A “Opinião” de Vasco Pulido Valente
no “Público”, de hoje, 25.10.2013, com o título:
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Quem quererá, agora, falar com ele?
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Vasco Pulido Valente
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Para José Sócrates a classificação de quem o contraria é
simples. O PSD é um conjunto de “pulhas” e de “filhos da mãe” (calculo que a
expressão foi, por assim dizer, mais vernácula) e em geral “a Direita é
hipócrita”. Santana é um “bandalho”, Teixeira dos Santos teve “uma atitude
horrível connosco”, ou seja, com ele. Schauble, o ministro da Finanças da
Alemanha, é um “estupor”. E por aí fora. De resto, ele, Sócrates, quando falhou
(e, na opinião dele, não falhou) não teve nunca a mais vaga responsabilidade ou
culpa: a verdade está em que grupos de “pistoleiros”, incluindo a Casa Civil do
Presidente da República, tentaram sempre impedir que ele governasse e
espalharam infames calúnias para “atacar” o seu impoluto “carácter”. Apesar de
primeiro-ministro, não passou de vítima.
Vale a pena repetir o que toda a gente já sabe? Vale, porque
este “chefe” (como ele mesmo se descreve) e este acrisolado democrata (como ele
se declara) saiu do assento etéreo onde subira, com um saco de ressentimento e
ódio, que excede, e excede por muito, o de qualquer político desde que existe
um regime representativo em Portugal. Ninguém, por exemplo, disse como ele que
não queria voltar a “depender do favor do povo”, a quem atribui uma larga parte
das suas desventuras. Dar uma réstia de poder a semelhante criatura (visto que
Deus não parece preparado para o ungir) seria inaugurar uma campanha de
represálias contra Portugal em peso: contra a aristocracia do PS (que ele se
gaba de ter “vencido”), contra
a Direita, contra o velho Cavaco, hoje apático e diminuído, e principalmente
contra o povo, que não votou nele em 2009.
Ora
Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida pública e as suas novas
tendências para a filosofia, com a convicção de um adolescente analfabeto, só
pensa em abrir caminho para um memorável ajuste de contas. Uma entrevista
justificatória na RTP, um programa de “opinião” também na RTP e, agora, o
lançamento de um “livro”, para inaugurar um estatuto de “intelectual”, a que
nem sequer faltou Mário Soares, Lula da Silva e uma assistência de “notáveis”,
seleccionados por convite. O supracitado “livro”, absolutamente desnecessário,
é de facto uma prova escolar (uma “tese” de mestrado), sem uma ideia original
ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de – vá lá,
sejamos generosos – 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas
fantasias francesas (Sciences Po oblige).
O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o
levem a sério.
Mas claro que o “lançamento” não foi de um “livro”.
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