... num poema de António Gedeão
intitulado "Anjo incolor"
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António Gedeão
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Anjo incolor
Abri o livro na altura
em que o Anjo me sorria
e em vez de mel prometia
amor, descanso e ternura.
Falava como que a sós.
E as palavras flutuavam.
Eram pombas que poisavam
no fio da sua voz.
Escutei-o de olhos no chão
como se fosse o culpado,
como se o mundo enredado
estivesse na minha mão.
Abri o peito e mostrei-lhe
a areia, a pedra britada,
os planos da grande estrada
onde o Anjo se ajoelhe.
Ele fitou-me de frente,
de olhos frios como brasas.
E abrindo e fechando as asas
rasgou o céu, lentamente.
Sobre a folha imaculada
por longo tempo nevou.
Sentei-me à beira da estrada
mas o Anjo não voltou.
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António Gedeão
in. "Movimento perpétuo" . 1956
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