...de Sebastião da Gama
intitulado "Céu"
Sebastião da Gama
Céu
.
Tenho
uma sede imensa,
mas
não é de água…
.
Tenho
uma sede imensa de beber
os
soluços do Sol quando declina,
as
carícias azuis do Luar de Agosto,
os
tons rosa da Tarde que se fina…
.
É
que eu seria poeta, se os bebesse…
Não
mais seria o cego de olhos limpos;
esse
que viu a água e a não tocou,
pelo
estranho pudor da sua boca
que
um dia blasfemou.
.
E,
se eu pudesse beber
esses
longes de mim que vejo e quero,
em
espasmos havia de os mudar
e,
num desejo nunca satisfeito,
iria
possuir-te, ó Mar!
.
Havia
de cair, num beijo sobre ti;
despir
as minhas vestes de serrano,
tirar
de mim aquilo que é humano,
E
confundir-me em ti.
.
Gritem
depois, embora, que eu morri;
alegre
o Mundo o alívio do meu peso;
-
que um dia o Sol há-de surgir mais cedo
e
o bom menino de olhos azuis,
de
quem sou fraco arremedo,
há-de
nascer, ó Mar, da nossa noite de Amor!
.
E
tu, Menina que eu chamava,
Menina
que eu chamava e encontrei
Mas
abrasada no Amor divino
-
tu hás-de ver então que o Céu que idealizas
É
o olhar azul desse menino.
.
In
“Serra - Mãe”
Ed.
Ática – 1957
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