Ano da Inauguração
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Liceu Nacional de Setúbal, em Abril de 1960
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O ano lectivo de 1948-49 teve o seu início no primeiro dia de Outubro.
No Café Central, centro “cultural” da cidade, onde se aprendia a conhecer Setúbal e a envelhecer com Homens Velhos cheios de saber, comentava-se ainda à boca fechada, o último “escândalo” de verão que o jornal “Setubalense” ajudou a propalar... Em finais de Agosto, um título de primeira página “feriu” as sensibilidades dos leitores. “Nudismo integral nas Docas de Recreio e Comércio!” e mais adiante prosseguia: ”Todas as tardes se pratica o nudismo em grande escala...” (22 de Agosto de 1948)
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O enlace matrimonial do jovem Tenente Carvalho Fernandes foi também uma notícia deste final de Verão “Realizou-se em Fátima o enlace matrimonial de D.Maria Helena Duque de Santana, filha do sr. João José Duque de Santana, estimado empregado bancário e de D.Maria dos Anjos Neto Santana, com o sr.José Alves de Carvalho Fernandes, tenente de Infantaria 11, filho do sr. Joaquim Alves Fernandes, digno Chefe de Secção do Tribunal judicial de Setúbal e de D.Adelaide Carvalho Fernandes...” (11 de Agosto de 1948)
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Acabava de falecer uma Senhora de profundas raízes setubalenses e a notícia não deixou de ser comentada. Era assim que rezava a notícia vinda a público na imprensa local: “... realizou-se em Lisboa o funeral de D.Maria Beatriz Ahrens Teixeira de Morais Vaz, esposa de Rui Morais Vaz(...) professor da Escola Industrial Afonso Domingues.
...era natural de Setúbal e tinha 52 anos...
...era filha de D.Maria Inocência O’Neill Groot Pombo Ahrens Teixeira e mãe das senhoras D.Ana Ahrens Teixeira Caes Esteves, D.Berta Ahrens Teixeira Piçarra e D.Paulina Ahrens Teixeira Correia de Melo... (Setubalense, em 18 de Setembro de 1948)
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Em 2 de Outubro, o trissemanário informava que os “ilustres catedráticos espanhóis D.Juan Poiz-Monserrat, D.Juan Artells-Morell e D.Juan Llobet-Orts se preparam para visitar brevemente o museu oceanográfico de que é proprietário e director o ”nosso amigo” sr.Luis Gonzaga do Nascimento".
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Neste mesmo dia é noticiada a inauguração do ano lectivo, no Liceu de Setúbal. O último ano lectivo iniciado no edifício que está prestes a ser abandonado. “Presidiu à sessão solene realizada, S.Exª o sr.Governador Civil, secretariado pelos srs. Governador Militar e Vice-Presidente da Câmara...
Discursou o ilustre Reitor do Liceu, sr.Dr.António Manuel Gamito.
Depois foram distribuídos os prémios Bocage ao aluno António Augusto Macedo, do 6ºAno e o da “Liga dos Amigos do Liceu” à aluna Maria Luisa dos Santos Pinto.
Após este acto, o ilustre Chefe do Distrito fez a entrega de 35 diplomas a outros tantos alunos por terem tido média de 14 valores para cima.
Antes da sessão e após esta, o Orfeão do Liceu cantou os hinos da Mocidade e Nacional.
No final da solenidade o sr. Dr. Francisco Figueira noticiou a inauguração do novo Liceu dentro da época escolar de 1948/49.”
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No Café Central, centro “cultural” da cidade, onde se aprendia a conhecer Setúbal e a envelhecer com Homens Velhos cheios de saber, comentava-se ainda à boca fechada, o último “escândalo” de verão que o jornal “Setubalense” ajudou a propalar... Em finais de Agosto, um título de primeira página “feriu” as sensibilidades dos leitores. “Nudismo integral nas Docas de Recreio e Comércio!” e mais adiante prosseguia: ”Todas as tardes se pratica o nudismo em grande escala...” (22 de Agosto de 1948)
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O enlace matrimonial do jovem Tenente Carvalho Fernandes foi também uma notícia deste final de Verão “Realizou-se em Fátima o enlace matrimonial de D.Maria Helena Duque de Santana, filha do sr. João José Duque de Santana, estimado empregado bancário e de D.Maria dos Anjos Neto Santana, com o sr.José Alves de Carvalho Fernandes, tenente de Infantaria 11, filho do sr. Joaquim Alves Fernandes, digno Chefe de Secção do Tribunal judicial de Setúbal e de D.Adelaide Carvalho Fernandes...” (11 de Agosto de 1948)
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Acabava de falecer uma Senhora de profundas raízes setubalenses e a notícia não deixou de ser comentada. Era assim que rezava a notícia vinda a público na imprensa local: “... realizou-se em Lisboa o funeral de D.Maria Beatriz Ahrens Teixeira de Morais Vaz, esposa de Rui Morais Vaz(...) professor da Escola Industrial Afonso Domingues.
...era natural de Setúbal e tinha 52 anos...
...era filha de D.Maria Inocência O’Neill Groot Pombo Ahrens Teixeira e mãe das senhoras D.Ana Ahrens Teixeira Caes Esteves, D.Berta Ahrens Teixeira Piçarra e D.Paulina Ahrens Teixeira Correia de Melo... (Setubalense, em 18 de Setembro de 1948)
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Em 2 de Outubro, o trissemanário informava que os “ilustres catedráticos espanhóis D.Juan Poiz-Monserrat, D.Juan Artells-Morell e D.Juan Llobet-Orts se preparam para visitar brevemente o museu oceanográfico de que é proprietário e director o ”nosso amigo” sr.Luis Gonzaga do Nascimento".
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Neste mesmo dia é noticiada a inauguração do ano lectivo, no Liceu de Setúbal. O último ano lectivo iniciado no edifício que está prestes a ser abandonado. “Presidiu à sessão solene realizada, S.Exª o sr.Governador Civil, secretariado pelos srs. Governador Militar e Vice-Presidente da Câmara...
Discursou o ilustre Reitor do Liceu, sr.Dr.António Manuel Gamito.
Depois foram distribuídos os prémios Bocage ao aluno António Augusto Macedo, do 6ºAno e o da “Liga dos Amigos do Liceu” à aluna Maria Luisa dos Santos Pinto.
Após este acto, o ilustre Chefe do Distrito fez a entrega de 35 diplomas a outros tantos alunos por terem tido média de 14 valores para cima.
Antes da sessão e após esta, o Orfeão do Liceu cantou os hinos da Mocidade e Nacional.
No final da solenidade o sr. Dr. Francisco Figueira noticiou a inauguração do novo Liceu dentro da época escolar de 1948/49.”
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Neste arrancar do ano lectivo devemos fazer uma chamada de atenção para um facto importante na vida futura do Liceu da nossa cidade.
O corpo docente passa a ter uma nova figura o Dr. José de Mendonça e Costa, homem algarvio de Marmelete (Aljezur), coração ao pé da boca, a lágrima ao pé do olho... Um bom professor, um pedagogo notável, um Homem a quem muito devo como Mestre e como Amigo.
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E sob o título “Mendonça e Costa”, o jornal, na altura, assim dizia: ”Tivemos o prazer de cumprimentar no nosso jornal, o distinto professor sr. Mendonça e Costa, nomeado para fazer parte do Corpo Docente do Liceu Nacional de Setúbal.” (Setubalense, em 9 de Outubro de 1948.)
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Poucos dias depois, em 13 de Outubro, lia-se numa página de anúncios: “Anúncio - Casa. Precisa, higiénica e ampla, na cidade ou na periferia, o professor do Liceu Mendonça e Costa.”
Creio que o Dr. Mendonça e Costa acabou por decidir-se por uma casa “fora de portas”, na periferia... onde morou até se transferir para Lisboa em 1961. Na verdade acabou por escolher para sua residência, o nº39 da Avenida Portela, num rés do chão alto, onde actualmente existe uma das sedes do Partido Socialista... Homem de vistas largas pediu no anúncio uma “casa ampla”... para ele, para a esposa e para a Maria Teresa, sua filha única que então frequentava o 4ºano do Liceu!...
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A propósito das dimensões da cidade de Setúbal, por alturas da inauguração do novo Liceu, e pelo facto de, com certa graça, se considerar na altura a Avenida Manuel Maria Portela como periferia da cidade não devo deixar de assinalar um pequeno apontamento, dado à luz em 23 de Outubro daquele ano, num dos periódicos da cidade e que se referia à longa distância a que se situava o novo edifício...
Sob o título de “Escolas” rezava assim:
“ ...Já o Liceu, (...) fica longe, mas enfim quando existirem meios de transporte, a cousa passa, mas até lá , muito se há-de aborrecer a mocidade escolar nos dias de verdadeiro temporal que costuma fazer...” (23 de Outubro de 1948)
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Em 1 de Novembro, um título na secção de Desporto: “Porto 6 - Vitória 1. Apesar do resultado, os setubalenses não foram inferiores...” Domingos Roque, o autor desta notícia desportiva, devia estar muito inspirado...
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No mesmo dia somos informados que o Dr. Rogério Claro deverá substituir o sr.José Valido Santana no cargo de Sub-Delegado da Mocidade Portuguesa, em Setúbal, por aquele ter pedido a demissão.
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Por esta altura a imprensa não era livre... Digamos que tentava manter uma independência relativamente a certas notícias. Mas, por vezes, alguns jornalistas conseguiam dizer aquilo que lhes estava vedado transmitir...
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Uma notícia respigada em 10 de Novembro noticiava um título muito atrevido seguido de uma notícia, toda ela eivada de um segundo sentido político.
A Intendência Geral dos Abastecimentos era chefiada por um homem chamado Silva Pais cujo nome se confundia com o de um outro Silva Pais, homem tenebroso e temido neste país por ser um dos “crâneos” da polícia política, a Pide. Não recordo se eram familiares (irmãos?) ou se simplesmente teriam o mesmo nome de família.
O Setubalense dá a seguinte notícia com o título:
“As brigadas do sr. Silva Pais”
“Encontram-se em Setúbal, as brigadas do Capitão sr. Silva Pais. Dizem-nos que têm actuado em toda a cidade. Oficialmente não temos conhecimento de cousa alguma. E, nestes casos, não há nada como esperarmos notas oficiosas que ponham o público a par do que se passa e da possível verdade que possa surgir”
Ao ler esta dúbia notícia sou levado a interrogar-me se estas brigadas seriam as da Intendência Geral dos Abastecimentos... ou se ela não seria apenas uma “ temerosa alusão” às brigadas do sr. Silva Pais, da Pide. E dou comigo a pensar se não teria sido o nosso velho Amigo, sr. Guilherme Faria, a escrever com ousadia esta “arriscada” notícia...
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E logo a seguir uma outra! Três dias depois, o mesmo jornal, na página “A Cidade” e na coluna intitulada “A Abrir” noticiava o seguinte:
“Prendam o “sr. Corvo” que se introduziu em casa alheia e furtou uma carteira com dinheiro."
De igual modo penso que se trata de um título “forçado” pela redacção do jornal aproveitando o nome comum a duas pessoas... Por um lado um qualquer pequeno ratoneiro que tinho o nome de Corvo e por aí andava a fazer das suas, e por outro o chefe local da Pide, o “senhor” Corvo, homem de mão que dominava a polícia política local e cuja sede era ali para a rua dos Trabalhadores do Mar.
O corpo docente passa a ter uma nova figura o Dr. José de Mendonça e Costa, homem algarvio de Marmelete (Aljezur), coração ao pé da boca, a lágrima ao pé do olho... Um bom professor, um pedagogo notável, um Homem a quem muito devo como Mestre e como Amigo.
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E sob o título “Mendonça e Costa”, o jornal, na altura, assim dizia: ”Tivemos o prazer de cumprimentar no nosso jornal, o distinto professor sr. Mendonça e Costa, nomeado para fazer parte do Corpo Docente do Liceu Nacional de Setúbal.” (Setubalense, em 9 de Outubro de 1948.)
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Poucos dias depois, em 13 de Outubro, lia-se numa página de anúncios: “Anúncio - Casa. Precisa, higiénica e ampla, na cidade ou na periferia, o professor do Liceu Mendonça e Costa.”
Creio que o Dr. Mendonça e Costa acabou por decidir-se por uma casa “fora de portas”, na periferia... onde morou até se transferir para Lisboa em 1961. Na verdade acabou por escolher para sua residência, o nº39 da Avenida Portela, num rés do chão alto, onde actualmente existe uma das sedes do Partido Socialista... Homem de vistas largas pediu no anúncio uma “casa ampla”... para ele, para a esposa e para a Maria Teresa, sua filha única que então frequentava o 4ºano do Liceu!...
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A propósito das dimensões da cidade de Setúbal, por alturas da inauguração do novo Liceu, e pelo facto de, com certa graça, se considerar na altura a Avenida Manuel Maria Portela como periferia da cidade não devo deixar de assinalar um pequeno apontamento, dado à luz em 23 de Outubro daquele ano, num dos periódicos da cidade e que se referia à longa distância a que se situava o novo edifício...
Sob o título de “Escolas” rezava assim:
“ ...Já o Liceu, (...) fica longe, mas enfim quando existirem meios de transporte, a cousa passa, mas até lá , muito se há-de aborrecer a mocidade escolar nos dias de verdadeiro temporal que costuma fazer...” (23 de Outubro de 1948)
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Em 1 de Novembro, um título na secção de Desporto: “Porto 6 - Vitória 1. Apesar do resultado, os setubalenses não foram inferiores...” Domingos Roque, o autor desta notícia desportiva, devia estar muito inspirado...
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No mesmo dia somos informados que o Dr. Rogério Claro deverá substituir o sr.José Valido Santana no cargo de Sub-Delegado da Mocidade Portuguesa, em Setúbal, por aquele ter pedido a demissão.
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Por esta altura a imprensa não era livre... Digamos que tentava manter uma independência relativamente a certas notícias. Mas, por vezes, alguns jornalistas conseguiam dizer aquilo que lhes estava vedado transmitir...
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Uma notícia respigada em 10 de Novembro noticiava um título muito atrevido seguido de uma notícia, toda ela eivada de um segundo sentido político.
A Intendência Geral dos Abastecimentos era chefiada por um homem chamado Silva Pais cujo nome se confundia com o de um outro Silva Pais, homem tenebroso e temido neste país por ser um dos “crâneos” da polícia política, a Pide. Não recordo se eram familiares (irmãos?) ou se simplesmente teriam o mesmo nome de família.
O Setubalense dá a seguinte notícia com o título:
“As brigadas do sr. Silva Pais”
“Encontram-se em Setúbal, as brigadas do Capitão sr. Silva Pais. Dizem-nos que têm actuado em toda a cidade. Oficialmente não temos conhecimento de cousa alguma. E, nestes casos, não há nada como esperarmos notas oficiosas que ponham o público a par do que se passa e da possível verdade que possa surgir”
Ao ler esta dúbia notícia sou levado a interrogar-me se estas brigadas seriam as da Intendência Geral dos Abastecimentos... ou se ela não seria apenas uma “ temerosa alusão” às brigadas do sr. Silva Pais, da Pide. E dou comigo a pensar se não teria sido o nosso velho Amigo, sr. Guilherme Faria, a escrever com ousadia esta “arriscada” notícia...
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E logo a seguir uma outra! Três dias depois, o mesmo jornal, na página “A Cidade” e na coluna intitulada “A Abrir” noticiava o seguinte:
“Prendam o “sr. Corvo” que se introduziu em casa alheia e furtou uma carteira com dinheiro."
De igual modo penso que se trata de um título “forçado” pela redacção do jornal aproveitando o nome comum a duas pessoas... Por um lado um qualquer pequeno ratoneiro que tinho o nome de Corvo e por aí andava a fazer das suas, e por outro o chefe local da Pide, o “senhor” Corvo, homem de mão que dominava a polícia política local e cuja sede era ali para a rua dos Trabalhadores do Mar.
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