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19 dezembro 2015

Vamos mudar de assunto...

... num artigo de "Opinião"
escrito no "Público" de 18 de Dezembro
por Vasco Pulido Valente.
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Vasco Pulido Valente
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Não escrevi uma palavra sobre José Sócrates desde que o prenderam. Mas como ele resolveu agora ir à televisão explicar a sua história, um pequeno comentário não é abusivo. Segundo o eng. Sócrates, por razões que permanecem obscuras, o Ministério Público, um procurador desnorteado, um juiz de instrução particularmente acintoso, 40 e tal juízes de instâncias superiores, o jornal “Correio da Manhã” e a revista “Sábado” armaram uma conjura para o “cobrir de lama”. Por detrás destes malvados, de que toda a gente conhece a cara, está, como devia estar, a “direita”, um “poder oculto” que governa Portugal, com a insinuação e a mentira. Foi a “direita” que inventou a bancarrota de 2010, foi ela que inventou a “vida faustosa” com que Sócrates se consolava em Lisboa e Paris, foi ela que babou o inexplicável boato de que existiria uma certa discrepância entre os rendimentos e as despesas do martirizado Sócrates.

E a coisa não fica por aqui. Com a coragem que toda a gente lhe conhece, Sócrates também disse que a “questão Freeport” e uma semi-questão, ainda misteriosa, de “escutas”, tinham sido incitadas por Santana Lopes, na altura primeiro-ministro, e pelo próprio Presidente da República. Porquê? Porque queriam que o PS perdesse as legislativas de 4 de Outubro e não queriam que Sócrates se candidatasse a Belém. Quando se chegou a Novembro de 2014, o desespero dos “conspiradores” já roçava a histeria e, sem a menor hesitação, mandaram meter Sócrates nos calabouços de Évora e, sem qualquer justificação legal, lá o conservaram aferrolhado durante um ano, enquanto o “Correio da Manhã” por ordem da direita “oculta” acumulava calúnias sobre a sua cabeça.

A longa narração de Sócrates deixou um certo público comovido. É muito possível que ninguém ainda tenha avisado Sócrates que ele estava politicamente morto e que jamais tornaria a ser eleito para contínuo da mais remota freguesia de Portugal. Ele, coitado, continua a achar que é uma força: opina sobre o PS, critica a estratégia eleitoral de Costa e não esconde o seu desprezo pela direita. Mas, de quando em quando, num intervalo lúcido, manifesta a suspeita de que a sua “narrativa” (como ele diz) não parece muito convincente. E, nesses momentos, atribui a sua desgraça ao “ódio pessoal” de alguns serventes do Diabo ou a uma força que ele confessa não compreender. Nós compreendemos; e mais do que isso gostávamos muito de mudar de assunto.
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