sobre António José Seguro,
no Público, em 16 09 2011
Vasco Pulido Valente
Nunca, em quase 50 anos, conheci um político que se aproximasse tanto de não ser nada como António José Seguro. Não tem um currículo académico de qualquer distinção. Não tem um currículo profissional. Em 30 anos de PS raramente se deu por ele. Nunca esteve à frente de um grande ministério ou se distinguiu na administração do Estado. E o nome dele não está associado a qualquer grande causa. Mesmo se acabou por chegar onde chegou foi depois de uma catástrofe eleitoral sem nome e porque o previsto sucessor de Sócrates preferiu continuar na Câmara de Lisboa. Parece que, no meio deste mar de mediocridade, António José Seguro é muito bom a "trabalhar o partido", ou seja, a massajar o ego de "militantes" de segunda ordem e em angariar apoios para a sua própria promoção. Esta faculdade, ao menos, não há a menor dúvida de que o serviu.Durante o consulado de Sócrates, que (vale a pena lembrar) durou quase sete anos, não se ouviu um protesto ou uma crítica de António José Seguro. Para ele tudo estava pelo melhor no melhor dos mundos. Mesmo quando as coisas se tornaram claras para a maioria dos portugueses, continuou calado. Nem sequer no último momento declarou com clareza e alguma coragem a sua evidente candidatura. Preferiu sempre a evasiva e a dilação. E os socialistas votaram por ele, porque não podiam votar num herdeiro de Sócrates (que o eleitorado manifestamente execrava) e não havia uma alternativa decente. Até Mário Soares, pela única vez na sua vida, se absteve. E assim ficámos com um chefe da oposição sem uma ideia na cabeça e com um ar irresistível de seminarista.O congresso do PS e a intervenção na Assembleia da República de quinta-feira passada mostraram o verdadeiro Seguro. Um homem que repete de cor uma cartilha programática obsoleta; que não pára de garantir a unidade de um partido que ninguém pensa em dividir; que berra e estica o dedo para se fazer importante; e que não convence o mais plástico português. Claro que Seguro (e seu PS) se dispensaram de abrir a boca sobre o consulado de Sócrates, que os compromete pessoal e colectivamente. Mas não compreenderam que, se não se aliviarem dessa pesadíssima carga, só lhes fica o vácuo. Era bom que a história recomeçasse segundo as conveniências tácticas de cada um. Sucede que não recomeça e que Seguro foi apanhado entre um passado impossível e um futuro a que obviamente não pertence.
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