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25 março 2022

Memórias escritas...

 ...em 29/04/2006

No suplemento do Público de hoje, no Mil Folhas, um título chamou a minha atenção para uma época distante em que Manuel Bandeira estava muito em voga… “Vou-me embora pra Pasárgada.” Foi uma época, a de 1958-59 passada em Lisboa quando, com apenas uma cadeira para fazer na Faculdade, eu tinha muito tempo livre e frequentava o Martinho do Rossio com a companhia do José Figueiredo e com o Francisco Relógio ali por perto desenhando aquelas figuras características, a tinta da china… o que me trás à lembrança as conversas sobre tudo o que cheirava a cultura e proibições…

Os Poemas de Manuel Bandeira circulavam por baixo do balcão das boas livrarias de Lisboa - Portugal e Bertrand - e lembro desde essa altura o poema “Vou-me embora pra Pasárgada” que eu achava uma maravilha.

Manuel Bandeira
(1886 - 1968)
.
Foi com alguma emoção que li no artigo de hoje, assinado por Eduardo Pitta, que também para ele, Manuel Bandeira foi dos poetas que primeiro li. Terei começado por "Vou-me embora pra Pasárgada", poema que ainda hoje considero exemplar. Mas transcreve apenas uma parte do Poema, ou seja, elimina uma parte preciosa daquele Poema de Manuel Bandeira, que aqui deixo na íntegra:

Vou-me embora pra Pasárgada

“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”

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