Páginas

08 julho 2011

Associação de Estudantes Faculdade de Ciências...

Um novo teatro de autores está a nascer na capital.
O encenador Jorge Silva Melo arranjou uma nova morada fixa em Lisboa para os Artistas Unidos, companhia que fundou em 1995.
Será no Teatro da Politécnica, junto ao Jardim Botânico, na Faculdade de Ciências, onde a primeira peça estreia em 19 de Outubro. Será um espaço de actores e de autores. É o sonho possível quase dez anos depois do sonho acabado d’A Capital.
A Sala de entrada virada à rua da Escola Politécnica (foto no Público P2)


A luz branca da manhã entra em cheio na sala que vai ser de espectáculos, do Teatro da Politécnica, nova residência fixa dos Artistas Unidos (AU). O espaço, no coração de Lisboa, ainda está em obras. Mas não parece, porque a luz tudo limpa. E contrasta com o preto que cobre as paredes altas, nesta e na outra sala, a das Janelas, que será de exposições.
Cfr. Ana Dias Cordeiro.
In. “Público P2”, 06 07 2011
.


Nesta foto actual,
...as janelas são as mesmas… mas este teto não era assim!... As actuais traves e vigamento que estão à vista, parecem ser uma “cópia” do teto do “Picadeiro Real” que se situa no outro lado da Faculdade de Ciências, mais próximo de São Mamede e no qual disputávamos os torneios de Futebol de Salão. Lembras-te Salvador Ricardo?... Lembras-te do "Puskas", o Manuel da Palma Martins, grande vedeta do "futsal" daquela época? Alguém me disse que já não está entre nós...
Em 1956, o Salão que aqui vemos em obras, era a “sala de estudo” de muitos de nós. Também ali existia uma caixa de música, uma "music box" como então dizíamos e que só "trabalhava" a troco de moedas de um escudo... (Até que um dia, descobrimos a ponta partida de um florete do Orlando Azinhais, o que nos facilitou a vida daí em diante...). Havia ainda uma mesa de ping-pong sempre com filas à espera... Também ali se disputaram alguns campeonatos universitários da modalidade. Ali vi jogar o nosso amigo Paulo Teixeira Jorge, tão bom jogador quanto dançarino, que era a nossa maior vedeta de Ciências (foi jogador de ping pong no Sporting e acabou por ser... ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, a seguir à independência), o António Osório (sim!... sim!...o António Osório de Castro, da Quinta das Baldrucas, em Oleiros de Azeitão e que foi aluno do nosso Liceu), o António Vasconcelos e Sá, o “maior” da Faculdade de Letras nesta modalidade. Torneios inesquecíveis…
Esta sala comunicava com uma outra, mais a nascente, onde funcionava a Cantina da Associação de Estudantes. Um espanhol, creio que galego, o Sr. Candera, explorava a Cantina e… explorava-nos a nós também…
A sala principal, esta que o “P2” nos mostra, em obras, servia também para a realização dos célebres Bailes de Carnaval e, por vezes, para os Bailes dos Finalistas.
Será bom que recordemos que naquela época não havia nem bares nem recintos com a devida música como há hoje… onde a juventude pudesse "praticar" e dar asas à sua imaginação…

Foto da mesma sala mas tirada do outro topo.
A porta ao fundo conduzia à cantina. Creio que será naquela sala que irá surgir a sala do Teatro da Politécnica

.

E o texto de Ana Dias Cordeiro continua:

"O edifício lembra um pavilhão de jardim e é esse o espírito do novo projecto
Na inauguração, haverá também uma exposição de esculturas de Ângelo de Sousa, falecido em Março deste ano. “A Sala das Janelas é fantástica para escultura e as dele – pouco conhecidas muitas delas – são extraordinárias”, continua o encenador.


Foi nesta "Sala das Janelas" que colaborei na realização de uma exposição de Pintura Contemporânea, que se realizou em 1956 (ou 1955?!...). Creio que o Mário Rui Gonçalves, que por essa altura já frequentava a Associação de Estudante, poderá ter mais dados sobre a data e, talvez, sobre o nóme dos autores e das obras que ali estiveram expostas durante cerca de quinze dias...

Lembro-me dos nomes de Júlio Pomar. de Cruzeiro Seixas, de Augusto Gomes, de Nadir Afonso, de Fernando Lanhas, de Abel Manta, de Vespeira, de Sá Nogueira, de Artur Bual e de Júlio Resende, entre outros.

Mas a "tela vedeta" que ali esteve exposta era de Amadeu de Sousa-Cardoso!... Tivemos de a tratar com o "devido respeito" que passou por uma "vigilância feroz", mesmo depois de nos termos sentido no dever de contactar uma seguradora para se responsabilizar pelo valor de tal obra... Era uma tela que não teria mais do que 60 x 80 e continha um violino colocado verticalmente, no meio de outros elementos cubistas.

Lembro-me também do carinho com que José Augusto França, então com pouco mais de trint anos e que morava num segundo andar, ali mesmo em frente da escadaria principal de Faculdade de Ciências, nos auxiliou ns organização desse evento.
Lembro-me de ele próprio ter permitido que uma tela de sua propriedade exposta numa das suas salas, pudesse figurar também naquela exposição. E lembro-me , como se fosse hoje, dos cuidados havidos com o "transporte" da mesma, na travessia da rua da Escola Politécnica, até ocupar o lugar que lhe competia no grande Salão à entrada, da Associação de Estudantes.

Mais adiante, continua a autora:

"O espaço foi a cantina da Faculdade de Ciências, local de exposições e debates, de música com Lopes Graça e o seu coro da Academia dos Amadores de Música. No pós-guerra, final dos anos 40 (!), quando Rui Mário Gonçalves e José Gil eram directores da parte cultural da Associação de Estudantes, Nikias Skapinakis teve aqui a primeira exposição com 17 anos. Aqui também se fizeram as primeiras conferências em defesa da arte abstracta e mais tarde se juntavam estudantes para a conspiração política."

Há um pouco de "fantasia" nesta descrição...


O local das exposiçõe e outros eventos culturais não era a Cantina, mas sim o Salão principal, logo à entrada da Associação de Estudantes. Nem o Rui Mário Gonçalves podia ter sido Director da parte cultural da Associação de Estudantes, no final os anos 40, pelo simples facto de, nessa altura, ele ter apenas...catorze ou quinze anos. Na verdade, este nosso colega dirigiu os serviços Culturais da AEFCL, cerca de dez anos mais tarde, em 1958. Nikias Skapinakis era agora um pouco mais velho do que quando se estreou com 17 anos. Na época em que se realizou esta exposição, teria já 25 anos.

E, já antes de 1958, se realizavam reuniões para a "conspiração política"... Em 1956, no "arranque mais aberto" da RIA (Reuniões Inter Associações), fizeram-se alguns encontros no interior deste edifício. Lembro que por duas ou très vezes, fomos "avisados" através Reitor da Universidade, o Prof.Vitor Hugo de Lemos. professor na área das Matemáticas, ali na Faculdade de Ciências, para que "dessemos o fora" dali, o mais rápido possível, pois tinha tido "notícias" que a polícia política teria recebido ordens para "terminar" com aquela reunião...

Disponível, disponível é a juventude. Mesmo que seja incapaz, incompetente, estouvada, destrutiva. Mas é disponível”, disse Álvaro Lapa. Silva Melo lembra isto a propósito da peça de estreia do espaço, em que Alfred de Musset, depois de um desgosto de amor, “inventa a juventude”...

Estou mesmo a precisar de um "desgosto da amor"...
.Mas gostei de estar disponível na altura em que decorreram estes "acontecimentos".

Nunca me arrependi... mesmo que um chumbo tenha surgido então a atrasar as minhas perspectivas iniciais...

1 comentário:

Olímpio Matos disse...

Tiveste (tivemos) vidas ricas, vidas bem vividas, mesmo que nada tivéssemos feito para nascermos nos anos 30 ! A minha memória vai neste momento para os nossos leaders de então, com especial relevo para Rocha da Silva, Lapido Loureiro e Nogueira Simões. E uma menção muito especial para o Alfredo Noales Rodrigues.
Abraço.OMMatos