E só agora tive conhecimento
que tinha uma poetisa na família…
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(a prima Hermínia)
A Minha Cruz
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Eu sigo os caminhos desta vida,
Com aquela cruz, Senhor, que me impuseste!
É já longa a distancia percorrida
E grande o sofrimento que me deste.
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Sinto-me cansada e entristecida,
E nos meus lábios já não há sorrisos!
Sinto, na minha alma enternecida
Saudade, sonhos vagos e imprecisos.
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Ajudai-me, Senhor, a sofrer com alegria!
Avivai a minha fé, em cada dia,
P'ra que eu possa suportar este cansaço.
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E que, ao deixar estas vias peregrinas,
Possa beijar as Tuas mão Divinas
E descansar feliz, no teu regaço.
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Hermínia Augusta Romão
Oleiros, S. João de 1971.
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Ao lembrar-me mais uma vez das minhas primas de Oleiros,
não posso deixar de recordar a última vez que estive com
elas… com as restantes, que fui encontrar em Oleiros no dia
11 de Julho de 2000, numa rápida visita que lhes fiz.
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Num "apontamento" que escrevi naquele dia eu referi-me à D.Maria Luisa, esposa do Dr.Francisco Romão e cunhada das minhas primas de Oleiros.
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"Quando estava a sair do carro chegava também o Tó e a mulher... e, não sei porquê veio à minha memória a imagem da D.Maria Luisa Romão... Mas há uma diferença abissal entre a mulher do Tó e a mulher do primo Francisco!! Aquela vive no ano 2000... é toda prá-frentex porque todas as raparigas agora são prá-frentex... Bonitas, alegres, simpáticas, muito dadas... e estando-se nas tintas para as conveniências e para a moral dos outros!! Difícil... difícil... era mesmo ser-se tudo isto e viver-se em 1945!!!... E a Dona Maria Luisa era tudo isto e fazia tudo tão naturalmente que até nós, os miúdos de então, não achávamos nada mal as coisas que ela dizia ou fazia e que, eventualmente, poderiam pôr de rastos as normas éticas daquela família austera e muito conservadora!
A Dona Maria Luisa, a mãe da Belisa (miúda com 7 ou 8 anos que eu nunca mais vi desde então.), faleceu no Porto há pouco mais de um ano. Mas tenho na memória a imagem daquela bela mulher quando ela teria trinta e poucos anos! E ainda bem que a recordo assim... jovem, exuberante e divertida.
O mesmo não posso dizer das suas cunhadas, mulheres novas e bonitas... mulheres cheias de interesse... meninas prendadas, em 1945!... Aquilo que eu vi hoje quando entrei naquele casarão que encerra uma boa parte da minha memória não pode ser traduzido em emoções...
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Estive hoje na salinha de estar (onde, durante as férias, "éramos obrigados” a rezar o terço todas as noites, em grupo, com uma delas a “comandar”, de rosário nos dedos), com a Guiomar, a Hermínia e a Arminda. O Primo Francisco também lá estava.
Uma tristeza! A Guiomar, a mais nova e a mais bonita... a que, em 1974, foi Presidente da Câmara pelo CDS… está uma velhinha! Mais velhinha que as irmãs mais velhas... Achei-a agora muito parecida com a Mãe, a Prima Teresa...
A Hermínia está outra velhinha... mas continua igual à Hermínia de então! Franzina... a mesma voz... os mesmos olhos vivos. Os cabelos agora brancos e uma saudade dos tempos idos estampada em todas as suas palavras... Já nem lhe choraram os olhos quando pousaram nas fotografias antigas que lhes levei... Devem ter-se-lhe secado as lágrimas com tanto sofrimento passado nos últimos anos.
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Tento libertar-me "destas imagens" lembrando como eram na década de 40 em que todas elas eram um exemplo para a vila…
(…)
Dizem-me que a Arminda teve um qualquer AVC. Não parece nada! Para lá da idade que tem, quase noventa anos, foi a única que conversou comigo com mais “fio de conversa” e me contou um pouco daquela casa... tão alegre em tempos e agora tão soturna e tão triste... Recordámos, com ela a dar o mote, algumas patifarias que as primas nos faziam quando, no verão, passávamos por lá as férias... E foi ela a recordar, pela primeira vez que eu me lembre, da causa que levou ao arrefecimento das relações que todos tínhamos uns com os outros. Falou expressamente, sem papas na língua, mas com uma mágoa forte e uma ternura entrelaçadas, na imposição feita pelo tio cónego de não achar bem que dois rapazes frequentassem tão assiduamente aquela casa onde só havia raparigas... O “estupor” do velho padre!! Que viu maldade num convívio são de mulheres feitas, de mulheres sérias, de mulheres educadas e dois rapazolas o mais velho dos quais teria 16 anos!!
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Só à saída estive com a Celestina... Mais valia que a não tivesse visto! Lembrei-me da minha Mãe. Eram quase da mesma idade. A minha Mãe mais velha um ano... ou talvez dois... Mas que diferença! A minha Mãe viveu até ao fim!!... A Celestina já não vive há muitos anos…
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Despedi-me. Disseram coisas bonitas nas despedidas... Fiz força para conter as lágrimas... antes de sair daquela casa! Aquelas primas, se calhar, não mereciam este fim de vida...
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Depois, e sempre a pé, fui fazer uma romagem de saudade!
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