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27 maio 2019

As eleições de ontem...

vistas por
Nuno Garoupa
no "Público"
desta manhã, numa coluna de opinião 
aque deu o título de
"Já ninguém perde eleições!
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Nuno Garoupa
(Professor na George Mason University)
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1. Tudo aconteceu como se esperava. Aumentou a abstenção, mas também a participação eleitoral. O PS foi o partido mais votado, mas o poucachinho de 2014 agora já é uma "grande vitória". O PSD e o CDS mantiveram-se nos resultados de 2014, talvez uma derrota doce. O Bloco subiu, a CDU desceu. Mas sem incomodar ninguém. E o PAN meteu o seu deputado. Os outros estão contentes e tranquilos porque o importante mesmo é participar. Ninguém realmente perdeu as eleições! Até as sondagens ganharam!
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2. E, no entanto (…) as coisas clarificam-se. A participação eleitoral está em baixa, mas em linha com os anos anteriores, ainda acima do mínimo de 1994 (portanto votaram os que sempre votam em eleições nacionais para o Parlamento Europeu apesar das lágrimas de crocodilo do regime). O PS, PSD e CDS estão nos seus mínimos ou próximo. Já só votam nestes partidos as claques respectivas; o regime esgotou a sua capacidade de encontrar novos eleitorados. Não há efeito Rangel, não há efeito Melo não há efeito Costa. Apenas fiéis. O Bloco não tem o seu melhor resultado de sempre (foi em 2009). A CDU mobilizou bastante menos (concordo aliás com Jerónimo de Sousa quando diz que eles não foram levados ao colo como o Bloco). Os pequenos partidos perderam alguns votos no seu conjunto, mas fundamentalmente dispersaram-se por muitas e variadas forças.
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3. As implicações para Outubro são claríssimas. O país continua polarizado -- boas notícias para a esquerda, péssimas notícias para a direita. O PS perdeu parte da sua base social em 2009/10, já não a recupera por muito que se esforce, não tem para onde crescer, estará abaixo dos 40% em Outubro, longe da maioria absoluta. A direita perdeu parte da sua base social em 2013/14, também já não a recupera por muito que se esforce, também não tem para onde crescer, terá outra legislatura em minoria. CDS, não há "sorpasso" nenhum, abaixo dos 10%, talvez ainda um pouco acima do "táxi". PSD, mínimos históricos, não existe eleitorado social-democrata de Rio. Bloco e CDU sobrevivem à "geringonça" sem grandes ganhos, mas sem grandes perdas. O PAN pode ambicionar ser grupo parlamentar. Os outros pequenos partidos terão de tentar a sua sorte em Lisboa e no POrto. E metade do país já não vota. Tudo, portanto, globalmente na mesma.
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in. "Público"
27.05.2019

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