Hoje, já vos disse, acordei um pouco triste. Olhei-me ao espelho. Os meus olhos estavam escuros como uma manhã de tempestade. As olheiras ainda mais marcadas do que o costume. O telefone tocou e ainda antes de atender já sabia que era ele. Sei sempre. Desde criança que me habituei a isso. Acho que se nos esforçássemos um pouco conseguiríamos comunicar por telepatia. Utilizamos o telefone por preguiça.
“Pai?!”
Ele riu-se. O riso dele é quente como um abraço.
“Sabes que dia é hoje?”
Também esta jovem autora tem agora o mesmo pressentimento que me atormenta, há tantos anos… Que bom saber que esta ideia é partilhada com alguém que sabe transmitir o que sente.
Este é um dos apontamentos que referi. O outro surge a seguir, na continuação do texto e levou-me a pensar na Madalena quando chegar o próximo Dia da Mãe.
“Sabes que dia é hoje?
Não me lembrei logo. O meu pai suspirou. Ficou em silêncio. Ficámos os dois em silêncio. Se fosse viva Filipa faria hoje cinquenta e cinco anos. Tenho saudades da minha mãe. Converso com ela todos os dias mas não sei se me ouve. Queria que me fizesse as tranças. Queria pousar a cabeça no seu colo para que me consolasse quando, ao fim da tarde, regresso das aulas e me atormentam as saudades de Lisboa. Todos os anos, neste dia ou no Dia da Mãe, continuo a oferecer-lhe presentes…”
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