DrªMaria Celeste Capelo
"As evidências…
Uma evidência é um sintoma e, consoante o contexto em que é usada, a evidência, reflecte ou certifica-nos o que é visível, permite reconhecer a verdade e esclarece a dúvida. As evidências são o retrato, o postigo indiscreto revelador de actos, sentimentos ou estados físicos ou de alma. São ainda uma antecipação do provável acontecimento ou comportamento. Tudo isto são evidências, mais claras ou mais diluídas consoante sejam verdadeiras ou apenas disfarces com truques ilusionistas.
Este termo evidência foi adoptado para o registo de factos e/ou momentos de actividades educativas e pedagógicas. (As palavras actos e adoptado que utilizei, por não lhes fazer cair as consoantes mudas, são a evidência de que ainda não aderi ao acordo ortográfico).
Todo este preâmbulo para hoje me deter nas chamadas evidências educativo/pedagógicas ou evidências de comportamento.
No meu tempo de estudante o bom resultado no exame ou no teste escrito era a evidência do estudo e do trabalho que tinha tido ao longo do ano.
O(A) Professor(a) com o livro de Português ou de outra disciplina junto aos seus objectos pessoais, era a evidência da sua formação científica.
Hoje não. Vejo os Professores com a máquina fotográfica, e para quê?...Para registar as evidências pedagógicas, dizem-me eles. Que evidências?... Servem para o relatório da auto-avaliação? Servem para justificar o quê?
Os alunos levam o telemóvel, fotografam e registam as evidências, que depois colocam no Youtube.
Os rankings das Escolas são evidências de boas práticas pedagógicas e de bom aproveitamento escolar.
As ruas conspurcadas com dejectos de cão, pejadas de copos de plástico e com piriscas de cigarros ardidos, são evidências de uma população incivilizada e porca.
Tudo o que acabo de expor são algumas evidências de actos e comportamentos.
E as evidências dos afectos?
Pelo que lemos nos jornais são milhares os idosos que se encontram sozinhos e, nem na morte dão por eles.
Escreveu há pouco tempo o Sr. Padre Agostinho, director do Jornal “A Reconquista”, na sua coluna habitual Ideias e Factos, com o título “O Fim das Ideologias”. Dizia assim:
(…) foi-se desprezando o ensino das chamadas Humanidades, privilegiando o das tecnologias, das matemáticas aplicadas e das ciências como promotoras do progresso(…).
Concordo com ele. As disciplinas hoje desprezadas faziam-nos meditar, conhecer e praticar as vantagens do SER e não apenas do TER. É por isso que ele diz e volto a citar: (…) nas sociedades actuais só vale o que é útil e quem produz, o resto podemos eliminar (…)
A desumanização é bem a evidência da ausência de afectos e valores.
A este propósito não posso deixar de registar como evidência a ausência de algum representante da Escola Secundária Nuno Álvares na homenagem que foi prestada àquele que foi reitor, em tempos idos, daquele estabelecimento de ensino. Refiro-me à evocação feita por um antigo aluno, ao Sr. Dr. Eduardo Almeida Esteves.
Registo como evidências de afectos e valores a presença dos seus antigos alunos (hoje com quase 80 anos), da sua nora, dos seus netos e bisnetos.
Esta cerimónia decorreu na Câmara Municipal no dia 18 de Junho passado, enquadrada no programa da XVIII Romagem de Saudade, também este evento nascido naquele estabelecimento de ensino.
São evidências que reflectem e certificam a incapacidade de planear o futuro, pois desconhecemos o passado.
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Castelo Branco, 11 de Julho de 2011
Mª Celeste Capelo"
NB - Também fiquei chocado com a total ausência dos elementos da Conselho Executivo do nosso Liceu, no momento solene em que na Câmara Municipal de Castelo Branco se homenageava aquele que foi certamente, um dos melhores e mais humanos professores que passaram pela nossa cidade. Para mim, foi o melhor...
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