...em 29/04/2006
No suplemento do Público de hoje, no Mil
Folhas, um título chamou a minha atenção para uma época distante em que Manuel
Bandeira estava muito em voga… “Vou-me embora pra Pasárgada.” Foi uma época, a
de 1958-59 passada em Lisboa quando, com apenas uma cadeira para fazer na
Faculdade, eu tinha muito tempo livre e frequentava o Martinho do
Rossio com a companhia do José Figueiredo e com o Francisco Relógio ali por
perto desenhando aquelas figuras características, a tinta da china… o que me trás à lembrança as conversas sobre tudo o que cheirava a cultura e proibições…
Os Poemas de Manuel Bandeira circulavam por
baixo do balcão das boas livrarias de Lisboa - Portugal e Bertrand - e lembro
desde essa altura o poema “Vou-me embora pra Pasárgada” que eu achava uma
maravilha.
“Vou-me
embora pra Pasárgada”
“Vou-me
embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada
Vou-me
embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”
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