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31 março 2022

Memórias escritas...

 ... em 29 Abr 2006
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Esta tarde assisti a mais uma reprodução dos Concertos para Jovens com que, em 1969, Leonard Bernstein nos deliciava como “explicador” de música…

Leonard Bernstein

na capa de um livro "fabuloso" que 
foi traduzido pelas "Publicações Europa América"
em Outubro de 1972
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"Considerado o maestro-compositor mais dotado do século XX, Leonard Bernstein escreve sobre música com um tal encanto que cativa qualquer pessoa com uma autoridade que lhe confere o respeito dos estudiosos e com tanta clareza que as crianças não têm dificuldade em o compreender."
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"É com elegância, espírito e respeito sincero tanto pela matéria como pelo público que Bernstein  revela neste belo livro o método, a linguagem, as técnicas e a alegria da música."
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A RTP Memória emitiu hoje a Sinfonia fantástica, de Berlioz, composta em 1830, que marcou época na história da música do século 19. Trata-se da primeira grande realização  da chamada "música de programa", género que viria a ser consolidado pouco depois, na obra de Franz Liszt, e se tonaria um dos mais característicos dos Romantismo.
Mais do que utilizar-se do texto literário como inspiração, os compositores procuravam com os "poemas sinfónicos" reproduzir os diversos episódios ou assuntos contidos nele, chegando a "imitar" ruídos, como batidas em portas e mesmo passos em escadas. No caso da Sinfonia fantástica, por exemplo, Berlioz quis contar a história de um artista obcecado por sua paixão -- na verdade, o compositor estava contando a sua própria história de amor em relação à actriz inglesa Harriet Smithson.
A Sinfonia fantástica é um bom exemplo para entender esse tipo de composição e foi organizada em cinco movimentos - "Devaneios e paixões", "Um baile", "Cena nos campos", "Marcha rumo ao cadafalso" e "Sabá das feiticeiras". No primeiro movimento (Dreams - Passions), o artista se descobre apaixonado. No segundo (A Ball), vê a sua amada valsando em um baile. No terceiro (Scene at the Country) busca esquecê-la viajando para longe. No quarto (March to the Scaffold), o artista sofre uma alucinação, pensa ter matado a amada e imagina ter sido condenado à guilhotina. No quinto (Dream of a Wwitches'Sabbath), a mulher morta levanta do túmulo e transforma-se em bruxa.
A cada movimento, os instrumentos procuram sugerir efeitos sonoros que vão "narrando" a história ao ouvinte. Na estreia da Sinfonia fantástica, o público presente à apresentação recebeu um pequeno livro que explicava o conteúdo de cada movimento, para que pudesse acompanhar a "narrativa" e seus desdobramentos. Este tipo de "música com bula" foi um sucesso à época. E virou moda, quase uma febre.
A música de Berlioz, além de ter inaugurado a era dos poemas sinfónicos, situa-se numa vertente do Romantismo que se contrapõe àquele representado por Felix Mendelssohn, este um tanto ou quanto conservador e, de certa forma, ainda tributário da estética classicista. O romantismo de Berlioz é mais progressista, já não se prende a formas rígidas, busca expressar estados emocionais e irá abrir caminho para uma corrente musical que desembocará na obra revolucionária de Richard Wagner.
A explicação feita por Bernstein, a sua condução da orquestra e a própria orquestra são momentos inesquecíveis
Leonard Bernstein já se foi... E não há quem o possa substituir num trabalho memorável que marcou uma geração de adolescentes a quem deu o ensejo de entender e saber apreciar as grandes obras de música e os seus compositores.

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