"Há candidatos a professor que são rascas"
é o título do artigo de fundo do jornal "i",
hoje, sábado, 26 07 2014.
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Eduardo Oliveira e Silva
Director do jornal "i"
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Os excessos na contestação desprestigiam quem tem razão
e dão força a um ministro lamentável.
Nota prévia: este editorial é dedicado aos professores que contribuíram e contribuem, ao longo das suas carreiras, para formar crianças, adolescentes e jovens, transmitindo-lhes conhecimentos, noções de civismo e valores. Para eles vai a gratidão das gerações que ajudaram a formar, mantendo sempre uma postura de dignidade apesar das dificuldades e de, geralmente, serem mal pagos e desconsiderados pelos governos.
Os episódios de arruaça que marcaram as recentes provas a que certos professores tinham de se submeter constituíram-se como mais uma série de lamentáveis manifestações de falta de civismo por parte dos que as protagonizaram.
Ver e ouvir um grupo de pessoas que ambicionam vir a ser professores de carreira (a prova é precisamente para essa selecção) gritar todo o tipo de insultos, forçar entradas, deitar-se no chão e deixar-se arrastar para libertar a passagem a quem quis fazer provas, insultar colegas, polícias, directores, usando apitos, trombetas, cartazes com impropérios, remete-nos para o comportamento degradante do que Vicente Jorge Silva classificou de geração rasca quando os alunos se manifestaram contra as provas globais, mostrando o rabo frente à Assembleia da República, nos idos anos 90.
Dir-se-ia que alguns até podem ser os mesmos, com a diferença de estarem mais velhos, mais desgrenhados e mais radicais, além de manifestarem a mesma dificuldade em verbalizar racionalmente os seus motivos de contestação.
Posturas como as que se voltaram a ver pela segunda vez em poucos meses têm necessariamente de envergonhar aqueles professores que têm a noção ética de que, em qualquer circunstância, devem sempre guardar algum recato próprio das profissões de referência, como os polícias ou os juízes, por exemplo.
A gritaria e os exercícios de contestação, acompanhados de uma postura por parte de Mário Nogueira que faz lembrar Quim Barreiros em versão um pouco mais soft, desprestigiam não só os manifestantes, mas a classe em geral, grande parte da qual certamente não se revê em atitudes como as dos últimos dias ou a assumida no 10 de Junho.
Entenda-se bem: não está em causa a contestação à prova, embora ela seja formalmente legítima e apoiada pelos partidos do arco da governação. Poderá haver uma multitude de argumentos válidos para isso, começando por algumas das perguntas do exame, que são uma verdadeira imbecilidade.
É também verdade que é inaceitável e mesmo cobarde o comportamento de um ministro que manda marcar, sem assinar, a convocatória de uma prova com três dias úteis de antecedência, envolvendo gente que pode estar de férias ou a tratar do fundo de desemprego. Práticas dessas são condenáveis, merecem contestação e até justificariam a sua demissão, se houvesse seriedade de processos. Há, portanto, motivos de sobra para justificar um boicote, uma greve e todas as formas de luta civilizadas que se entenda, mas não se devem defender e legitimar comportamentos por parte de candidatos à profissão de professor que plasmam o pior que os alunos das escolas mais problemáticas protagonizam. Quem assim procede só pode perder prestígio e autoridade moral.
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Quem não concorda com isto?!!...
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