...Manter a mediocridade actual
seria péssimo para a democracia.
( no "Jornal i" de hoje,
dia 8 de Dezembro...)
.
Eduardo Oliveira e Silva
.
"Por estes dias, em todos os
partidos, discute-se a lista de deputados. É peixeirada garantida, com mais ou
menos barulho. É, obviamente, um quebra-cabeças. Há que procurar equilibrar
competências específicas, poder político, representação de região, fidelidade
ao projeto, capacidade de comunicar e estudar, juntando a isso atributos
intelectuais, assiduidade, postura ética, para além da vontade de perseguir o
bem comum no respeito pela democracia. Como se vê, é muito difícil encontrar
gente com tamanhas qualidades. Por isso mesmo é que, normalmente e em todo o
lado, as coisas acabam por ser decididas em jeito de leilão entre os grupos de
pressão, ou seja, os caciques que controlam parte dos votos dos aparelhos. Claro que, no meio do
processo, entra sempre gente de qualidade, mas em pouca quantidade. Daí que,
hoje, a classe política seja vista pela população em geral como uma cambada
para não dizer uma corja (avaliação que é em boa parte extensiva a profissões
para-políticas como os jornalistas, comentadores, politólogos e muitas outras).
Essa visão tem dado azo a que “outras cambadas” cresçam nos extremos da direita
e da esquerda, reclamando-se de uma pureza quase cristalina. Fartos isto,
muitos portugueses habilitados desistem de ir votar. O retrato é dramático! Nos
últimos anos, a qualidade dos agentes políticos degradou-se e chegou mesmo ao
nível dos Cabritas, dos Sócrates, dos Robles e dos Branquinhos ou dos Pretos.
Eles “andem por aí”, como diz a nossa gente. A democracia exige melhores
deputados do que as nulidades que, em geral, se sentam em São Bento. Manter a
atual mediocridade seria devastador para a democracia. É pouco provável, mas
vamos acreditar que pior é impossível e que o naipe pode melhorar. Se houver
mais qualidade geral, há que fazer o esforço de participar na eleição, nem que
seja para não criar ainda mais problemas ao presidente Marcelo, que nunca
pensou ver-se nuns assados destes. E logo agora que era suposto vir uma
catrefada de dinheiro da bazuca (a propósito onde está, com quem e onde andam
as informações oficiais sobre isso?). Mais grave do que um impasse
pós-legislativas difícil de superar, seria tudo isso acontecer com uma
baixíssima participação eleitoral, por causa de um grupo de candidatos sem
credibilidade e com estórias tristes no currículo. Candidatos sem perfil são um
convite a ficar em casa. Ora, um abstencionista é um apoiante silencioso do
mais votado. Uma abstenção na ordem dos 40% ou mais coloca em causa, já não o
sistema, mas o próprio regime democrático que está a ser cada vez mais
contestado."
.
"Jornal i"
08.12.2021
Sem comentários:
Enviar um comentário