.. numa crónica de Vasco Pulido Valente
na sua habitual coluna de "Opinião"
na última página do Público de Domingo à qual deu o título de
"Há milagres?"
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Vasco Pulido Valente
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O espectáculo da campanha já não se aguenta. Não
deve haver ninguém em Portugal inteiro que não esteja farto de abraços, de
frases, de jantares e dessa inovação que se destina a caçar à má-fé o cidadão
desprevenido e que se chama “arruada”. Nenhum dos políticos que por aí se
mostram diz nada que possa remotamente interessar ao país. Só varia o tom.
Passos Coelho exibe a sua voz doce com uma inacreditável paciência.
Costa passou do estilo Messias para uma agressividade crescente e crescentemente
disparatada. Esta semana foi buscar o BPN e o negócio dos submarinos (que tem 20
anos). Por que não os crimes de Calígula ou os pecados de Salazar? Ele grita,
ele ameaça, ele promete e até dá pulinhos de entusiasmo como um índio para
convocar o espírito da guerra.
Entretanto, caso muito estranho, as conferências de peritos na
televisão discutem ardorosamente as razões por que ele vai perder. Estão a pôr
as barbas de molho? Acreditam mesmo que percebem Costa e o seu bando? O próprio
Costa acredita ou dá a impressão de acreditar. Um dia declara que não tenciona
aprovar o orçamento da coligação (que ele, de resto, não conhece). No dia
seguinte, anuncia que impedirá um eventual governo da direita, porque ele é o
único homem capaz de criar um consenso nacional e garantir a estabilidade. Não
se sabe se trouxe estas manias da Câmara de Lisboa ou se o ataque de nervos foi
recente. Mas muita gente abre a boca de espanto com estas novas pretensões do
homem que dividiu o PS e laboriosamente se afastou da esquerda radical com um
grosso programa, que dez sábios lhe fabricaram por amor.
Seja como for, os seus fiéis lamentam que ele, a
última esperança antes do desastre, ande tão sozinho. Os novos “barões” do
partido (que o país nunca viu) aparecem pouco e não se recomendam. Os velhos
ficam em casa. E foi preciso ir buscar ao fundo do saco antiguidades como
Basílio Horta, que dois terços dos portugueses julgam que viveu na 1ª dinastia.
E, no entanto, o PS persiste em transportar de autocarro a grande “base” do
partido, para eleger o taumaturgo que irá resolver os problemas da Pátria com a
facilidade com que o CSI descobre o assassino. É facto que ele não explica como
e que não se vê no PS nenhuma tendência para o salvar das feras. Mas, de quando
em quando, há milagres.
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