Eugénio de Andrade
a que o autor deu o nome de
Desde o chão.
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Eugénio de Andrade
(visto por Artur Bual)
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Desde o chão
A pele porosa do silêncio
agora que a noite sangra nos pulsos
traz-me o teu rumor de chuva branca.
O verão anda por aí, o cheiro
violento da beladona cega a terra.
Cega também, a boca procura
trabalhos de amor. Encontra apenas
o nó de sombra das palavras.
Palavras… Onde um só grito
bastaria, há a gordura
das palavras. Palavras…
quando apetecem claridades súbitas,
o sumo espreme, a ponta extrema
do teu corpo, arco, flecha,
corola de água aberta
ao fogo a prumo do meu corpo.
Ao chão ao cume das colinas,
eis as areias. Cala-te.
Deita-te. Debaixo dos meu flancos.
A terra toda em cima. Agora arde. Agora.
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Eugénio de Andrade
in. "Antologia breve"
Ed. Fundação Eugénio de Andrade - 1999
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