Páginas

12 outubro 2013

Memorias da Villa de Oleiros...

... pelo Bispo d'Angra
D.João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel.
natural da mesma villa. - 1881
.
Para que perdure ao longo de todos os tempos a história de um povo e do berço que o viu nascer, a Câmara Municipal de Oleiros, 
homenageando o autor, dedica a reedição
"Memórias da Vila de Oleiros e do seu Concelho"
a todos os seus Munícipes.
Janeiro de 1995.  
.


A RIBEIRA de que fizemos já menção, e banha pelo lado sul as terras adjacentes à Villa, é neste sítio muito aprasivel: Corre ella perenne em todo o anno por entra árvores que, debruçadas em muitos sítios sobre as aguas, e movidas pelo vento parecem querer beija-las. Muitos rouxinoes,  outras aves atrahidas pela frescura e amenidade do sítio, celebrão ali dia e noute com seus cânticos estes belos cantos da natureza, fazendo-lhes o murmúrio da corrente harmonioso acompanhamento.

As margens são d’um e outro lado cobertas com vistoso tapete de relva, matizado de lindas flores; e um passeio delicioso, só pelos encantos da natureza, sem auxílio algum da arte segue essas margens dum lado ou outro da ribeira e em alguns sítios de ambos elles, na extensão de três kilómetros, desde os moinhos da Lameira até à foz do Ribeiro do peso.
.
A Ribeira, posto que não é caudalosa, conserva todo o anno agua sufficiente para sustentar e proteger muito peixe; porque, alem dos poços naturaes, próprios de differente profundidade de seu leito, os açudes dos Moinhos da Lameira e da Tojeira são dois longos e profundos tanques em que podem conservar-se por todo o anno toda a quantidade de peixe d’agoa doce.
Com effeito em nosso tempo continha a Ribeira muitas bogas e bordalos, muitos barbos e truta, sendo alguns peixes d’estas ultimas espécies de peso d’um e dois kilogrammas. Continha também muitas e soborosissimas irozes, superiores em gosto a tudo o que há ‘n este género. E todo o outro peixe, em razão da frialdade da agoa, é muito mais gostoso que o do rio Zêzere, onde se pescão barbos de mais de dez kilogrammas.

Era porem em nosso tempo para lamentar que não houvesse policia alguma com relação à Ribeira; de modo que a cada passo se fazião pescas, envenenando-se os peixes, já com coca, já com raiz de uma herva venenosa, conhecida pelo nome de budele, e até chegavão a envenenar as aguas com cal! Deste modo extinguindo-se as novas gerações, em breve se acabará com as diferentes qualidades de peixe; como tem acontecido em maiores ribeiras.
.
.
Também Nos consta que as árvores que orlavão d’um lado e outro a Ribeira teem sido derrotadas em grande parte, É outro negocio sobre que a Autoridade pública deve tomar providencias; porque o arvoredo, alem de embellezar, e de ser mui conveniente para a saúde publica, protege as margens fluviaes das ruínas que causão as grandes enchentes.
Para que a todos os respeitos seja apreciável esta Ribeira, até traz grãos d’ouro entre suas areias, como notou já Fr. Lucas de St.ª Catharina; apparecendo de tempos a tempos pessoas desconhecidas a escolhel-os; o que por vezes Nos constou no tempo que residíamos em Oleiros.
Era porem, e é ainda para lamentar que suas aguas sejão tão pouco aproveitadas; pois que, alem da      Quinta do Sr.Dr. Francisco d’Albuquerque Mesquita e Castro, e dos Moinhos da Lameira e Tojeira, ninguém mais d’ellas se aproveita na Villa; tendo ficado baldados os esforços de Joaquim Farinha Folga, para com elas regar os Chãos da Ponte, como já notámos.
A Ribeira tem uma única ponte de madeira com tres vãos, em sítio aprazível, a qual bem merecia ser de pedra.
.
...e a ponte, já "de pedra", veio a ser construída no início do século passado.
.
Cfr. Pgs 175 a 177. 



1 comentário:

Olímpio Matos disse...

Gostei. Abraço.OMMatos