Um poema de Luís Vaz de Camões
INÊS DE CASTRO
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
Dos teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas...
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro. que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez rainha,
As espadas banhando e as brancas flores
Que ela dos olhos seus regados tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas chorados transformaram:
O nome lhe puseram, que ainda dura,
"Dos amores de Inês ", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!
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