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19 julho 2014

Uma "Má ideia"...

... é o título do artigo de Opinião que
Vasco Pulido Valente
nos deixa hoje na sua coluna de Sábado
do jornal "Público"
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Vasco Pulido Valente
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Num comício em que estavam, ao que parece, 600 membros da "inteligência" indígena, António Costa pometeu um ministério da Cultura, para quando fosse primeiro-ministro. O conúbio torpe entre a esquerda e o pequeno grupo de pessoa que nos pretendem aprimorar a alma é velho mas dura. A esquerda procura nele  a autoridade supostamente superior do "intelecto" e o "intelecto", quase sempre analfabeto em matéria política, procura algum dinheiro do Estado para ir vivendo.
Esta concorrência de interesses talvez traga a Costa uma certa boa vontade na televisão e nos jornais. Infelizmente assenta em dois postulados falsos. Primeiro, o de que o apoio do "cinema", do "teatro" e de uma ou outra espécie de "organizadores de eventos" ainda vale meia dúzia de votos de um público céptico e hostil. Segundo, o de que um ministério da Cultura serviria um propósito útil num governo português.
O ministário da Cultura trata no essencial de duas questões: do património cultural e de actividades que passam por "culturais". Se houvesse alguma lógica nestas coisas, as duas partes seriam  claramente separadas, para que se pudessem definir as funções de cada uma e, o que também interessa, para uma melhor limpeza de contas. A defesa do património, que vai da Biblioteca Nacional de Lisboa ao mais vago arquivo de uma câmara do interior, da promoção de um dicionário de Português decente e uma edição crítica dos clássicos da língua e que deve, por exemplo, incluir o salvamento do património construído e dos centros históricos das cidades, precisa de um razoável corpo técnico e de relações permanentes com a Secretaria do Turismo e com os municípios.
Quanto ao resto, as várias formas de "actividades culturais" põem à partida um problema de princípio. O ministro da Cultura é um funcionário político e, por isso mesmo, incompetente para tomar decisões de natureza estética. Mas quando decide nomear um júri para escolher os filmes que o Estado irá financiar,  ou protege um evento, que acha particularmente  interessante, acaba precisamente no papel "iluminado" de um "mecenas", pago pelo contribuinte. Ninguém se incomoda com esta aberração e as clientelas uivam à porta do ministério, quando não se tentam mutuamente liquidar. A solução para esta vergonha está em eleger de entre a "inteligência" activa um conselho geral, que distribua a espórtula das Finança na praça pública e permita que os próprios discutam os critérios que ele usou. Ressuscitar o Ministério da Cultura, como António Costa quer, seria ressuscitar o favoritismo e a arbitrariedade em que essa instituição sempre viveu".

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