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20 março 2019

Somos todos russos...

… na opinião de 
Miguel Esteves Cardoso
na sua coluna "Ainda ontem"
nas páginas do "Público"
do dia 17 de Março.
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Miguel Esteves Cardoso
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Há 4000 anos, segundo um estudo científico sério, todos os homens da Península Ibérica, incluindo os portugueses da altura, descendiam de habitantes vindos da Rússia. Se incluirmos as mulheres, a percentagem de russos no sangue português é de 40%. Mas nos homens é 100%.
Trata-se de uma descoberta extraordinária. Os russos eram tão sedutores que as portuguesas desinteressaram-se totalmente da rapaziada portuguesa, efectivamente condenando-a à extinção.
Isto tudo aconteceu antes de os portugueses se cruzarem com todos os povos que estiveram por cá. Mas pouco interessam as percentagens que temos de judeus, romanos e mouros se
agora temos a certeza que a nossa pouca portugalidade se deve inteiramente às mulheres.
Todos os portugueses passam a ter de dizer que
são portugueses da parte da mãe. Eu que sou filho de mãe inglesa deixei de ser 50% português para ser só vagamente português.
Para mais somos todos muito mais russos que portugueses – o que explica muita coisa.
Como começar a fazer a psicanálise desta rejeição monumental? Como seríamos nós se
as portuguesas de antanho tivessem virado as costas aos bonitões russos, preferindo cumprir o dever patriótico de reproduzir-se com os trogloditas tugas?
Seríamos ainda mais matarruanos e grunhos? Ou eram
os nossos antepassados extintos mais nerds na altura, mais interessados em pinturas rupestres do que em caçar e apanhar castanhas do chão? Teríamos ainda mais poetas, arquitectos e inventores?

Nunca saberemos. Às vezes é melhor assim.

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in."Público"
17.03.2019

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