Dr.José Carlos Sequeira Lopes.
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Transcrevo alguns excertos do “Editorial” do “jornal i”, em 21 de Janeiro de 2012, da autoria de António Ribeiro Ferreira.
Através do título escolhido, o Director do “i”, “sugere” a Cavaco Silva a demissão do cargo que ocupa…
Anibal Cavaco Silva
“Obviamente, senhor Presidente
As crises servem para muitas coisas, até para descobrir as pessoas, o seu carácter e a forma como estão na vida.
A natureza humana revela-se nestas alturas, no pior e no melhor. Não há disfarces, maquilhagens, palhaçadas que resistam aos maus momentos, às horas do tudo ou nada, ou mesmo de vida ou de morte.
Um comandante medíocre, cobarde, nunca é o último a abandonar o navio. Um homem do mar a sério sabe que a sua missão é salvar os outros na hora da tragédia e nunca foge da sua ponte, do seu navio. Fica até ao fim, com orquestra ou sem ela. Portugal está a afundar-se. Por erros e crimes praticados por muitos políticos e pelas suas políticas erradas e nada transparentes. E por opções ideológicas ultrapassadas baseadas num Estado obeso, no investimento público e na presença fortíssima do Estado nos negócios e na economia. E por empresários que só sobrevivem num mercado condicionado, sem concorrência a sério, encostados ao Estado e aos políticos do poder. E também aos sindicatos caducos, correias de transmissão dos partidos, sem ideias e incapazes de se adaptar às novas realidades e às exigências de uma economia aberta e global.
A economia está e estará em recessão , centenas de milhares de portugueses estão sem trabalho e metade dos desempregados não recebem qualquer subsídio do Estado. A fome é uma realidade para muitas famílias e já nem as câmaras nem as instituições de solidariedade social têm meios suficientes para ajudar quem caiu, de um momento para o outro, na miséria. Muitos cidadãos sem trabalho, qualificados ou sem formação, optam pela emigração para África, o Brasil, a Europa ou mesmo para o Golfo Pérsico. Os salários de quem ainda trabalha estão a ser cortados, os horários aumentam e muitas famílias, mesmo com empregos têm dificuldades em honrar os seus compromissos mensais.
Pois bem. É por isso que as pessoas se revoltam legitimamente quando ouvem falar em salários de 45 mil euros por mês na EDP.
É por isso que as pessoas não compreendem que os sacrifícios nunca atinjam a sério os mais privilegiados. E é por isso também que não se pode aceitar que o Presidente da República diga aos portugueses que não consegue viver com 10 mil euros por mês.
Pois bem. É por isso que as pessoas se revoltam legitimamente quando ouvem falar em salários de 45 mil euros por mês na EDP.
É por isso que as pessoas não compreendem que os sacrifícios nunca atinjam a sério os mais privilegiados. E é por isso também que não se pode aceitar que o Presidente da República diga aos portugueses que não consegue viver com 10 mil euros por mês.
As afirmações de Cavaco Silva são um insulto a milhões de portugueses. As queixas do chefe do Estado são indignas do cargo que ocupa e devem merecer o repúdio de quem tem um pingo de vergonha na cara e conhece a forma como muitas famílias estão a lutar pela sobrevivência com pensões miseráveis e salários do terceiro mundo.
O Presidente da República tem repetido vezes sem fim que há limites para os sacrifícios. Mas também é verdade que há limites para a indecência. E neste mês de Janeiro de 2012, um dos piores anos da história do Portugal democrático, importa lembrar a Cavaco Silva que as suas palavras deixaram de ter qualquer significado e que as suas funções, para as quais foi legitimamente eleito por sufrágio directo e universal dos cidadãos estão gravemente prejudicadas, mesmo feridas de morte, a partir de hoje.
Obviamente, senhor Presidente da República.”
…
“Obviamente, demita-se, senhor Presidente da República!... “ foi o que não quis escrever Ribeiro Ferreira ao terminar esta crónica, a lembrar-se da célebre frase de Humberto Delgado, nos idos de 1958… referindo-se a António de Oliveira Salazar, numa conferência de imprensa, realizada no Café Chave d’ Ouro, em 10 de Maio de 1958...
Obviamente, senhor Presidente da República.”
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“Obviamente, demita-se, senhor Presidente da República!... “ foi o que não quis escrever Ribeiro Ferreira ao terminar esta crónica, a lembrar-se da célebre frase de Humberto Delgado, nos idos de 1958… referindo-se a António de Oliveira Salazar, numa conferência de imprensa, realizada no Café Chave d’ Ouro, em 10 de Maio de 1958...
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