...num poema a que o autor
David Mourão Ferreira
deu o nome de
"Ternura"
.
.
Ternura
.
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
.
Olha a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
.
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
.
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
.
David Mourão Ferreira
in. "Infinito pessoal"
1963
Sem comentários:
Enviar um comentário