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Na
coluna de “Opinião”, de
Vasco Pulido Valente, no
“Público” de hoje, 18/Out. surge hoje um texto a que autor deu o título:
"Os
clássicos da Sá da Costa"
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Vasco Pulido Valente
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Há
os que dizem sim e há os que dizem não. Mas, de um e outro lado, todos dizem o
mesmo, com as mesmas palavras e com as mesmas razões.
Todos
se repetem, simultânea ou alternadamente para chegar à mesma conclusão. Basta
ouvir a primeira frase para se perceber onde a conversa vai parar e por que espécie
de caminho.
O
português sem gramática que se usa na televisão e nos jornais desceu à “língua
de pau”. A “língua de pau” costumava ser um exclusivo do Partido Comunista,
agora é a língua quase oficial da política , uma pasta mastigada e remastigada,
que não exprime nada nem convence ninguém. Só prova, com enorme abundância e
variedade, a iliteracia crescente dos preopinantes que persiste, contra o senso
e a inteligência, em falar e escrever para um público cansado e mudo.
Foi
por isso que me lembrei hoje da Livraria Sá da Costa, que faliu sem ruído ao
fim de um século de serviço. No tempo das tertúlias, que desapareceram por
volta de 1960, a
tertúlia da Sá da Costa, apesar dos seus créditos de oposição, nunca conseguiu
realmente competir com a da Bertrand, onde o “glorioso mestre Aquilino”, como
lhe chamavam, era a grande atracção. Mas, no meio da sua relativa modéstia, a Sá da Costa prestou um incomparável serviço
ao país: durante anos, volume a volume, publicou a melhor colecção de clássicos
(devidamente anotada) que algum dia por cá apareceu. Do século XVI para a
frente não faltava um único autor dos que mudaram e moldaram o português que hoje
se usa. Para medir bem a nossa pobreza literária os “clássicos Sá da Costa”
foram um instrumento único.
Pouco
a pouco, as dificuldades da livraria desfizeram a colecção. O Estado poderia
ter subsidiado a coisa. No Ministério da Cultura existia, de resto, um
instituto (criado por mim, para mal dos meus pecados) que servia perfeitamente
para o propósito. Só que a gente que o dirigiu escolheu sempre actividades que
lhe permitiam dar ar à pluma e adquirir uma ínfima importância, passageira e
espúria. O denominado Plano Nacional de Leitura é fantochada, pedagogicamente
inútil, mas que ajuda a criar empregos (no Estado, está claro) e a distribuir
uns dinheiritos por umas dezenas de analfabetos com necessidades.
Não admira
que Angola e o Brasil nos tratem como tratam.
A famosa “língua comum”, objecto
de tanto palratório, apodreceu.
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