"O nosso maior potencial não está no vinho nem nos pastéis, mas sim nos cérebros, em particular dos jovens."
Transcrevo alguns excertos do artigo que o professor de Coimbra colocou ontem na sua coluna, no "Público". É sobre a "Emigação" aconselhada por Passos Coelho...
"Uma das ruas mais pitorescas de Cambridge dá pelo nome de Portugal Street. Desemboca na Portugal Place, perto dos agradáveis greens daquela cidade universitária inglesa que se estendem nas traseiras dos colégios mais famosos, ao longo do rio Cam. Parece que o nome da praça e da rua, de belas e antigas casas alinhadas, se deve à proximidade do cais onde era desembarcado o vinho do Porto que vinha para as mesas dos colégios, designadamente para as high tables, onde só o master, os fellows e os seu convidados têm lugar.
(…)
Na Cambridge inglesa (tal como, aliás, na não menos universitária Cambridge norte americana…) há bastantes portugueses. Alguns são emigrantes tradicionais, ou filhos deles… mas outros são emigrantes especiais, estudantes em busca de formação especializada e ainda cientistas já especializados aos quais vulgarmente se chama “cérebros fugidos”. Na Universidade de Cambridge há numerosos estudantes portugueses a fazer a licenciatura e o doutoramento. E também há, embora em menor número, investigadores e professores como Tiago Rodrigues (…) que depois de ter concluído o doutoramento em bioquímica, na Universidade de Coimbra, trabalhou em Madrid e está agora em Cambridge a investigar o cancro.
(…)
…falam inglês tão bem como os nativos e estudam ou fazem ciência tão bem ou, nalguns casos, bem melhor do que os nativos. A Universidade de Cambridge é uma escola de elite, um sítio por onde andaram Isaac Newton, Charles Darwin e Francis Crick, só para referir alguns cientistas, ou Francis Bacon, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein, só para acrescentar alguns filósofos. Mas isso não intimida os cérebros portugueses, que aí triunfam com idêntica facilidade, embora menos publicidade do que fazem os nossos melhores treinadores e futebolistas que actuam lá fora. Não há desmentido possível: o treinador do Chelsea, André Vilas-Boas, e o jogador do mesmo clube Raul Meireles são mais conhecidos em Portugal do que qualquer um dos nossos cientistas no Reino Unido.
(…)
O Tiago e os seus colegas merecem ser mais conhecidos cá dentro. Não só mais conhecidos, mas também mais aproveitados. Eles não receiam o futuro que, no seu ponto de vista, tanto pode ser lá fora como cá dentro. Têm uma grande vontade de ajudar o país, o que podem fazer em qualquer um dos lados, embora para nós fosse, evidentemente, preferível que o fizessem cá dentro. (…) Numa época em que e economia prevalecente no mundo não é o comércio do vinho do Porto ou do pastel de nata, nem a micro economia do futebol, mas sim a economia do conhecimento, custa ouvir os incitamentos do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e do ministro adjunto Miguel Relvas à fuga de cérebros e, ainda por cima, tentar dirigi-los, com argumentos bacocos, para o Terceiro Mundo, desprezando a Europa e os Estados Unidos.. O nosso maior potencial não está no vinho nem nos pastéis , muito menos nos músculos dos jogadores, mas sim nos cérebros, em particular os jovens, que activamente se ocupam, em Portugal e por esse mundo fora, na ciência, na tecnologia, na filosofia e nas artes. Tudo leva e crer que as afirmações de Passos Coelho e de Relvas não foram "lapsus linguae". Foram, isso sim, o resultado de um profundo equívoco.
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Na Cambridge inglesa (tal como, aliás, na não menos universitária Cambridge norte americana…) há bastantes portugueses. Alguns são emigrantes tradicionais, ou filhos deles… mas outros são emigrantes especiais, estudantes em busca de formação especializada e ainda cientistas já especializados aos quais vulgarmente se chama “cérebros fugidos”. Na Universidade de Cambridge há numerosos estudantes portugueses a fazer a licenciatura e o doutoramento. E também há, embora em menor número, investigadores e professores como Tiago Rodrigues (…) que depois de ter concluído o doutoramento em bioquímica, na Universidade de Coimbra, trabalhou em Madrid e está agora em Cambridge a investigar o cancro.
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…falam inglês tão bem como os nativos e estudam ou fazem ciência tão bem ou, nalguns casos, bem melhor do que os nativos. A Universidade de Cambridge é uma escola de elite, um sítio por onde andaram Isaac Newton, Charles Darwin e Francis Crick, só para referir alguns cientistas, ou Francis Bacon, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein, só para acrescentar alguns filósofos. Mas isso não intimida os cérebros portugueses, que aí triunfam com idêntica facilidade, embora menos publicidade do que fazem os nossos melhores treinadores e futebolistas que actuam lá fora. Não há desmentido possível: o treinador do Chelsea, André Vilas-Boas, e o jogador do mesmo clube Raul Meireles são mais conhecidos em Portugal do que qualquer um dos nossos cientistas no Reino Unido.
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O Tiago e os seus colegas merecem ser mais conhecidos cá dentro. Não só mais conhecidos, mas também mais aproveitados. Eles não receiam o futuro que, no seu ponto de vista, tanto pode ser lá fora como cá dentro. Têm uma grande vontade de ajudar o país, o que podem fazer em qualquer um dos lados, embora para nós fosse, evidentemente, preferível que o fizessem cá dentro. (…) Numa época em que e economia prevalecente no mundo não é o comércio do vinho do Porto ou do pastel de nata, nem a micro economia do futebol, mas sim a economia do conhecimento, custa ouvir os incitamentos do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e do ministro adjunto Miguel Relvas à fuga de cérebros e, ainda por cima, tentar dirigi-los, com argumentos bacocos, para o Terceiro Mundo, desprezando a Europa e os Estados Unidos.. O nosso maior potencial não está no vinho nem nos pastéis , muito menos nos músculos dos jogadores, mas sim nos cérebros, em particular os jovens, que activamente se ocupam, em Portugal e por esse mundo fora, na ciência, na tecnologia, na filosofia e nas artes. Tudo leva e crer que as afirmações de Passos Coelho e de Relvas não foram "lapsus linguae". Foram, isso sim, o resultado de um profundo equívoco.
Um Carlos Fiolhais sempre atento e...incisivo!
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