros amigos. Gostavam muito de estar juntos e ficavam horas esquecidas à conversa, mas não sabiam explicar bem porquê."
"(...) De volta a sua casa(...) retomou o curso da sua vida. Divertiu-se, trabalhou, penou, teve alegrias e tristezas, mas nunca vergou. Os anos passaram e, sem saber bem como, voltou a apaixonar-se.
Devagarinho, sem ansiedade nem pressas, começou a jantar com o seu amigo uma vez em cada mês. Desatou a escrever cartas e, um dia, recebeu de volta um livro de poemas com uma dedicatória mágica."
"(...) Um dia, sem mais nem menos, agradeceu-lhe.
"Porquê?" perguntou ela.
"Por existires e seres como és."
Ela chorou e ficou ainda mais feliz. Muito baixinho, disse-me que percebia Cocteau quando dizia que o drama de envelhecer é que não nos sentimos envelhecer…"
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in. "Público"1998.12.20
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