...de Anton Tchekhov.
Foi em 25 de Maio de 1962!... Foi um êxito cultural na nossa cidade.
Os finalistas do Liceu Nacional de Setúbal levaram à cena, no Cine Teatro Luisa Todi, uma peça de Tchekhov, devidamente ensaiados pela professora Dr.ª Ausenda de Carvalho Caetano Paulino Pereira.
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A Clara Correia acaba de entregar um ramo de flores à paciente ensaiadora DrªAusenda Pereira, enquanto o António Manuel Fráguas e o Custódio Santana agradeciam os imensos e demorados aplausos que uma plateia inteira lhes oferecia.
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Personagens:
Stepan Stepanovitch Tchubukov – proprietário rico
(papel desempenhado pelo António Manuel do Nascimento Fráguas)
(papel desempenhado pelo António Manuel do Nascimento Fráguas)
Ivan Vassilyevitch Lomov – vizinho de Tchubukov, proprietário rico, bem nutrido, hipocondríaco.
(papel desempenhado pelo Custódio Janeiro Santana)
(papel desempenhado pelo Custódio Janeiro Santana)
Natalya Stepanova – Filha de Tchubukov, vinte e cinco anos de idade.
(papel desempenhado pela Maria Clara Dias Costa Correia)
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Trata-se de uma peça esplêndida, cheia de humor que vale a pena reler de novo...
Deixo aqui transcritos, os primeiros momentos deste precioso apontamento teatral:
(papel desempenhado pela Maria Clara Dias Costa Correia)
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Deixo aqui transcritos, os primeiros momentos deste precioso apontamento teatral:
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Sala de estar em casa de Tchubukov – Tchubukov e Lomov. O último entra, envergando trajo de cerimónia e luvas brancas.
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Ivan Vassilyevitch Lomov e Stepan Stepanivitch Tchubukov
Lomov – Bem, obrigado. E o senhor?
Tchubukov – Vamos andando, graças às suas preces, meu amigo, e a tudo o mais. Faça favor de se sentar. Bem sabe que não se deve esquecer os vizinhos, meu caro. Mas para quê toda esta cerimónia? Fraque, luvas… e tudo o mais. Vai fazer alguma visita?
Lomov – Não, vim apenas vê-lo, respeitável Stepan Stepanovitch.
Tchubukov – Então para que foi preciso enfiar esse fraque? Como se fosse fazer visitas em dia de Ano Novo!
Lomov – O senhor bem vê, as coisas são como são. (agarra-lhe o braço). Venho, respeitável Stepan Stepanovitch, importuná-lo com um pedido. Já tive a honra de lhe pedir auxílio, mais de uma vez, e o senhor nunca deixou de… como direi? Desculpe-me, estou perturbado. Se me dá licença, vou beber um copo de água, respeitável Stepan Stepanovitch (bebe água).
Tchubukov – (à parte): Vem pedir dinheiro. Não lhe empresto nem um copeck. (para Lomov): Então de que se trata, minha jóia?
Lomov – O senhor bem vê, respeitável Stepan Stepanovitch… peço-lhe que me desculpe. Estou terrivelmente agitado, como pode ver. Em suma, ninguém me pode ajudar senão o senhor, embora, valha a verdade, eu não tenha feito nada que mereça essa ajuda… e… não tenha o direito de contar com o seu auxílio.
Tchubukov – Não esteja com rodeios! Vamos ao que importa! Então?
Lomov – Imediatamente, num momento. O facto é que eu venho pedir a mão de sua filha, Natalya Stepanovna.
Tchubukov – (alegremente): O senhor, meu caríssimo amigo! Ivan Vassilyevitch, repita o que disse. Parece-me que não ouvi bem…
Lomov – Tenho a honra de…
Stepan Stepanovitch (interrompendo-o): Meu caro, estou encantado, simplesmente encantado. (abraça-o e beija-o). Foi sempre o meu maior desejo. (verte uma lágrima). Sempre o estimei, meu anjo, como se fosse meu filho. Deus dê a ambos amor e bons conselhos, e tudo o mais. Sempre desejei isto. E porque estou eu aqui especado como um poste? Estou doido de alegria, completamente doido. Oh! Do íntimo do coração! Vou chamar Natacha.
Lomov – (comovido): Respeitável Stepan Stepanovitch, qual é a sua opinoão? Acha que posso ter esperança dela me aceitar?
Tchubukov – Um homem perfeito como o senhor e não o há-de aceitar. Tenho a certeza que vai ficar perdidinha de amores pelo senhor. Um momento (sai).
Lomov – Tenho frio, todo eu tremo como se estivesse num interrogatório. O principal é a gente decidir-se. (senta-se). Se pensamos muito no assunto, se hesitamos se o discutimos, se esperamos pelo nosso ideal ou pelo verdadeiro amor, nunca chegamos a casar. Brr! Tenho frio! Natalya Stepanovna é uma excelente dona de casa, tem boa figura, é instruída, que mais quero eu? Mas lá estou a sentir os ruídos na cabeça. Estou tão nervoso! (bebe um golo de água). E tenho de casar. Em primeiro lugar tenho trinta e cinco anos – Uma idade crítica. E, além disso, necessito de uma vida regular, muito bem ordenada… Sofro do coração, a cada passo tenho palpitações. Sou violento e irrito-me com toda a facilidade. Agora, por exemplo, os lábios tremem-me e a pálpebra esquerda pestaneja… Mas o que me causa maior mal estar é o sono.. Quando me deito, e estou quase a pregar olho, sinto uma pontada atroz na ilharga esquerda e punhaladas no ombro e na cabeça. Salto da cama como doido. Dou uma volta pelo quarto e depois deito-me outra vez.. Mas mal me deito ao comprido, lá volta outra vez a pontada atroz na ilharga. E acontece a mesma coisa mais de vinte vezes.
(entra Natalya).
Natalya – Ah! É o senhor! E o meu pai que me disse que tinha chegado um comprador para os géneros. Como passou, Ivan Vassilyevitch?
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No final apoteótico, o Fráguas Tchubukov, a Clara Natalya e o Custódio Lomov agradecem os muitos e mercidos aplausos que a plateia inteira, de pé, lhes ofereceu e que ouviram durante mais de três minutos (!!! Bravo!!!)...
O êxito desta representação de Anton Tchechov deve-se em boa parte à ensaiadora DrªAusenda Paulino Pereira, também ela imensamente felicitada pelo êxito dos seus alunos.
Dr.ª Ausenda de Carvalho Caetano Paulino Pereira
NB - Esta peça de Tchekhov foi à cena, em Setúbal, no Cine Teatro Luisa Todi, na noite de 25 de Maio de 1962, pelos Finalistas do Liceu Nacional de Setúbal, sob a orientação da Dr.ª Ausenda de Carvalho Caetano (Paulino Pereira).
No Teatro Experimental do Porto, as peças teatrais "A gota de mel", "Nau Catrineta" e "Um pedido de casamento" constituiram o tríptico estreado em 18 de Junho de 1953, no Teatro Sá da Bandeira, com um sucesso que levou a que o espectáculo fosse levando em digressão.
As origens do CCT/TEP remontam a uma noite de Novembro de 1950 em que, por convocatória oral de Manuel Breda Simões, um grupo de cidadãos interessados na teoria e prática teatral reúne-se nas instalações do Instituto Francês, no Porto
A companhia estreou o seu primeiro espectáculo em 1953, sob a direcção de António Pedro que permanece à frente do Teatro Experimental do Porto (TEP), de 1953 a 1961, transformando-o numa experiência sem precedentes no teatro português.
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Na época de 1957-58, António Pedro e o TEP levaram à cena, no Teatro Sá da Bandeira, a peça de Bernardo Santareno "A Promessa". Não consegui bilhete no dia da estreia, pois a lotação esgotou rapidamente, mas obtive o meu ingresso para o segundo dia da récita... E foi a minha sorte! Já não houve terceiro dia. A Pide já não deixou...
1 comentário:
Obrigada! Enviei ao meu pai , António Manuel do Nascimento Fráguas que ficou contentíssimo com esta relíquia! Cumprimentos! Ana Margarida Fráguas
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