Tinha nessa altura uns 12 ou 13 anos e das coisas que mais gostava era ter uns feriaditos... para podermos dar uns toques na bola. O nosso Reitor, o célebre Dr. Joaquim Sérvulo Correia, não era da mesma opinião e "tinha a mania" de nos mandar para a biblioteca quando algum dos nossos professores faltava...
Pois foi numa dessas ocasiões que descobri, numa daquelas enormes estantes que forravam aquela sala um livro, um livro com sinais de ter sido já muito consultado...
Tratava-se de uma obra da autoria de "um tal" Raúl Proença que organizou, em oito volumes, um estudo que podemos considerar como um guia turístico, do Portugal de então...
Muitos anos mais tarde, creio que em Fevereiro de 1983, a Fundação Calouste Gulbenkian publicou todos os volumes deste Guia de Portugal, o primeiro dos quais com uma tiragem de 7000 exemplares cartonados, no qual se lê: "Texto integral que reproduz fielmente a 1ªedição publicada pela Biblioteca Nacional de Lisboa, em 1924."
Apressei-me a adquirir todos os volumes desta reedição à medida que iam sendo publicados.
E só ganhei com isso...
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A capa do primeiro volume
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Raúl Proença
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Raul Proença, foi um escritor, jornalista, bibliotecário e filósofo português,
membro do grupo que fundou a revista Seara Nova.
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Vem tudo isto a propósito das alterações que desde há muitos meses a CMS vem fazendo no Largo de Jesus.
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Transcrevo agora um pouco do que se escreve a respeito da nossa cidade e, em particular, sobre a Igreja de Jesus:
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" À dir. do Liceu o Campo do Bonfim, vasto terreno com perto de 20.000 m.q., ladeado de árvores e tendo ao centro, num recinto gradeado, um pequeno jardim com lago.
Ao fundo, a capela do Senhor do Bonfim, com azulejos apreciáveis. Na capela-mor, boa obra de talha. A O. correm os cruzeiros da via sacra instituída por Frei António das Chagas em 1728, e cuja última estação que fica por trás da igr., é constituída por um tríplice cruzeiro de mármore.
Passando pela rua de João Vaz, ao largo de Miguel Bombarda aí se vê o convento e igr. de Jesus, o mais notável de Setúbal em antiguidade e valor artístico.
O templo é, escreve Watson, o "melhor exemplo no país do gótico terciário modificado pela adição de certos pormenores manuelinos". "É uma das mais belas pequenas igrejas que eu ainda vi.", diz por seu lado Andersen. Infelizmente o terramoto de 1755 danificou-o muito, tendo perdido os pináculos e parapeitos que o coroavam. Na fachada lateral lindo portal em ogiva , infelizmente bastante deteriorado, em vista da qualidade da pedra, facilmente esboroável. Nele se admira uma dupla porta interior, de arcos policêntricos, tendo a meio um pilar sobrepujado do seu nicho. Avultam os colunelos, os pequenos capitéis, as mísulas, os baldaquinos, tudo lavrado no policrómico mármore da Arrábida. Aos lados, dois botaréus com nichos vazios de imagens, à dir. da portada o corpo da capela-mor, rasgada por uma alta e elegante janela manuelina, outrora revestida por belos vitrais (de 1539). É também digna de registo a torre que encima o templo".
Interior de abóbadas artesoadas e com seis curiosas colunas torsas. Capela-mor quadrada, mais alta do que as naves, de grande arco triunfal de ponto subido, e abóbadas de nervuras também torcidas. Os pilares e as janelas são em mármore da Arrábida. altar-mor do séc. XVII, e púlpito, da mesma época, de talha dourada.. No corpo da igr. um notável silhar de azulejos de moldura polícroma (séc. XVII), em 18 painéis, decorando a parte superior das paredes, corre uma série de 15 magníficos quadros quinhentistas, da escola portuguesa, talvez de Gregório Lopes. Na capela-mor outro silhar de azulejos formado por 7 painéis.
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Defronte da igr. um cruzeiro (mon. nac.) de mármore vermelho da Arrábida, mandado erigir por D. Jorge de Lencastre, duque de Coimbra e mestre de S. Tiago.
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