Um artigo de opinião, no "Público" de hoje - 19 08 2012
Drª Ana Maria Morais
Professora Catedrática Jubilada
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
Debate: Formação de professores
Num artigo recente, o professor de Biologia B.J.Burris afirmou que o baixo desempenho dos alunos dos EUA em testes internacionais de ciência (TIES e PISA) se deve aos professores.
Explicando que o sistema educativo dos EUA possui métodos para melhorar a educação em ciências, afirma que nenhuma abordagem pode ser sustentada com sucesso sem professores brilhantes, bem preparados e apoiados. E continua, dizendo que as lições a retirar do sucesso dos alunos finlandeses naqueles testes são simples: recrutar de entre os melhores candidatos a professores ( a Finlândia aceita apenas cerca de um em cada dez candidatos) e prepará-los muito bem.
No nosso sistema de ensino, qualquer estudante pode candidatar-se a um curso superior de formação de professores, sem outro critério que não seja a classificação (frequentemente baixa) obtida no ensino secundário Contrariamente a países como a Finlândia, Portugal não reconhece o papel central dos professores na sociedade, demonstrado, como diz Burris, pelo respeito com que são tratados e pela elevada procura desta profissão por parte dos jovens, a despeito de salários, que se situam na média nacional.
Os formadores de professores Vêem-se perante turmas de alunos cuja composição não reflecte critérios de natureza académica e que, por essa razão, não são à partida grupos de excelência. São poucos os alunos academicamente brilhantes cujo interesse pela profissão de professor consegue ultrapassar a falta de reconhecimento social Esta é a base real com a qual os formadores de professores trabalham. Os formadores de professores são professores do ensino superior de diversas áreas, incluindo as ciências da educação, que não têm formas institucionais próprias e eficientes de formação no sentido da excelência. Os professores de educação só ocasionalmente são recrutados de entre os melhores professores do ensino básico e secundário. Estabelece-se um ciclo reprodutor no processo de selecção entre quem selecciona (os professores do ensino superior) e quem é seleccionado, conduzindo à não excelência dos futuros formadores de professores.
O discurso dominante em educação, a nível do ensino superior, está, na sua generalidade, implícita ou explicitamente, assente em perspectivas que se afirmam progressistas, mas que descuram o rigor e a exigência em nome de uma educação para todos, que se vai tornando, assim, cada vez mais, uma educação para poucos.
(…)
O baixo nível da formação de professores é um compósito de deficiências de dois tipos: os processos de selecção e a competência dos formadores de professores. A acção dos formadores situa-se num campo superior do aparelho pedagógico e tem um efeito reprodutor aos diversos níveis das práticas das escolas dos ensinos básicos e secundário. O problema é mais difícil de tratar do que qualquer visão simplista possa fazer crer.
Ana Maria Morais é uma voz a "clamar no deserto"... Mais uma voz!...
Diz verdades que todos conhecemos há muito tempo. Mas é um tema que merece ser meditado.
Diz verdades que todos conhecemos há muito tempo. Mas é um tema que merece ser meditado.
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